O preço da fome
No último ano, o aumento de pessoas em situação de insegurança alimentar é visível. Na verdade, escancarado. Uma série de fatores podem auxiliar a entender esse contexto: a pandemia que consequentemente aumentou o número de pessoas desempregadas, assim impactando também no aumento da pobreza e da fome.
Alguns dados ajudam a entender o contexto social brasileiro. O Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional), afirma que atualmente 19 milhões de pessoas estão em situação de insegurança alimentar - ou seja, com dificuldade de fazer as refeições necessárias e/ou sem nada para comer em suas casas - enquanto em 2018 o número era de 10 milhões, quase 37% da população durante aquele período, são os dados divulgados pela . Já o IBGE diz que a maioria das pessoas atingidas por essa situação são residências com crianças de até 4 anos, mulheres sendo maioria negras, vindos de zona rural e de maioria da região norte e nordeste. Além disso, a situação é observável, basta irmos ao mercado e não só verificar o preço dos alimentos, mas o que vem sendo vendido: pé de galinha, carcaça de peixe, osso e demais exemplos de coisas que eram descartadas até dois anos atrás. Poucos anos antes, em 2014, a ONU inseriu o país no mapa da fome mundial, lista que elenca os países em vulnerabilidade quando se fala em insegurança alimentar.
A pandemia sem dúvidas agravou a situação, porém é preciso afirmar que o Covid-19 foi o estopim do que já se apresentava. Desde 2018 foi observado o aumento gradativo da fome no Brasil, um dos motivos apontados por cientistas sociais e pesquisadores tem sido o esvaziamento de políticas públicas voltadas à erradicação da pobreza no Brasil. É praticamente impossível nos desvincular do político ao falar de fome, já que a definição conceitual da palavra é a ciência de organizar o que é público e coletivo, embora o senso comum alie ao partidarismo.
Discutir política é reivindicar o direito básico à vida, - que inclusive é o principal artigo da nossa Constituição - que não é papo de um lado ou outro. É o seu direito de comprar comida com dignidade, sem se espantar com o preço. A quarentena nos mostrou que a falta de aplicação de medidas básicas para garantir a alimentação da maior parte da população, vulnerável social e economicamente, tem resultados e nós estamos vivenciando.
Fontes:
O Brasil que come, alimenta o que tem fome
Afinal, o Brasil está ou não no Mapa da Fome da ONU?
Consumo de pé de galinha em alta e outros 5 dados que revelam retrato da fome no Brasil
Brasil vive crescimento em “K”: ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres
Não é só efeito da pandemia: por que 19 milhões de brasileiros passam fome
Imagem: Caroline Borges/G1
Este artigo foi escrito por Amanda Casado e publicado originalmente em Prensa.li.