O que podemos observar nos locais escolhidos para o início da campanha eleitoral?

Agora é oficial: a campanha eleitoral para as eleições de 2022 começou. Um período curto e que promete ser intenso e cheio de voltas, revoltas e reviravoltas. Promete também, infelizmente, ser uma campanha violenta - e aqui não falamos apenas da violência física, mas da violência psicológica e de ataques à própria dignidade de candidatos e eleitores.

Uma campanha eleitoral tem suas peculiaridades, seja pelos candidatos, pelo momento histórico que a sociedade atravessa ou por eventos que acontecem durante o período e marcam os rumos do pleito. Tem também seus símbolos que buscam reforçar a imagem que os candidatos querem passar para os eleitores.

Aqui, proponho uma reflexão sobre a simbologia do local escolhido para o início da campanha dos principais candidatos a presidente; sobre o que podemos tirar desse primeiro ato oficial de campanha e como essa escolha pode ditar o tom das ações nesse período.

Pois bem! Ciro Gomes é o terceiro colocado nas pesquisas e escolheu Guaianases, zona leste de São Paulo para iniciar sua caminhada.

Advogado, cearense, político experiente e membro de um clã muitas vezes associado a um certo coronelismo na sua base, Ciro se esforça para se mostrar um candidato popular, que está no meio do povo e que vem do povo.

As fotos de Ciro em Guaianases mostram o candidato nesse local, ao lado do povo na periferia, de onde sai a maioria dos votos e onde estão problemas reais que precisam ser enfrentados pelos governantes.

O candidato pedetista, que se esforça para apresentar suas ideias de forma clara, muitas vezes escorrega em tecnicidades e em um vocabulário pouco popular e por isso precisa sempre reforçar sua presença popular e sua identificação com o que o próprio costuma chamar de "reais desafios da sociedade brasileira".

Já o atual presidente Jair Bolsonaro, escolheu Juiz de Fora, em Minas Gerais, palco da facada que o atingiu durante a campanha de 2018. Com essa escolha, o candidato pretende mostrar que consegue vencer adversidades, que não tem medo e que está no campo de batalha.

O tom bélico faz parte do discurso de Jair e escolher esse local, que se tornou importante não apenas para a trajetória do político, mas, também, para a história do país, uma vez que a facada teve influência direta nos resultados do pleito de 2018, é uma forma de mostrar a seus apoiadores que está entrando em uma guerra e que ele não teme o inimigo.

Podemos também observar que a campanha promete ser violenta pois Bolsonaro usa o simbolismo de uma violência sofrida para iniciar uma nova caminhada e mostra que está disposto a enfrentar novamente um período turbulento.

Lula, por sua vez, escolheu uma fábrica em São Bernardo do Campo, onde é seu berço político e onde tradicionalmente começa suas caminhadas eleitorais. Isso remete ao passado do ex-presidente, sua luta e suas bases.

Para um candidato que tenta se descolar dos problemas enfrentados pelo próprio partido, a escolha de um local que marca a própria história (que já foi romantizada pelo cinema), o aproxima do eleitor mais fiel, que tem na sua figura um exemplo e uma história a ser admirada. Com isso, podemos dizer que Lula tenta trazer os holofotes para si e desviar a atenção do eleitor de aliados que mancham a imagem dele e do partido.

Fato é que não fazemos ideia do que vai acontecer nos próximos dias de campanha, mas precisamos ficar atentos a símbolos e à retórica que cada candidato utilizará para tentar desviar a atenção do eleitor de suas falhas e fraquezas. Sigamos atentos.

Este artigo foi escrito por Carlos Gonçalves e publicado originalmente em Prensa.li.