O esporte realmente é para todos?
Com a possibilidade da realização das Olimpíadas de Tóquio no ano de 2021, algumas questões referentes a regras e participação de pessoas transgênero voltaram ser destaque em discussões científicas e sociais.
Transgênero é uma pessoa que nasceu com determinado sexo biológico, e não se identifica com o seu corpo. Um exemplo é o indivíduo que nasceu com genitália masculina, cresceu com as transformações causadas pelos hormônios masculinos, mas sua identificação é com o físico feminino.
Ainda muito incompreendida e cercada de preconceitos, a transexualidade até o ano de 2018 era considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) uma doença mental.
Na nova versão da Classificação Internacional de Doenças, a CID-11, a transexualidade foi reclassificada de “distúrbio de identidade de gênero” para “incongruência de gênero” e transferida para a categoria de saúde sexual.
Entretanto, essa medida só deverá entrar em vigor em 2022 e a nova classificação deve ser adotada conforme resolução de cada país. Mesmo com esse avanço, pode-se enxergar que a nova classificação ainda é cercada de questionamentos.
Quando falamos que a pessoa transsexual possui incongruência de gênero, estamos dizendo que a pessoa vive um conflito interno entre seu gênero físico e aquele com o qual se identifica. Porém, nem todas as pessoas passam por essa situação.
Inclusão de pessoas transgêneros no esporte: questão pública
O Comitê Olímpico Internacional (COI) afirmou que as regras para a participação de transexuais nas Olimpíadas de Tóquio serão iguais as que foram aplicadas nas Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro.
• Atletas transgêneros do feminino para o masculino, sem qualquer restrição.
• Atletas transgêneros do masculino para o feminino, precisam fazer a definição do gênero quatro anos antes da competição e manter o nível de testosterona por 12 meses em nível abaixo de 10 nmol/l.
Essa recomendação foi mantida até a nova definição de regras para as Olimpíadas de Tóquio. Entretanto, o Comitê adiou a decisão por indecisão dos cientistas, deixando então que as federações nacionais criem suas próprias políticas.
Porém, quando falamos que o esporte deveria ser para todos, vivemos uma linha tênue entre a ciência e o preconceito social para a classe transexual.
Em 2017, a atleta Tifanny Abreu ganhou o aval da Federação Internacional de Voleibol para atuar na Superliga Feminina Brasileira. Desde então, diversos projetos de lei contrários a decisão e inclusão desses atletas surgiram.
Não podemos fechar os olhos para esse tipo de situação. Esse preconceito afeta não somente a participação dos atletas em competições, mas aflige também a estrutura jurídica do movimento esportivo, leis e sobre proteção de direitos humanos.
A prática de esportes deve ser inclusiva, positiva e um meio de boas relações interpessoais. A mudança desse cenário só é possível com uma conscientização social sobre o tema.
O Estado deve investir em seminários, reuniões e palestras que discutam e que possam desmistificar as afirmações de “vantagens fisiológicas”. Levando em conta que cientistas trabalham para encontrar níveis e métricas que possam permitir a participação justa destes atletas.
Porém, até que se encontre novas afirmações sobre as questões fisiológicas, e definam novas regras, devemos repensar se os movimentos contra a participação desse grupo são movidos por debates científicos ou preconceito contra essas pessoas.
Somente em 2020, o Brasil teve 175 assassinatos de pessoas transexuais, segundo relatório anual da Associação Nacional de Travestis e Transexuais Transexuais do Brasil (ANTRA), se quebrarmos esses números, temos uma morte a cada 2 dias.
O debate sobre questões LGBTQIA+ é necessário em todos os âmbitos, visto que o Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo.
Quando essas pessoas encontram refúgio e apoio nos esportes, deve ser dever do Estado garantir a participação deste público com todas as regras, seguranças e livre de preconceitos.