O porquê da inovação
A inovação é uma mudança que ninguém imaginava ou não conseguia realizar antes, da forma como se pensava e se produzia, que gera um grande benefício para um indivíduo ou uma sociedade – seja com alguma utilidade inteiramente nova ou uma forma diferente e positiva de alcançar um resultado útil já conhecido.
Muito se fala hoje nesse conceito e em cases de inovação. Graças a evolução tecnológica que permite cada vez mais, e de forma mais rápida, transformações a ritmos nunca realizados antes, percebemos mais mudanças no nosso dia a dia do que estudando notícias de décadas atrás e os próprios livros de história.
Contudo, diferentemente da noção de tecnologia e de inovação que se populariza hoje, o ser humano causa e experimenta inovações desde que o mundo é mundo, e só estamos aqui por causa delas.
Antes da era da robótica, dos aplicativos, produtos e serviços digitais surgindo aos montes semanalmente, o ser humano já inovava nas primeiras revoluções industriais, na criação da agricultura e até forma de coletar e até preparar alimentos na chamada “era das cavernas” – o período Paleolítico da pré-história.
Transformando pedras e galhos de árvore em ferramentas afiadas de caça e defesa contra predadores, o ser humano provocou inovações na alimentação, na segurança, e por consequência, na saúde, que aumentaram sua expectativa de vida e promoveram o desenvolvimento de núcleos sociais.
Por meio de uma das maiores inovações no portfólio da humanidade – o fogo – o ser humano pôde cozinhar os alimentos coletados, promovendo maior durabilidade deles, proteção, a possibilidade de estocar comida e, assim, não ficar preso a um só lugar para ter de caçá-la, liberando o Homem para migrações e dispersões geográficas da espécie ao redor do mundo.
As roupas para nos aquecer e proteger contra o frio, a comunicação oral e escrita, meios de armazenamento e troca de informações como a escrita em pedra e a invenção do papel, a invenção da roda para transporte, o próprio conceito de comunidades e sociedades unidas e organizadas, todas essas descobertas e criações ao longo dos séculos levaram a humanidade para caminhos mais diversos e avançados em relação ao ponto de partida, permitindo os objetos, conceitos e conhecimentos que temos hoje.
Somos biologicamente programados para ir atrás da melhoria contínua e da inovação em nossas comunidades e estilos de vida.
O que pode fazer parte da explicação do como e do porquê o ser humano possui a habilidade de buscar e promover constantes inovações é a própria composição de seu cérebro, que por sua vez, proporciona as habilidades de curiosidade e criatividade.
Segundo a Teoria do Cérebro Trino, elaborada pelo neurocientista Paul MacLean, o cérebro humano, dentre dezenas de peças interligadas e composições, possui 3 grandes divisões que supostamente explicam seu funcionamento no controle subconsciente de outros órgãos do corpo e da nossa forma de pensar.
Possuímos, nessas 3 partes do cérebro, o chamado de cérebro reptiliano que forma os nossos instintos mais primitivos de reflexos, busca pela auto segurança, sobrevivência e decisões de luta ou fuga, juntamente da amígdala e de outros mecanismos.
Nessa composição, ainda temos o cérebro mamífero, responsável principalmente pela forma como experimentamos emoções e sentimentos, e o neocórtex, conhecido como o cérebro racional, sendo responsável, majoritariamente, por nosso raciocínio lógico, formas de comunicação e conexão direta com as percepções e sentidos do corpo como visão e audição.
Com a junção dessas funcionalidades, misturando lógica e razão, emoção variável e instinto de sobrevivência, surge o desenvolvimento inato da eterna curiosidade humana por buscar e criar soluções que resolvam problemas experimentados em cada uma dessas categorias.
Estamos em um eterno ciclo de melhoria contínua descobrindo problemas e criando soluções. Por sua vez, com essas soluções, criamos os cenários futuros que serão considerados os novos problemas e demandarão novas soluções posteriores constantemente.
Saímos do lento, vago e agressivo transporte movido a animais para os meios de transporte movidos a carvão e depois a petróleo, hoje muito poluentes. Deixamos de estar alienados e desconectados do mundo antes da internet, perdendo informações úteis para a descoberta de medicamentos e o salvamento de vidas, para hoje ter essa conexão e ficarmos sobrecarregados com o volume de informações trocada por meio dela – a chamada “infoxicação”.
Não estamos conscientemente gerando tantas situações ruins para o planeta e para nós mesmos, mas o status quo que hoje buscamos intensamente mudar já foi uma inovação positiva aceita tempos antes.
Todo padrão estabelecido é uma tendência que aceitamos e pelas quais nos acostumamos por um tempo. Ele prevalece até o momento que passamos a reativar nossa curiosidade para pensar em como modificá-lo e melhorá-lo com novas tendências, e assim consecutivamente.
Como seres humanos, temos o histórico do instinto de caçador-coletor, procurando abundância e o maior incremento de recursos, temendo a escassez dele ou sonhando sempre com algo a mais.
Se criarmos formas incríveis e inovadoras de resolver problemas de mobilidade de maneira mais rápida, depois de algum tempo, buscaremos criar formas mais rápidas ainda. Se criarmos um modelo de carro que emana menos poluentes, logo na sequência buscaremos criar carros menos poluentes ainda ou até produtos que substituam o carro de vez.
Para qualquer padrão utilizado por muito tempo, as peças do nosso cérebro se instigam para realizar mudanças a fim de fugir dos pontos negativos que começamos a perceber nesse padrão ou mesmo mudanças para lutar contra eles almejando mais benefícios.
Não é necessariamente uma “insatisfação” do ser humano, mas sim nossa própria forma de pensar e agir com curiosidade e busca pela melhoria contínua, fazendo surgir cada vez mais inovações com base no pensamento natural de “como seria se...?”.
Esse é o pensamento que trouxe todos os fatores positivos e negativos que nos permitem viver e que experimentamos hoje, e é ele que continuará a resolver, magistralmente, os novos e constantes problemas descobertos e criados pelas mudanças da sociedade.
Este artigo foi escrito por Gabriel Tessarini e publicado originalmente em Prensa.li.