(Imagem: Fey Marin via Unsplash)
O Open Finance está redefinindo o relacionamento entre clientes e instituições financeiras, oferecendo produtos e serviços personalizados, além de mais autonomia ao cidadão. A partir do compartilhamento de dados, os brasileiros podem se beneficiar de oportunidades mais vantajosas, de acordo com as necessidades específicas de cada um.
Com a nova regulamentação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional e o Banco Central, cresce a preocupação com algumas questões cruciais, como a segurança de dados e políticas de comunicação com transparência.
Paralelo a isso, o avanço do Open Finance tem influenciado outros setores do mercado a acompanhar essa evolução. Afinal, quanto mais eficiente for o compartilhamento de dados, maior será o alcance de um público amplo para o sistema de seguradoras e insurtechs.
Para Bruno Loiola, co-founder da Pluggy, ainda existem passos significativos a serem dados. “O objetivo comum de todos os participantes do mercado deve ser a criação de uma Open Economy que funcione para todos, de modo a reinventar produtos e serviços que prezam pelo relacionamento com o cliente [...]”.
Outro ponto que deve ser levado em conta é o equilíbrio entre o compartilhamento de dados e a proteção do consumidor, tendo em vista que segurança digital é uma preocupação crescente atualmente.
Compartilhamento de dados x Segurança de dados
O modelo Open está apenas começando. As instituições que já aderiram ao formato colaboram com a implementação de iniciativas de dados abertos em setores essenciais para a vida do brasileiro, como é o caso do Open Health.
Ainda assim, algumas questões permanecem preocupantes.
Por exemplo, como as instituições financeiras vão analisar de forma eficiente e segura o número crescente de dados que estão sendo compartilhados? Especialmente, em um cenário como o do Brasil, em que o aumento de sequestros de dados registrado em 2021 foi de 92%, segundo levantamento realizado pela Avast.
Loiola explica que não se trata somente de ter acesso aos dados, mas sobre como são coletados, compartilhados e estruturados. “É apenas por meio desse processo que eles [os dados] podem refletir em produtos e serviços financeiros melhores, automatizados e dimensionados de acordo com as necessidades dos clientes.“.
Para isso, as instituições que querem, de fato, implementar o Open Finance precisam acrescentar análise de dados no processo de tomada de decisões. É necessário garantir ao cliente que as informações compartilhadas serão utilizadas de forma ética e responsável.
Nesse ponto, tecnologias como Inteligência Artificial podem facilitar os processos de automação para tratamento dos dados, e é algo que as instituições financeiras têm começado a aderir em seus negócios.
De acordo com um estudo da Deloitte com executivos norte-americanos na indústria financeira, 30% dos entrevistados trabalham para empresas que atingiram o nível mais alto de retornos financeiros de um número significativo de implementações de IA.
“Com a intermediação de uma API, essas instituições financeiras podem coletar os dados brutos, e através de IA, machine learning e categorização são derivados um conjunto de informações e insights para que as empresas possam aprimorar seus produtos e serviços e entregá-los mais sofisticados e eficazes.”, completa Loiola.
Um bom exemplo disso são empresas de crédito. Como resultado do uso de IA, essas empresas conseguem obter relatórios que facilitam análises financeiras completas do cliente ou da instituição. Com base nas informações coletadas, é possível dar acessibilidade para produtos financeiros específicos.
Inclusão financeira digital x Educação financeira
Ainda existe um grande desafio que o Open Finance precisa superar para ser, de fato, revolucionário e benéfico a todos: a inclusão financeira digital.
Segundo dados da PwC, 33,9 milhões de pessoas estão desconectadas e outras 86,6 milhões não conseguem se conectar todos os dias. E 21% da população brasileira não possui conta bancária ou a usam pouco, de acordo com o Instituto Locomotiva.
O Brasil está em 74° lugar no ranking mundial de educação financeira e, entre julho e setembro de 2021, somente 14% dos brasileiros sabiam o que era Open Banking.
Esses são dados expressivos e preocupantes que tornam ainda mais urgente falar sobre inclusão digital e educação financeira. “A falta de acesso aos serviços como crédito, compras e transações pode afetar a gestão financeira de uma pessoa, se estendendo a dificuldades para seu crescimento econômico.”, diz Loiola.
Apesar do Brasil ter encerrado 2021 com o maior crescimento anual em 11 anos (4,6%), ainda enfrentamos desafios. A variante Ômicron do novo Coronavirus, os juros altos associados à inflação e a recente guerra na Ucrânia geraram um cenário de incerteza na economia do país.
Como o Open Finance pode construir um sistema financeiro mais democrático e inovador, que promova inclusão e, como consequência, aqueça a frágil economia brasileira?
Se o poder de escolha sobre o compartilhamento (ou não) de dados está nas mãos do cidadão, é necessário alcançar o máximo possível de usuários para que o Open Finance possa atingir o potencial que promete, e oferecer os tão sonhados produtos e serviços personalizados.
Dessa forma, é necessário não só incluir, mas garantir que todo brasileiro receba as informações necessárias para que eles tomem as decisões financeiras da maneira correta, entendendo seu lugar na economia do país.
“Cabe a cada um de nós, provedores de soluções financeiras e infraestrutura tecnológica no Brasil, levar conhecimento a toda a população e garantir que o funcionamento do sistema aconteça conforme combinado, com segurança, privacidade e valor agregado perceptível para cada um dos clientes. Só assim o Open Finance poderá se sustentar a médio e longo prazo.”, finaliza Bruno Loiola.