Existe um tipo de responsabilidade que não vem com contrato assinado nem com cargo oficial — mas que, mesmo assim, se instala. Aos poucos, quase sem perceber, você começa a olhar para o todo, a antecipar o que pode dar errado, a se preocupar com o impacto coletivo das decisões que, formalmente, não são suas. E então, quando vê, já está exercendo um papel que ninguém te deu, mas que, de alguma forma, caiu sobre você.
Se identificou? Esse tipo de comprometimento, embora admirável, também carrega custos. Porque quem assume essa posição informal de guardião — da entrega, da cultura, das relações, do bem-estar do time — quase sempre faz isso em silêncio. E carrega, junto com as tarefas, o peso emocional de manter tudo de pé. O problema é que esse esforço, por mais genuíno que seja, nem sempre é visto, compartilhado ou apreciado.
Muita gente acha que trabalhar bem é apenas cumprir o que foi pedido. Mas existe uma camada mais profunda de trabalho, que envolve responsabilidade com o impacto daquilo que se faz, com o clima que se cultiva, com o cuidado que se oferece. É essa a camada que nem todo mundo está disposto a acessar. (Porque dá mais trabalho e, muitas vezes, não rende crédito, né?)
Fico pensando sobre como, em equipes — especialmente nas que valorizam autonomia —, esse cuidado precisa ser mais distribuído. Não é justo que algumas pessoas acumulem o peso das decisões difíceis, da mediação dos conflitos, do zelo pela cultura... A rotina pode ser melhor que isso.
A gente fala muito sobre cargo, mas acho que também é importante se questionar: qual é o espaço que você ocupa, e o quanto você sustenta esse espaço com intenção e consciência?
Essa foi a Prensa People de hoje. Até semana que vem!