O Êxodo Literário Brasileiro
Recentemente me deparei com o resultado de uma pesquisa realizada pelo Instituto Pró Livro em parceria com o Itaú Cultural, intitulada Retratos da Leitura no Brasil, que como o próprio nome já diz, traça um panorama sobre o hábito de leitura do brasileiro, que me deixou um tanto pensativo.
De acordo com a pesquisa, o Brasil perdeu cerca de 4,6 milhões de leitores entre 2015 e 2019. Além disso, o número de não leitores, isto é, pessoas acima de cinco anos que não leram nenhum livro, mesmo em parte, nos últimos 3 meses representaram 48% da população. Levando em consideração que a média de livros que os leitores brasileiros leem em um ano já não é grandes coisas (2,5), os dados são bem preocupantes.
Digo preocupante, porque é sabido que o hábito da leitura proporciona benefícios inestimáveis. Um leitor habitual possui a criatividade mais aguçada do que um não leitor, além de um vocabulário mais bem apurado, memória e concentração mais bem exercitadas e encadeamentos de ideias e habilidade de escrita mais bem desenvolvidos. Quem lê ainda pode se dar o luxo de ter menos estresse e um maior senso crítico em comparação ao não leitor.
Outro dado interessante desta pesquisa é que a internet é a principal “culpada” pelo êxodo literário no país. O problema aqui não é o meio em si, mas o uso dele, uma vez que a internet pode ser um excelente aliado na habituação da leitura. Todavia, ler é a ultima opção de alguém que acessa a internet. Entretenimento é, de longe, a primeira.
Engana-se, no entanto, quem supõe que em um livro não é possível encontrar entretenimento. Não é de hoje que o maior e mais bem lucrativo meio de entretenimento, o cinema, busca incessantemente sucessos da literatura, que alguns julgam ser de pouco entretenimento, para encantar aqueles que jamais se encantariam pelos livros.
A verdade é que em um mundo onde as pessoas querem tudo mastigado, pronto, sem que exija o mínimo esforço ou “perda” de tempo, a simples ideia de sentar e se desligar para ler um livro, torna-se por si algo cansativo e enfadonho, diferentemente de um filme onde a história não precisa ser pensada, raciocinada ou vivida. Nada contra o cinema, também sou amante dele, mas todo leitor quando perguntado se preferiu o livro ou o filme, aquele supera infinitamente às expectativas em detrimento deste.
Mas, há ainda outro dado bem interessante e curioso nesta pesquisa: o maior índice de queda foi observado entre as pessoas com ensino superior e os mais ricos. Um tanto contraditório para o projeto de lei que visa à taxação dos livros sob a prenuncia de que apenas pessoas destas classes adquirem livros. Se os únicos leitores do Brasil, segundo a desculpa do projeto, estão deixando cada vez mais de ler, aonde vamos parar?
Só para ter uma noção, o país que mais lê no mundo é a Índia. Por lá, as pessoas dedicam em média 10 horas e 42 minutos semanais para a leitura. O país ocupa este posto desde 2005, segundo o Índice de Cultura Mundial, da Market Research World. Os outros três países que ocupam o pódio também são asiáticos (Tailândia, China e Filipinas), sendo que o mais bem colocado da América Latina é a Venezuela (14°). O Brasil é apenas o 27° colocado, com menos da metade da média indiana.
No final, parece que a leitura está ligada tanto à cultura quanto ao gosto. Alguns, mesmo que sendo pouco influenciados, gostam de ler; outros, mesmo que com pouco gosto, têm a cultura de ler. O Brasil parece estar perdendo ambos.
REFERÊNCIAS
https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2020-09/brasil-perde-46-milhoes-de-leitores-em-quatro-anos, acesso em 26.06.2021.
QUAIS SÃO OS PAÍSES MAIS LEITORES DO MUNDO? Disponível em https://www.livrarianobel.com.br/index.php/quais-sao-os-paises-mais-leitores-do-mundo/ acesso em 26.03.2021.
Imagem de capa - Matteo Maretto via Unsplash
Este artigo foi escrito por Anderson Santos da Conceição e publicado originalmente em Prensa.li.