O que está por trás do endividamento recorde de brasileiros na pandemia?
Inflação e desemprego atingem mais mulheres com ensino médio incompleto
Pagar contas, se alimentar e sobreviver em tempos de inflação alta e desemprego continuam sendo os maiores desafios do brasileiro na pandemia. Em maioria, mulheres, com ensino médio incompleto, entre 25 e 51 anos, fazem parte do grupo com mais contas atrasadas. E o maior vilão ainda é o cartão de crédito.
Os dados, que fazem parte da pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, da Confederação Nacional do Comércio, de Bens, Serviços e Turismo (CNC), são mais um retrato do cenário financeiro enfrentado pela população.
A seguir, confira um retrato do brasileiro endividado.
Brasileiro nunca esteve tão endividado
Registrado em Julho, este é o maior endividamento em 12 anos, de acordo com a série histórica da pesquisa feita pela CNC. E essa dificuldade atinge 78% das famílias brasileiras.
A cara do endividamento é conhecida - a mesma há tempos! Ainda são os que ganham menos, sempre o público mais afetado pela alta dos preços dos alimentos.
A inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA),que neste ano já está acumulada em 10,07%, corrói os salários e a renda mensal e derruba o poder aquisitivo da população.
Outro fator conhecido, que influencia esse Brasil de desigualdades, ainda é a baixa escolaridade. O complicador é que muitos brasileiros não concluíram o ensino médio e são estes os que sentem as dificuldades mais de perto. A maioria precisou atrasar as contas ou dívidas, em julho. Fazem parte de um universo de 33% da pesquisa.
“O mercado de trabalho está absorvendo trabalhadores com menor nível de escolaridade mas a inflação elevada achata os rendimentos e dificulta a organização do orçamento familiar”, reforça a pesquisa CNC.
O desemprego, apesar de ter recuado do primeiro para o segundo trimestre deste ano, de 11% para 9,3%, contribuiu para o maior endividamento dessas famílias. São mais de 10 milhões de brasileiros em busca de uma vaga no mercado de trabalho.
Outros dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), de julho deste ano, também explicam mais sobre o brasileiro endividado. Nas estatísticas, destaque para o mercado informal.
40% da população ocupada está na informalidade;
13 milhões de empregados, sem carteira assinada, no setor privado;
25,7 milhões de trabalhadores por conta própria.
Mulheres mais endividadas
No meio desse universo de endividados, as mulheres são maioria, segundo pesquisa. Em julho, essas consumidoras estavam com 80% das contas a vencer. Cerca de 31% desse público tinha dificuldade em pagar as contas do mês, contra a proporção de 28% dos homens.
Por trás da estatística está o cenário cada vez mais comum. Mulheres chefes de família e, muitas vezes, únicas na responsabilidade de colocar a comida na mesa.
No fim do mês, a renda dessas milhões de guerreiras é comprometida com alimento, gás, aluguel, contas de água e energia. A conta não fecha! Salários são insuficientes para bancar as despesas atuais.
Outro agravante é o desemprego. E, novamente, elas são maioria nessa estatística. Menos da metade das brasileiras em idade para trabalhar segue no mercado de trabalho, segundo o último levantamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
São 6,5 milhões de mulheres desempregadas. Já o público masculino reúne 5,4 milhões de pessoas.
Cartão de crédito, ainda vilão
O cartão de crédito segue como o principal vilão do brasileiro endividado. Pessoas com até 35 anos não conseguiram pagar as faturas e acumulam juros e juros do crédito rotativo, que varia de 18% a 1082% ao ano, dependendo da instituição. Confira a lista no Banco Central.
Consumidores desta faixa etária representaram 87,5% na pesquisa. As mulheres, 87,1% e homens, 84,2%.
Este artigo foi escrito por Sandra Riva e publicado originalmente em Prensa.li.