O Quê? O Exército está me protegendo na internet?
Lembro-me que escutava, e muito, meu pai dizer “o soldado está jogando golfe” quando passávamos em frente ao quartel. Isso era uma gíria para dizer que estava podando a grama e as árvores.
A partir disso, o imaginário do civil é construído na base de que: o Brasil é um país pacifista, nunca entrará em guerra e o Exército não faz muita coisa. Bem, parece que temos alguns enganos aí.
Enquanto eu lia o livro "Causos, crônicas e outras.... Historietas Militares Volume 6", do João Bosco Camurça, que havia sido me sido emprestado por um militar, notei o quanto a tecnologia foi fundamental para a evolução das guerras, e até mesmo para a preservação do humano.
No trecho a seguir podemos ver que o aparelho telefônico era algo inusitado para eles, tanto que a “arma” de comunicações (uma da subdivisões do exército) só foi fundada em 1960, bem mais recente quando comparada à de Infantaria.
Ainda, o conflito da Ucrânia x Russa tem mostrado o quão importante é ter uma boa defesa cibernética, tendo em vista que milhares de drones estão sendo comprados pelos respectivos governos. Dessa forma, ainda que o Exército Brasileiro possa ser conhecido como sendo "craque em jogos de golfe", parece que seu objetivo atual é se tornar craque em jogos de quebra de sistemas.
Mas o que isso tem a ver com meu celular e meu computador?
Bem, como disse anteriormente, a “arma” de comunicações (criada em 1959) fica responsável por todas as telecomunicações, inclusive, a internet. Só que, nos últimos tempos, a guerra não se restringe aos espaços terrestre, marítimo e aéreo, com bombas ou explosões nucleares, ela também se expande para o meio informático, com modificações de sistemas, exposição de dados, e infecção das plataformas governamentais com vírus.
O Brasil é o 2º maior país a sofrer de cibercrimes, segundo um relatório da Norton. E isso se dá principalmente pela vasta extensão territorial em conjunto com o setor agropecuário, alvo principal dos ataques cibernéticos.
A pergunta que deves estar se fazendo é: hacker? numa plantação de soja? Isso mesmo! Os hackers atacam os sistemas das fábricas e das fazendas, modificando os índices maquinários responsáveis pelo funcionamento e adequação dos produtos, objetivando estragá-los ou avariá-los. Sim, bem-vindo aos mais novos conflitos da quarta dimensão. (Você pode ouvir mais sobre isso nesse podcast daqui)
É uma nova ditadura? Tem civis no meio disso?
Em janeiro de 2022 foi divulgado o edital para submeter inscrição objetivando integrar o Exercício de Guardião Cibernético , que foi aberto para o público, principalmente para empresas privadas.
Nele, é feito o maior exercício de defesa cibernética do hemisfério sul:
"o qual tem por objetivo criar um ambiente realista onde as infraestruturas críticas participantes precisam proteger seus sistemas de Tecnologia da Informação de ataques cibernéticos, contribuindo para o crescimento da resiliência cibernética das infraestruturas críticas do Brasil.”
O Exercício foi tão bem aceito pelo público que dobrou de tamanho desde a última edição e contará com mais de 110 entidades.
"No total, cerca de 110 organizações e empresas, e 450 participantes civis e militares atuarão praticando protocolos para medidas preventivas e reativas frente a cenários de incidentes cibernéticos que provocarão efeitos cinéticos e não cinéticos sobre estruturas estratégicas, exigindo unidade de esforço com resposta integrada e interagências. Quanto à execução do exercício, esse acontecerá em três fases distintas: simulação virtual, simulação construtiva e grupo de estudos", segundo informa o Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército.
Ainda, essa semana, está ocorrendo o XVII Congresso Acadêmico sobre Defesa Nacional (CADN), que, “promovido pelo Ministério da Defesa, tem por objetivo contribuir para a difusão dos assuntos de Defesa no contexto da sociedade brasileira, além de promover a aproximação entre alunos e professores das escolas militares, dentre elas o Instituto Tecnológico da Aeronáutica e o Instituto Militar de Engenharia, além de instituições de ensino superior (IES) civis”.
Sim, tem civis no meio.
Diversas universidades (privadas e públicas) mandaram seus estudantes para a realização de tal evento, até mesmo a UFPE e UFPB, faculdades aqui no Nordeste. A Rede CTIDC (UFPE), grupo de estudos do curso de ciências políticas, pesquisa justamente sobre defesa cibernética, e está participando também desse congresso.
Com teses sobre ataques de malware e ransomware poderem ser considerados como jus bellum, (critérios que devem ser consultados antes de entrar na guerra) o Brasil está levando seu foco para além dos tanques de guerra.
O Exército Brasileiro impede guerras cibernéticas? Mentira, né?
A CySource, uma startup israelense da área de segurança, assinou um termo de cooperação com o Exército Brasileiro para a capacitação de militares em defesa cibernética, incluindo treinamentos de simulação de ataques para prevenção e mitigação de riscos e monitoramento de ameaças; isso ocorreu em março de 2022.
“Ao longo dos últimos anos estabelecemos academias de segurança cibernética para diversas organizações militares e unidades de segurança em todo o mundo, o que nos permitiu consolidar conhecimento estratégico na defesa cibernética”, destacou Amir Bar-El, CEO da CySource.
Em um artigo científico publicado na revista Ibero Americana de Humanidades, Marcel de Macedo Lima Giffoni disserta que O Brasil é um país pacífico no âmbito cibernético, no entanto, a nação deve sim se preocupar em relação à defesa do país a possíveis ataques.
Já o Major João Paulo Diniz Guerra afirma:
Por fim, a Segurança e a Defesa Cibernética são desafios para toda a Nação. Ainda há muito a se fazer, mas já sabemos que ninguém poderá, de forma isolada, enfrentar todos os desafios impostos pelas novas tecnologias e ameaças no espaço cibernético, nem os setores estratégicos, nem o governo, nem as Forças Armadas. Para deixarmos o espaço cibernético mais seguro, as lições devem começar desde cedo, na própria casa e nas escolas. Quando uma criança pedir um celular, os pais devem, primeiramente, ensiná-la noções básicas de proteção cibernética. Ainda assim, não estaremos plenamente seguros, pois quando se fala em cibernética, o constante aperfeiçoamento dos meios de TI e a conscientização deve ser de toda a sociedade, por isso defenda-a você também.
Logo, ainda não sabemos quais serão os próximos capítulos das guerras mas, com certeza, há alguma ocorrendo na internet nesse exato momento.
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Este artigo foi escrito por Maria Renata Gois e publicado originalmente em Prensa.li.