O quinto Skank
Fernando Furtado, o Pele, foi meu colega de faculdade. Era um figuraça. Alto, meio gorducho, tinha uma franja estranha e era extremamente popular com professores e alunos no curso de Comunicação Social da PUC de Belo Horizonte. Não sei exatamente por qual razão tinha o apelido de Pele.
Jogamos muita bola juntos. Ele era péssimo, extremamente desastrado, horrível mesmo. Outro que era um perna-de-pau era o Eugênio Moreira, que foi da Rádio Itatiaia e que depois tornou-se um dos principais repórteres esportivos do jornal Estado de Minas, tendo feito cobertura inclusive de Copa do Mundo. Cruzeirense roxo, Eugênio adora futebol, mas parece que o futebol não gosta muito dele. O homem é uma verdadeira tragédia com a bola nos pés.
Um dia o Pele me disse que era empresário de um conjunto musical chamado Pouso Alto. Pensei: “talvez por isso ele seja um turista aqui na faculdade. Fica por conta desse tal conjunto e praticamente não vem às aulas.” A bem da verdade, ele ia mais às peladas do que à própria escola.
E nas peladas ele passou a levar também os membros da banda Pouso Alto. Um deles, um tal Samuel, era muito bom de bola. Era um cavalo em quadra, dava bordoada para todo lado, mas jogava muito bem.
Lembro-me especialmente de um jogo na antiga quadra da Assembleia Legislativa, onde depois foi construído o edifício Tiradentes.
O Pele e o pessoal do Pouso Alto jogaram contra a turma da faculdade, da qual eu fazia parte. Saiu até faísca na pelada. O Pele me deu uma rasteira com tamanha força que eu voei e me estatelei no chão. Ficamos sem conversar por vários dias.
Foi tanta confusão nesse jogo que, para falar a verdade, o que menos fizemos foi jogar bola. Nem me lembro de quem venceu aquele “amistoso”.
Pois bem. Durante aqueles mesmos anos, o Pouso Alto mudou de nome e acabou se tornando o conjunto Skank e o Samuel, o Rosa, que era um cavalo no futebol, acabou virando um dos cantores de grande sucesso no rock brasileiro. Fernando Furtado, o Pele, continuou sendo o empresário deles durante toda a trajetória da banda e era chamado de “o quinto Skank.”
Outro dia vi uma matéria dele sobre os 12 profetas de Aleijadinho, na cidade histórica de Congonhas MG. Ele firmou uma parceria com o Museu de Congonhas para fazer um livro com fotos dos profetas.
Aliás, nem os profetas de Aleijadinho poderiam profetizar o que aconteceria com o Pele ao longo de sua vida, passando de um aluno aparentemente relapso a empresário de uma das grandes bandas de sucesso do país.
E se soubessem o quanto o Fernando é desastrado, os profetas fugiriam correndo de Congonhas. Não ficava um para contar a história.
Este artigo foi escrito por Sandro Mendes e publicado originalmente em Prensa.li.