O Legado Ressonante Que Não Abafaram
Eu amo filmes e séries desde pequeno. Uma das primeiras coisas, se não a principal, que me conquista em uma obra audiovisual é a trilha sonora. Me emocionou a ponto de me arrepiar todo? Garantiu o espaço como o meu favorito. O que já me fez gostar de filmes considerados ruins, por causa da música ou/e do compositor (Sim, Liga da Justiça do Joss Whedon, eu estou falando de você!).
Como a maioria, eu só conhecia os mais famosos e os meus favoritos eram aqueles que estavam mais presentes em filmes de super-heróis como John Williams e Danny Elfman. Até eu ter mais contato com movimentos sociais e notar o quão desigual é a maioria das áreas em relação à representatividade feminina, incluindo a de trilhas sonoras.
E qual não foi a minha surpresa ao descobrir que a trilha de um dos meus filmes favoritos, Coringa, foi composta por uma mulher? Após isso, resolvi ir atrás de outras compositoras e hoje trago aqui uma lista delas, para que vocês conheçam também.
A possível pioneira foi Germaine Tailleferre. Ela foi a única integrante feminina de um grupo chamado Os Seis, jovens compositores franceses que eram orientados por Jean Cocteau. Ela também foi aluna de Maurice Ravel.
Germaine Tailleferre/Imagem: Biblioteca de documentação Walter Labhart, Suiça.
A sua primeira composição para um filme foi para o documentário La Croisière Noire, sobre um carro que fez uma viagem através do continente africano.
Nos anos seguintes, surgiu a norte-americana Bebe Barron que, junto com o seu marido Louis, trabalhou no filme Planeta Proibido, de 1956, ficção científica conhecida por ser a primeira com trilha sonora totalmente eletrônica.
Não há apenas mulheres cis na lista. A primeira mulher trans compositora de trilhas sonoras que se tem conhecimento é Wendy Carlos. Ela foi uma das pioneiras no uso do sintetizador Moog que, durante o fim dos anos 60 e começo dos anos 70, era muito difícil de ser manuseado.
Wendy Carlos, uma das primeiras compositoras trans/Imagem: Divulgação.
Os seus primeiros trabalhos foram as trilhas de Laranja Mecânica, em 1972, e O Iluminado, em 1980, ambos de Stanley Kubrick. Outro foi Tron, da Disney, em 1982.
Outra mulher trans foi Angela Morley. Ela teve diversos trabalhos tanto para a TV quanto para o Cinema. Foi nomeada duas vezes ao Oscar. A primeira por O Pequeno Príncipe, em 1974, e a segunda por O Sapatinho e a Rosa, em 1976. Foi nomeada também ao Emmy, dez vezes, na qual ganhou duas.
Shirley Walker foi uma das compositoras que acompanhei o trabalho na minha infância antes mesmo de me interessar mais por trilha sonora. Ela é famosa por compor o segundo tema de abertura da animação Batman e o tema de abertura da animação de Superman, fora alguns episódios de Batman do Futuro, da série live action do Flash dos anos 90 e das duas citadas anteriormente.
Uma curiosidade sobre ela é que suas obras eram escritas totalmente à mão, além de ter conduzido e orquestrado todas as suas composições. Danny Elfman e Hans Zimmer a consideram como sua professora.
Ela trabalhou com eles, às vezes só conduzindo, às vezes orquestrando também. Entre esses trabalhos estão Batman, em 1989, de Elfman e A Revolta dos Brinquedos, em 1992, de Zimmer.
No Oscar, só tivemos três vencedoras. A primeira foi Rachel Portman, em 1997, por Emma. Seguida por Anne Dudley, em 1998, por Ou Tudo ou Nada e, vinte e dois anos depois, Hildur Guðnadóttir por Coringa.
Hildur Guðnadóttir recebendo Oscar por Melhor Trilha Sonora/Imagem: Divulgação.
Além destas, vale citar Pinar Toprak, que foi a primeira mulher a compor uma trilha sonora para um filme da Marvel, Capitã Marvel. E Natalie Holt que compôs para a série Loki, também da Marvel, e que está sendo bastante elogiada.
Pinar Toprak, um dos mais recentes nomes na categoria/Imagem: Divulgação.
Enfim, eu só mencionei algumas, mas existem outras. O meu intuito aqui foi o de apresentar alguns nomes que, apesar de não terem sido completamente apagados, não têm o reconhecimento merecido. Muitos têm Laranja Mecânica como filme favorito, mas raramente falam sobre Wendy Carlos, apesar de sua trilha ser emblemática.
Na torcida que mais mulheres cis e pessoas trans binárias e não binárias sejam reconhecidas e ocupem mais espaço na indústria do entretenimento.
Imagem de capa - Shirley Walker, famosa pelas trilhas das animações da DC Comics/Imagem: Divulgação.
Este artigo foi escrito por Fabio Farro de Castro e publicado originalmente em Prensa.li.