O que aprendi morando um mês fora do país
Essa primeira publicação par’A Estação 973, é uma análise, mais de um ano depois, sobre como a experiência de viver em outro país durante um mês me afetou. O que aprendi convivendo com pessoas de outros lugares do mundo.
Desde a escolha da cidade, até a entrada no hotel, a expectativa era alta. O que esperar da experiência de morar fora do país? De ter que tomar as decisões em outro idioma, comer em outro idioma, tomar um táxi em outro idioma.
A ansiedade já gritava desde o momento em que pousamos em São Francisco (fui com minha irmã). O táxi tomou um caminho estranho ,— como todos os outros caminhos seriam, já que era nossa primeira vez sozinhos fora do país — e quando o motorista disse que o endereço do hotel não existia, fiquei apreensivo. No fim, deu tudo certo, e fomos parar no lugar certo.
(Printscreen do Hotel no Google Maps)
Entramos no hotel, outro obstáculo: o gerente, que nos atendia, era asiático — embora não houvesse certeza de qual país, eu chuto japão, pela fisionomia — e tinha um inglês bem difícil de ser compreendido. O outro rapaz, sérvio, foi bem melhor nesse quesito, e até mais gentil (fizemos amizade e ele me passou seu e-mail para manter contato).
Os primeiros dias foram mais pra aprender a como se virar por lá. Tudo em San Francisco é relativamente caro, principalmente a alimentação, isso é, se fizer o câmbio das moedas. Para quem já mora lá, e ganha em dólar mesmo, não fica tão caro. Enfim, os primeiros dias, compramos de um mercadinho perto do hotel, e jantamos cereal, refrigerante e banana. Depois pegamos o jeito da coisa e descobrimos lugares baratos para comprar alimento e outros itens necessários (higiene pessoal).
As nacionalidades
Bom, nessas quatro semanas lá, confesso que aprendi bastante. Havia estudantes de literalmente todos os continentes, tantos países diferentes que não sei exatamente todos. Mas haviam mexicanos, portugueses, franceses, húngaros, tchecos, alemães, turcos, russos… enfim, de tudo.
(Eu, de beca laranja, e os franceses de Strassbourg)
Foram quatro semanas bem interessantes, aprendendo sobre as culturas beeeem diferentes de cada país, a visão que os gringos tem do Brasil e do povo brasileiro, — que chegou a ser bem positiva, por incrível que pareça — o jeito como cada um lida com as outras culturas.
Do meu ponto de vista, a nacionalidade mais difícil de lidar foram os alemães. Com exceção de um colega de classe também alemão, os outros me pareciam um pouco mais fechados socialmente. Os franceses, em compensação, era o grupo que mais se misturava com o restante do pessoal, participando bastante das famosas festas no Tehama (saudades). Alguns países tinham um ou dois representantes, mas que valiam por um grupo todo, como o Tony da Republica Tcheca e a garota da Húngria também.
(Beco de Chinatown/Matheus Thomaz Rossi)
O Tenderloin
Quando ficamos lá, eu e minha irmã, moramos no Tenderloin, considerado o pior bairro da cidade, com altos índices de criminalidade, tráfico e uso de drogas ilícitas acontecendo a céu aberto nas ruas dos 50 blocos de edificações. No bairro é possível encontrar nas ruas pessoas em condições miseráveis, tráfico de drogas, lojas de bebidas, clubes de strip e alto índice de trabalho sexual na região, o que acarreta num alto índice de IST na região.
O bairro, entretanto, é considerado a Jerusalém dos artistas da região, contando com vários painéis, becos e corredores cheios de grafites, galerias de arte, e muitos teatros como o Geary, o Phoenix Theatre e o Golden Gate. Artistas como Johanna Poeting, Bansky e Barry McGee possuem ou possuíram murais na região.
O Tenderloin também é conhecido por ser uma comunidade que apoia a diversidade de gênero. Existe uma população bem densa de transgêneros no bairro e é possível identificar a bandeira do orgulho trans pintada em alguns postes, por exemplo.
Uma cidade cosmopolita
Segundo o dicionário, uma cidade cosmopolita é um grande centro urbano que abriga uma ampla diversidade de culturas. Em San Francisco, é possível notar essa diversidade nos bairros, em suas arquiteturas, alimentação, grupos étnicos, costumes e tradições de alguns grupos em cada bairro.
Uma coisa que aprendi bastante nesse um mês, foi essa questão da diversidade. Haviam bairros latinos, como o Mission — o primeiro bairro, e onde começou a cidade — , bairros asiáticos como Chinatown e Japantown, que expressavam suas culturas através de construções, templos e centros comerciais. Haviam bairros “culturais”, como o bairro Castro, da comunidade LGBT e o Haight-Ashbury, da comunidade hippie, que inclusive no auge dessa contracultura, foi uma das principais comunidades.
Existem também muitos africanos e asiáticos (descendentes e nativos), vivendo lá, trabalhando e estudando. E todos os grupos, sociais, culturais ou étnicos, vivem como uma única sociedade em harmonia.
Era interessante acordar de manhã no Tenderloin e ver a diferença com outros bairros, como o Financial, o Chinatown, o Mission. Ver como cada bairro tem suas peculiaridades.
(Um dos restaurantes próximos aos píeres/Matheus Thomaz Rossi)
Califórnia Dream
A cidade de San Francisco é um claro exemplo do estilo de vida californiano. Com as praias, o pôr do sol, a galera praticando atividade física mesmo nas montanhas que eram as vias da cidade. Os píeres, todos propositalmente construídos como pontos turísticos, como o tradicional Pier 39 com suas lojinhas, os restaurantes temáticos por toda a orla — todos eles fazendo parte da experiência — , o passeio de bike até a cidade vizinha, Sausalito, com todos os contatos com a natureza, com a famosa Golden Gate Bridge
Acredito que o maior aprendizado durante esse tempo, foi sobre a diversidade das pessoas e suas culturas, a tolerância e o respeito. E claro, a aproveitar bem mais o contato com a natureza.
(Foto tirada do Pôr-do-Sol em Aquatic Cave/Matheus Thomaz Rossi)
Se gostou das fotos, segue o instagram pra mais: http://instagram.com/_matheusrossi_
Imagem de capa: Foto tirada num dos primeiros dias de viagem em São Francisco/Matheus Thomaz Rossi
Publicado originalmente aqui.
Este artigo foi escrito por Matheus Thomaz Rossi e publicado originalmente em Prensa.li.