O que são as Finanças Regenerativas (ReFi)? Parte II
Conforme destacamos na Parte I deste texto, o Brasil reúne a ironia característica de ser ao mesmo tempo um dos maiores produtores de alimentos do mundo e ter parte de sua população passando fome.
Esta situação nos remete aos desafios da justiça produtiva que discutimos previamente no texto Oferta e Demanda de bens primários.
Existem ricas abordagens da questão agrária no Brasil, e desde os arranjos produtivos até a distribuição das terras, raramente você vai encontrar algum assunto que já não tenha sido tema de preocupação intelectual.
Dentre todas essas, as mais interessantes da perspectiva das ReFi dizem respeito àquelas que visam diminuir a atuação de atravessadores e aumentar a autonomia dos produtores, inovadores e consumidores.
Neste contexto, não poderia deixar de citar a iniciativa do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra ao emitir, junto a sete cooperativas, CRA no valor de 14,5 milhões de reais para expansão da produção.
A participação demanda investimento mínimo de R$ 100,00, e garante retorno de 5,5% a. a, o que o torna acessível ao pequeno investidor.
Este tipo de solução esboça uma situação ideal das ReFi, no entanto, ela ainda demanda uma estrutura de grandes proporções que envolve corretoras, gestoras, etc.
Esta demanda nos remete ao caso dos produtores que não estão organizados, aqueles que por qualquer motivo estejam alheios a estas estruturas.
Tais produtores continuam reféns de arranjos produtivos que priorizam o lucro dos atravessadores enquanto inviabilizam a dignidade do pequeno produtor.
Deste contexto de marginalização é que surge um terreno fértil para o encontro entre DeFi e ReFi no Brasil.
A oportunidade surge pois, a mesma condição de marginalização que aflige os produtores desorganizados, também os torna exímios inovadores na arte da sobrevivência.
Todos os protocolos que citamos na parte I deste texto já estão disponíveis para serem explorados por todas pessoas engajadas nos experimentos com regeneração.
Dito isso, é importante frisar que embora as fronteiras nacionais não sejam uma realidade para as aplicações DeFi, é importante que sejam criadas iniciativas nacionais sensíveis às condições brasileiras.
A responsabilidade pelo fomento de tais iniciativas é compartilhada pelo Estado, Mercado e Sociedade Civil, e, em uma realidade ideal, estes entes assumiriam tal responsabilidade contribuindo para um futuro melhor.
No entanto, como diria o sábio Ice Blue:
“Oh Brown, acorda sangue bom, aqui é Capão Redondo, truta, não Pokémon.”
Em síntese, não vivemos em uma realidade ideal, e esperar que instituições tradicionais do Mercado e do Estado fomentem iniciativas que ameacem sua centralidade no desenho do futuro é um exercício de plena ingenuidade.
Também não é o caso de hostilidade, rejeitando iniciativas por sua origem estatal ou privada.
O que é mais importante para as ReFi, no final, é fomentar a regeneração da vida e diminuir ao máximo o espaço para atravessadores, garantindo cada vez mais a quem produz o direito ao fruto do seu trabalho.
Fora do país a discussão sobre as ReFi no contexto blockchain avança e uma das principais manifestações deste avanço é a série de eventos ReFi Spring que ocorrerá neste ano.
Embora diversos em relação a formato e objetivos, as ReFi são o denominador comum dos eventos que acontecerão em pelo menos sete países com a possibilidade de ocorrer também no Brasil.
Seja você um investidor, especulador, produtor ou alguém em busca de uma área de atuação profissional, as ReFi podem ser a oportunidade que você procurava.
Se ficou curioso sobre o tema e quer saber mais adianto que você não conseguirá muita coisa em português, no entanto, para quem manja dos “ingrêis” (ou sabe usar o Google Tradutor) o Cause Artist listou 18 projetos ReFi que estão se destacando.
Todas as grandes mudanças positivas no mundo começaram com um pequeno grupo de indivíduos determinados, as condições nas quais essas mudanças ocorrem não são escolhas de ninguém, mas participar ou não delas é uma escolha de cada um.
Faça parte da solução!
Este artigo foi escrito por Dr. Marcelo A. Silva e publicado originalmente em Prensa.li.