O fantástico mundo dos liberais
Nos últimos anos, o discurso neoliberal e suas propostas ganharam o mundo a partir dos países desenvolvidos e instituições supranacionais, como o FMI e o Banco Mundial. Porém, nunca foram executadas nos países desenvolvidos ações voltadas para abertura do mercado e uma redução drástica de protecionismo e redução dos investimentos sociais.
É importante destacar que a ascensão da extrema direita em muitos países possibilitou o reforço do discurso de "demonização" do Estado a partir do planejamento econômico e controle de empresas estatais e de capital misto. Mais uma vez, os economistas dos países desenvolvidos realizam discursos potentes contra a participação do Estado nos países subdesenvolvidos, porém não conseguem convencer os dirigentes dos países desenvolvidos a reduzir a participação do Estado.
As maiores economias do mundo, com grande desenvolvimento social, possuem uma participação efetiva do Estado a partir dos centros de pesquisas, indústrias do complexo bélica militar, empresas estatais, bancos de fomento, financiamento de pesquisas realizadas por empresas privadas, mas também o protecionismo realizado nos diferentes setores industriais e agropecuários.
Além dos exemplos citados acima, não podemos nos esquecer da qualidade e das garantias sociais, investimentos realizados a partir do Estado de Bem-Estar Social, com destaque para os países europeus. Mas, a partir da década de 1980, a ascensão dos ideais neoliberais passa a influenciar e tentar construir um Estado mínimo, mas também demonizar qualquer tentativa de desenvolvimento gestada a partir da intervenção estatal.
No Brasil, um grande discurso repetido exaustivamente por defensores do neoliberalismo é o tamanho da máquina pública, a partir do número de empregados e a participação de empresas públicas no tamanho do Produto Interno Bruto.
Ao observar a imagem acima, a ideia liberal mostra-se uma grande fantasia, pois o país apresenta um número muito menor de funcionários públicos em relação ao total da população quando comparado com os países que compõem a OCDE.
A imagem acima também demonstra que países com elevado grau de desenvolvimento social e econômico apresentam um número elevado de funcionários públicos com salários compatíveis com as suas atuações, fator que garante um bom poder de consumo, mas também o funcionamento de serviços públicos com elevado nível de qualidade para atender às demandas da população.
Ao observar a realidade nacional, muitos locais apresentam uma grande defasagem de funcionários em setores estratégicos de serviço público que garantam a qualidade de vida da população, como na saúde e educação. As maiores defasagens estão presentes no interior do país e nas áreas periféricas dos grandes centros urbanos.
Ademais, outras duas lendas repetidas exaustivamente no fantástico mundo dos liberais são: que os países desenvolvidos são os mais liberais no mundo, e usam os Estados Unidos como o grande exemplo a ser seguido, mas também que o mercado é capaz de criar tecnologias, atender às demandas da população a partir da competitividade entre as empresas e isso iria impedir a formação de oligopólios e monopólios.
Os países que apresentam as maiores taxas de crescimento além de um desenvolvimento tecnológico elevado são Estados que apresentam grande poder de intervenção na economia, a partir de ações de protecionismo da sua indústria nacional, além de investir em pacotes bilionários para o desenvolvimento tecnológico, como a China, Estados Unidos, Coreia do Sul e Alemanha. As maiores economias do mundo são países marcado por elevada intervenção estatal na economia, como pode ser observado na imagem abaixo:
Os investidores não realizam vultuosos investimentos em desenvolvimento tecnológico pois o risco é muito elevado e as grandes empresas preferem trabalhar com a segurança ao invés dos grandes riscos. Na verdade, os grandes grupos utilizam as inovações tecnológicas proporcionadas pelos centros de pesquisas estatais civis e militares.
Houve liberação maciça de investimento público para o desenvolvimento da vacina contra COVID-19, e só os Estados Unidos garantiu US$40 bilhões para os centros de pesquisas e iniciativa privada. Também podemos citar os investimentos no 5G (5ª geração da tecnologia celular para rede móvel e banda larga) realizado pelo governo chinês e, até mesmo, os oito bancos de fomento que a Alemanha possui para garantir o seu crescimento industrial e desenvolvimento tecnológico, sendo a maior economia da Europa.
O protecionismo é outra prática econômica desenvolvidas pelos países desenvolvidos para a defesa de suas empresas, com destaque para o setor primário, com a finalidade de garantir a maior fatia do mercado consumidor interno para os produtores e/ou empresas locais, além da promoção de emprego e renda para a sua população. A realização de medidas de proteção associada ao investimento em tecnologia promove a formação de grandes oligopólios concentrados nos países desenvolvidos, a maior fatia do mercado e comércio internacional.
Portanto, é inegável que o discurso dos neoliberais a partir dos países desenvolvidos, formação de oligopólios e inovações tecnológicas não encontra respaldo na realidade e pode ser classificado como idealista. Os países que desejam ter um grande desenvolvimento precisarão construir instituições fortes e com elevado poder de investimento, realizar medidas protecionistas em setores estratégicos, além de qualificar a sua mão de obra. Não há país desenvolvido sem a participação do Estado.
Este artigo foi escrito por Magno FERREIRA e publicado originalmente em Prensa.li.