O Fim do Genesis (parte I)
Genesis em 2007. (Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)
Em 26 de março de 2022, Phil Collins anunciou, no palco da O2 Arena em Londres, que aquele seria o último show da banda Genesis. Apesar de muitos rumores sobre isso já estarem circulando, a plateia ficou desapontada, mas logo aplaudiu de pé o que deve se tornar um momento histórico: o último show da banda que conquistou o mundo do rock progressivo e do pop em seus 54 anos de atividade.
Phil Collins fazendo show sentado em 2017 (Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)
O início de uma banda comum
É verdade que a formação que estava no palco só conservava dois dos integrantes originais, Mike Rutherford (guitarra e baixo) e Tony Banks (teclados). Estes se conheceram ainda no colégio em regime de internato, e fundaram com, o então cantor Peter Gabriel e o guitarrista Anthony Philips a primeira versão da banda. Depois de dois discos que passaram despercebidos do público, Form Genesis to Revelation (1968) e Trespass (1971), Phil Collins se juntou a banda como baterista e Steve Hackett como guitarrista solo.
A formação com Peter Gabriel como cantor, Mike Rutherford, Steve Hackett, Tony Banks e Phil Collins se tornou a formação clássica dos anos de rock progressivo. Com arranjos intricados que misturavam folk, jazz, música clássica e rock e com letras complexas com temas de mitologia, histórias fantásticas e com flertes com o horror, o Genesis ganhou notoriedade como uma banda séria, com uma música emocionante e, às vezes, difícil de digerir.
Os longos períodos que Peter Gabriel tinha que passar no palco esperando a banda acabar solos e partes instrumentais demoradas fizeram o cantor ter a ideia de usar fantasias para ilustrar os temas cantados. Com isso a banda explodiu de vez e marcou seu nome no novo cenário do Prog que estava conquistando o público com bandas como Yes, Jethro Tull, King Crimson e ELP.
Peter Gabriel e o Genesis executando “Watcher of The Skies” em 1974. Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução
Essa formação duraria até 1975, com Peter Gabriel anunciando sua saída depois da turnê do álbum The Lamb Lies Down on Broadway. Gabriel queria mais liberdade criativa e mais tempo com a família depois que sua primeira filha nasceu com problemas de saúde.
A escolha de um novo frontman para o Genesis
Um longo processo para escolha de um novo cantar começou enquanto a banda já preparava novas músicas para um novo álbum. Phil Collins que já fazia os back vocais e já havia cantado algumas das músicas de outros álbuns ficou encarregado de ensinar as melodias para os novos cantores.
Depois de alguns meses a banda não encontrou nenhum cantor que agradasse e Phil Collins gravou os vocais para o álbum. A ideia seria que depois de terminado outro round de testes seria feito, mas os resultados agradaram e ficou decidido, Phil Collins era o novo cantor.
O álbum A Trick of the Tail (1976) surpreendeu, foi o mais bem vendido da banda até então. Ainda guardando muitos elementos do prog (destaque para as músicas Los Endos e Dance on a Volcano), a abordagem mais direta do que o último álbum agradou fãs e a crítica. A banda começou a ver um público maior e o próximo álbum seguiu no mesmo sentido.
Aí veio a nova mudança na formação, o guitarrista Steve Hackett também decide deixar a banda. Em mais uma escolha ousada, ninguém foi trazido para substituir o guitarrista, Mike Rutherford, que tocava baixo mas também dividia as demandas da guitarra, assumiu com guitarrista solo no estúdio.
Mudança de pessoal e a conquista do mundo Pop
Em 1978 veio o novo álbum ...And then there were three (...E então restaram três), a falta de Hackett foi sentida, e o álbum teve canções mais curtas e menos complexas instrumentalmente. O destaque foi o single Follow You Follow Me que foi o primeiro grande hit da banda e lançou o trio para um novo patamar de sucesso.
Muitos fãs acusaram a banda de se vender e se tornar pop para ganhar dinheiro. Os músicos contestam e afirmam que foi uma evolução natural. De fato a banda nunca deixou de fazer algumas músicas mais longas e complexas nos seus discos, mas foram os singles que fizeram a banda ganhar o status de Gigante do Rock. Ajudou o fato do primeiro disco solo de Phil Collins bombar com a canção In The Air Tonigth, hit tanto nos Estados Unidos quanto na Europa.
Os incríveis shows do Genesis
Phil Collins liderando o Genesis em 1981 (Fonte: WikimediaCommons/Reprodução)
Essa formação da banda em trio (com os músicos Daryl Stuemer na guitarra e Chester Thompson na bateria durante os shows) lançou 6 álbuns entre 1978 e 1991. Quando o Genesis não estava em turnê, Phil Collins estava fazendo muito sucesso com sua carreira solo. Fato é que nos anos 80 era impossível ligar o rádio ou a MTV e não ouvir a voz de Phil Collins.
O próprio artista afirma que sua onipresença pode ter prejudicado sua carreira, fazendo com que muitas pessoas o considerassem chato e mainstream. Phil Collins foi uma das únicas três pessoas do mundo (junto com Paul McCartney e Michael Jackson a vender mais de 100 milhões de álbuns em carreira solo e outros 100 milhões em alguma banda).
Mas apesar da narrativa de que o Genesis dos anos 1980 era pop, nos shows nada poderia ser mais longe da verdade. A banda estava em uma forma incrível e algumas músicas mais complexas da sua Era Antiga viraram figuras carimbadas e muito melhores executadas do que na fase com Peter Gabriel. Foi uma tarefa incrível manter os shows com canções pop como Follow You Follow Me e Invisible Touch e conseguir equilibrar clássicos do prog como Supper’s Ready, In the Cage, Cinema Show e Firth of Fifth ao set.
Saída de Phil Collins
Em 1992, Phil Collins faz sua última grande turnê com o Genesis antes de anunciar sua saída em 1996. A banda até tentou continuar com o novo cantor Ray Wilson e o novo álbum Calling All Stations, mas com a dificuldade em manter o interesse decidiu parar as atividades.
Depois de longo hiato, a banda anuncia em 2007 uma turnê mundial com sua formação dos anos 1980. A turnê Turn It On Again foi um sucesso estrondoso e o último show em Roma, em Frente ao Coliseu, foi gratuito e teve um público estimado de 500 mil pessoas. Sem nenhum material novo da banda, todos acreditavam que aquele era o adeus do Genesis.
Mas a história teria novos capítulos…
Este artigo foi escrito por Thiago Elias e publicado originalmente em Prensa.li.