O Gentleman Milton Nascimento
Milton Nascimento nasceu no Rio de Janeiro e foi adotado por Josino Campos e Lília Silva Campos.
A família mudou-se para Três Pontas, cidade localizada no Sul de Minas Gerais. Milton começou a gostar de música por influência da mãe, que havia estudado com o maestro Villa Lobos. E já aos 13 anos tornou-se crooner de um grupo musical de baile.
Depois mudou-se para Belo Horizonte, onde morou no mesmo prédio da família do cantor e compositor Lô Borges.
O livro “Os Sonhos não Envelhecem”, de autoria de Márcio Borges, irmão do Lô, se inicia justamente contando a chegada de Milton à Capital Mineira e tudo o que aconteceu dali para frente, como a formação do movimento Clube da Esquina, ao lado de nomes como Beto Guedes, Fernando Brant etc.
Na verdade, a trajetória de sucesso de Milton Nascimento e seu timbre de voz único é algo de conhecimento público há décadas. O que nem todos sabem é sobre o homem Milton Nascimento e sua relação com a cidade de Três Pontas.
Frequentador assíduo da cidade, não é difícil vê-lo por ali, com uma simplicidade que chega a impressionar as pessoas.
Sou testemunha disso. Tenho ligações familiares em Três Pontas e em uma certa ocasião ocorreu uma situação sui generis entre o Milton e o meu filho mais novo, Eduardo, o Dudu, que na época tinha cerca de seis anos de idade.
Sou muito unido aos meus filhos. Nosso relacionamento sempre foi forte e extremamente divertido. Estamos constantemente pregando peças entre nós mesmos. Eu dizia, por exemplo, que o Milton chamava-se Milton “Mais Cimento”, porque ele no início da carreira teria trabalhado como servente de um pedreiro, que sempre lhe dizia:
— Milton, mais cimento!!!
Um belo dia, andando pela praça da igreja matriz em Três Pontas, vimos o Milton sentado em um banco, bem tranquilo, lendo um livro. Meu filho Dudu não se fez de rogado. Chegou até ele e perguntou:
— “Seu Milton, é verdade que o Sr. foi servente de pedreiro e por isso seu nome é Milton Mais Cimento? Meu pai é que fala isso”.
Eu fiquei completamente sem ação. Não sabia se corria, se desmaiava, se me escondia atrás de uma moita...
Mas o gentleman Milton Nascimento, com toda a sua educação, primeiramente deu uma enorme gargalhada, acariciou a cabeça do meu filho e disse:
— Sim, é a mais pura verdade. Não conheço o seu pai, mas diz para ele que eu lhe mandei um grande abraço!!!
Sem saber o que fazer, dei meia volta mais do que sem graça e agradeci aos deuses pelo fato do Milton ser, além de tudo, um verdadeiro gentleman...
Este artigo foi escrito por Sandro Mendes e publicado originalmente em Prensa.li.