O ESG existe?
Como assim, o ESG não existe? É um dos temas mais comentados no momento quando se fala em estratégias empresariais! Pois é, de fato. Mas ele não existe. E nem estou concordando com a reação do Elon Musk pela retirada da sua Tesla do índice S&P 500 ESG, que aconteceu em maio de 2022, quando o empresário chegou a dizer que o ESG era uma farsa.
O ESG não é novo. Na verdade, sua origem, a sustentabilidade e a preocupação com isso é muito antiga e ganhou espaço na década de 1990 quando a Organização das Nações Unidas colocou o tema na agenda mundial. E o próprio termo ESG, que é como o mercado financeiro adotou chamar a sustentabilidade não é recente, como parece por toda a atenção que vem recebendo: surgiu em 2004 em uma publicação do Pacto Global, chamada Who Cares Wins.
Vamos aos conceitos: a sustentabilidade é um conceito tridimensional, e precisa assim ser entendido. Para que algo — projeto, empresa ou governo — seja sustentável, precisa sê-lo do ponto de vista econômico, social e ambiental. E o ESG, sigla em inglês que representa Environmental, Social and Governance, ou ASG, em bom português, ambiental, social e governança, refere-se também a três dimensões da atuação das organizações, especialmente as empresas, nas quais os investidores estão de olho. Dependendo do comportamento e dos resultados, as empresas podem ou não ser escolhidas e fazer jus aos investimentos dos fundos. E fazer parte das listas, claro.
E, com tudo isso, dizer que o ESG não existe? Calma, eu continuo explicando.
Uma pesquisa da Harris Poll para o Google Cloud ouviu cerca de 1.500 líderes em empresas com mais de 500 funcionários sobre seu comprometimento com sustentabilidade e os achados foram surpreendentes. Mesmo a maioria tendo respondido que dariam a suas empresas uma nota maior que a média no quesito sustentabilidade, 66% questionam a veracidade dos esforços das empresas nesse sentido e 58% admitem que elas praticam greenwashing.
Somente o dado de que quase 60% das empresas estão falando mais do que fazendo — para ser delicada na abordagem — já começa a explicar o título do artigo. Mas eu vou além, e continuo usando a mesma pesquisa para ilustrar: 36% dos respondentes disseram que as empresas não adotam medidas para acompanhar as ações de sustentabilidade e apenas 17% usam dados gerados para implementar estratégias voltadas para a área.
Tratando de resumir, temos pouquíssimas estratégias de sustentabilidade definidas a partir de poucos indicadores de acompanhamento em um cenário onde a maioria das ações são duvidosas. Começou a ficar mais claro?
Como profissional da área, não tenho dúvida de que sustentabilidade e as três novas letras do momento — ESG — são o futuro do mundo das empresas. Não porque elas estejam muito preocupadas com algo além da sua sobrevivência, — coisa que também não questiono — mas porque tenho certeza de que disso depende a sua sobrevivência. Os consumidores já estão bastante atentos e orientados para essas questões e, se o mercado não for sustentável no longo prazo, ele próprio não existirá.
E como fazer com que o ESG, de fato, se concretize? São necessárias estratégias, indicadores e medição. Sem esses elementos que façam com que a nova moda evolua de trend do momento para uma real estratégia de sobrevivência, não teremos elementos para sustentar o ESG.
E esse é seu grande desafio: sair do imaginário para a realidade; descer da estratosfera das empresas listadas em bolsa para o dia a dia dos nossos negócios; encontrar o ponto onde a expectativa de mercado encontra a realidade das ações que procuram, mesmo que de forma incipiente, evoluir na sustentabilidade de forma ampla, concreta e transparente.
Porque, sem evidências, teremos que concordar com Musk, mesmo que por motivos diferentes.
Este artigo foi escrito por Gabriela Cardozo Ferreira e publicado originalmente em Prensa.li.