O ronco da Lamborghini
Um dia eu estava no Salão do Automóvel aqui de São Paulo, o ano não me lembro direito. Normalmente nesses dias, antes da abertura da exposição, o ambiente é tranquilo e um pouco silencioso, pois o número de pessoas no recinto é muito menor do que nos dias de exposição. Um público que é formado principalmente por jornalistas e profissionais do mercado automotivo.
Me lembro que no “Stand” da Ferrari os expositores percebiam a platéia de jornalistas, cinegrafistas e fotógrafos. Retiraram as coberturas de seus carros, deixando-os a mostra. Esse ato fez com que as pessoas presentes, e principalmente os profissionais de mídia, praticamente todos, se reunissem em volta dos “Carrinhos de Maranello” para admirá-los e fotografá-los, o restante dos outros carros ficaram no ostracismo.
Os profissionais da Lamborghini, percebendo a situação, não só retiraram as coberturas de seus carros como ligaram os seus motores V12 acelerando-os como se estivessem na largada de um Gran Prêmio.
Aquele ronco ensurdecedor tomou conta do ambiente, tocou a cada um dos presentes, fazendo arrepiar o corpo todo. O resultado disso foi que todos – principalmente os que estavam em volta das Ferrari – se juntassem imediatamente em torno desses carros fantásticos.
Foi assim, para criar uma concorrência à Ferrari, que Ferruccio Lamborghini, em 1966, começou a construir seus próprios carros, que recebiam nomes de touros famosos, como o “Miura”, cuja carroceria foi desenhada pela Bertone. E começou tudo isso provavelmente por causa de uma discussão de um problema de embreagem em sua própria Ferrari com o Engenheiro Enzo Ferrari.
Lamborghini, que esse ano faria 105 anos (1916-1993), era um fabricante de máquinas agrícolas muito bem-sucedido, com um conhecimento extraordinário de mecânica e de negócios, não só consertou o problema de embreagem de sua Ferrari como criou uma marca esplêndida de carros esportivos.
Ainda hoje essa rivalidade persiste, embora a Lamborghini agora seja uma marca da Volkswagen AG, ligada à Audi e seus veículos sejam desenvolvidos conjuntamente com os Audi RS, ela ainda mantém a “alma italiana” de superesportivos que encantam todo o mundo automotivo.
São carros considerados verdadeiras “obras de arte” da engenharia e do design, que perpetuam a imagem e o nome de Ferruccio Lamborghini que, como Enzo Ferrari, foi um tipo de homem que não se fazem mais.
Pois, afinal, imprimiam às suas criações mecânicas, seus produtos, uma assinatura de personalidade que transcendem às leis de mercado. Não obedeciam às pesquisas de opinião, mas sim os seus mais “loucos” sonhos do que queriam oferecer a uns poucos afortunados.
Este artigo foi escrito por Maurício Bailão e publicado originalmente em Prensa.li.