O Fim do Genesis (parte II)
Genesis em 2007. (Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)
Ressurgimento de Phil Collins depois de aposentadoria
….Mas a história teria novos capítulos…
Depois de uma série de problemas de saúde de Phil Collins, que envolveram uma cirurgia no pescoço que o fez perder alguns movimentos e um abcesso no pé gerado por uma diabetes, o cantor escreveu uma autobiografia. Phil já havia anunciado sua aposentadoria algumas vezes, mas toda a atenção causada pela publicação do livro fez com ele saísse novamente em turnê mundial em 2016.
Phil Collins fazendo show solo sentado em 2017 (Fonte:Wikimedia Commons/Reprodução)
Esta foi a primeira em que Phil apareceu com um visual mais frágil e fez o show sentado, entrando e saindo do palco lentamente e com ajuda de uma bengala. Novamente o sucesso foi grande e novos shows continuaram a ser marcados, a turnê se estendeu até 2019, quando Phil foi visto em Nova Iorque com os companheiros Mike e Tony do Genesis. O suficiente para os rumores de uma reunião se espalharem pelo mundo do rock.
Reunião do Genesis em 2021
E eles estavam corretos, a banda anunciou em 2020 uma nova turnê, a The Last Domino? Tour, mas a pandemia de Covid-19 atrapalhou os planos. Os shows foram adiados e aconteceram entre Setembro de 2021 e Março de 2022 em cidades selecionadas da Europa e dos Estados Unidos.
Durante a turnê novos problemas aconteceram quando um membro da banda testou positivo para o coronavírus, no fim a maioria dos compromissos foram remarcados e apenas dois shows foram cancelados. A turnê se mostrou um sucesso, várias cidades tiveram shows adicionados por grande procura de ingressos, a primeira leva desses acabou em menos de uma hora.
Quando Phil anunciou no último show da turnê que aquele seria o último show do Genesis, vários veículos fizeram curtas reportagens falando como o fim da banda foi triste e inesperado, muitas das críticas vem do fato de Phil estar sentado. Mas para quem acompanha o músico é fácil ver que mesmo após 6 anos cantando com problemas de saúde, Phil Collins ainda é capaz de emocionar e dominar estádios lotados.
Por isso vamos fazer uma análise mais pormenorizada de como foi a última turnê do Genesis (se Phil Collins cumprir mesmo sua promessa de aposentadoria desta vez).
Afinal, como foi a The Last Domino Tour?
Genesis durante a turnê The Last Domino (Fonte: Instagram @genesis_band/ Photos by: @electric_eye_photo @parisladefense_arena Reprodução)
A primeira coisa que chamou a atenção quando a banda lançou o preview de algumas músicas ensaiadas antes do primeiro show da turnê foi a voz fraca de Phil Collins. O músico que sempre foi conhecido por sua potência vocal e sua onipresença no palco, correndo entre a bateria e o microfone a frente da banda, parecia estar com a voz bem debilitada.
Em entrevistas ele reconheceu que não praticava e não cuidava da voz, os ensaios e os shows eram a maneira dele evoluir. Para dar conta de algumas partes mais difíceis, a banda empregou dois cantores de back vocal. Foi a primeira vez que o Genesis usou este subterfúgio, que sempre foi comum nos shows solos de Phil.
Falando em integrantes da banda, o maior destaque ficou para o filho de Phil Collins, Nicholas Collins, que assumiu a bateria no lugar do pai, desbancando Chester Thompson (que ficou quase por 40 anos como músico de apoio nos shows).
Com phil sem condições de tocar bateria, os shows não tiveram os duetos de bateria e as tradicionais corridas de Phil Collins para a bateria para tocar em partes instrumentais. E isto fez falta, apesar de Nicholas fazer um ótimo trabalho, ele não tem o nível técnico que Phil Collins tinha no seu auge, algumas das canções ficaram um pouco vazias sem o peso das duas baterias tradicionais no Genesis.
O outro músico da turnê, o guitarrista e baixista Daryl Stuermer, fez seu trabalho com a maestria que mostra desde que começou a acompanhar a banda em 1978.
Voz de Phil Collins melhorou ao longo da turnê
A maioria das músicas teve as tonalidades baixadas alguns tons ou semitons para condicionar a nova voz mais grave, rouca e pouco potente de Collins. Apesar da nova sonoridade, algumas foram destaques positivos, como a canção Mama, que é bem creepy e ficou ainda mais assustadora com a nova interpretação de Collins.
Ao longo dos shows da turnê a evolução vocal de Phil foi óbvia, os shows europeus que começaram em 2022 tiveram interpretações vocais muito melhores. Phil parece ter achado um jeito de abordar melhor as músicas, conseguindo impor sua assinatura novamente e não simplesmente sofrer para cantar.
Setlist
O set ficou muito mais pop do que o da turnê de 2007 e mesmo da de 1992. Músicas com longas sessões instrumentais que eram cânone dos shows, como In The Cage, Dance on a Volcano e Los Endos não apareceram. A banda fez um esforço de incluir a sessão instrumental de Cinema Show em conjunto com Fading Lights, que, apesar de ser simples, tem uma bonita letra sobre o virar de páginas, fechar o livro e concluir algumas histórias.
Neste trecho, Mike Rutherford aparece com sua icônica Double-Neck Guitar, uma guitarra com um braço de guitarra de doze cordas e um braço de baixo, que o permite mudar de instrumentos rapidamente. Por outro lado, não dá pra criticar a escolha da banda em não fazer trechos instrumentais muito longos uma vez que Collins, que é a estrela do show, não pode mais acompanhar na bateria.
Algumas músicas mais longas já da era trio foram o grande destaque positivo do show, como Home by the Sea e Domino (pt I e II) que deu nome à turnê. As duas são do álbum Genesis de 1983 e mostram que os teclados de Tony Banks e as guitarras Solo de Mike Rutherford (que nunca foi virtuoso mas faz um trabalho elegante e classudo) ainda estão afiadíssimos.
Última apresentação do Genesis. (Fonte: Instagram @genesis_band/ https://www.instagram.com/p/CbhxrIpIFeY/ Photos by:@dazzaward@jameslyden@tiliacell /Reprodução)
Fim de uma grande turnê com uma sensação agridoce
No geral a turnê foi um sucesso, somente os shows de 2021 foram acompanhados por mais de 134 mil pessoas e renderam quase 24 milhões de euros para a banda. Para quem acompanha e gosta da banda, ficou aquela sensação de que se a banda não tivesse separada a tanto tempo o set poderia ser mais complexo e interessante. Por outro lado, poder ver a formação junta novamente depois de todos os problemas de saúde e pessoais (que são um capítulo a parte da história) de Phil Collins é um privilégio.
Muito provavelmente Phil escolheu o palco para fazer o anúncio porque o empresário da banda (que é o mesmo da carreira solo de Phil) é famoso por marcar mais e mais shows fazendo turnês longuíssimas, que já não interessam ao cantor. A procura pelos shows certamente existe, afinal ao contrário da última turnê solo de Phil a banda não passou pela América do Sul, Oceania e Ásia.
No fim, a coisa triste mesmo não é ver que Phil Collins está com a saúde debilitada, mas saber que este pode ter sido o último capítulo desta banda, que foi incrível nas suas mais diversas encarnações.
Este artigo foi escrito por Thiago Elias e publicado originalmente em Prensa.li.