O grito do mar
Eu me lembro de uma bate-papo entre mim, você e o Tião, meu primo e seu marido, na Praça do Triângulo, em Elói Mendes. Isso ocorreu mais ou menos no fim dos anos 80. Não tínhamos a menor ideia de tudo que um dia poderia vir a acontecer...
É como eu costumo dizer a você: não duvide da vida, não duvide do acaso. Eles são capazes de virar o mundo do avesso, tanto para o bem quanto para o mal. E isso nunca tem hora marcada para acontecer.
Ouça só o barulho do mar. É a vida gritando para nós, dizendo que estamos aqui apenas por reles momentos e que portanto devemos fazer esses momentos de fato valerem a pena.
Eu não acredito em nada e ao mesmo tempo eu acredito em tudo. Ou melhor, eu não duvido de nada, porque a cada manhã surge um novo dia trazendo infinitas possibilidades. Essa é a montanha-russa do viver.
Sim, eu me lembro daquele bate-papo na Praça do Triângulo. E então décadas se passaram. O mundo girou muitas vezes. E hoje olho para o lado e te vejo com um sorriso no rosto a contemplar o infinito, nesse nosso reencontro tão improvável.
A vida de fato é um espetáculo surpreendente: dá tantas voltas e nos reserva tantas emoções, nem sempre boas, nem sempre más, mas que sempre são praticamente inimagináveis, porém possíveis para quem decide viver intensamente.
Ouça, ouça o grito do mar. É tão bom estar ao seu lado e ouvi-lo gritar. E eu sei exatamente o que ele está gritando. A cada onda que se arrebenta e se espalha na areia, o mar diz para nós: vivam, vivam hoje com toda a intensidade que puderem, pois amanhã poderá ser um dia diferente.
E nós dois sabemos disso, pois ambos fomos em momentos distintos grandes vítimas das cruéis garras do destino. No entanto, por algum motivo sobrevivemos, apesar de tudo e de alguns.
Sim, Laura, a vida é exatamente como o mar: bela, espetacular e ao mesmo tempo profunda e perigosa. E tem um gosto forte, assim como o gosto salgado da água do mar. E ela pertence aos aventureiros, aos conquistadores, assim como o próprio mar pertence a quem tem coragem.
Mas vale a pena arriscar. Vale a pena enfrentar as tempestades, as tormentas, e buscar uma ilha de felicidade, onde o tesouro é a paz, a tranquilidade e a consciência de ter dado o melhor de si.
Este artigo foi escrito por Sandro Mendes e publicado originalmente em Prensa.li.