O sucesso de Metal Lords e o Rock nos filmes
Imagem: Reprodução Netflix
Em 1957, Elvis Presley protagonizou JailHouse Rock. Apesar de todas as limitações da época, a produção tornou-se um marco na representação musical do gênero no cinema.
Da mesma forma que o Rock é muito presente em documentários e biografias, o estilo não é imune a produções cômicas e engraçadas.
No início dos anos 2000, Escola de Rock e Tenacious D, ambos estrelados por Jack Black, falam sobre o gênero de forma mais suavizada e animada, contudo muito fiel à realidade do estilo musical.
Assim como a rápida, porém nada discreta, participação da banda de death metal, Cannibal Corpse, no filme Ace Ventura - Detetive de Animais, no ano de 1992.
Infelizmente, outras produções cinematográficas deixam o público alvo (que já não é dos mais fáceis), decepcionados, principalmente por ilustrar os amantes do gênero de maneira infantilizada e grosseira.
Contudo, para a satisfação do público amante do som pesado e dos solos de guitarra, no dia 4 de abril deste ano a Netflix incluiu Metal Lords em seu catálogo.
E mesmo com a presença de romances adolescentes, e intrigas típicas de ensino médio, o filme garante muito saudosismo e até mesmo algumas lições de moral para os cabeludos de plantão.
A interferência e importância do Metal na adolescência
Imagem destaque: Reprodução Netflix
Com pouco mais de uma hora e meia de tela, Metal Lords consegue mostrar de forma clara diversos aspectos e características dos seguidores do estilo de vida Heavy Metal, e como isso pode impactar nas relações sociais, desenvolvimento pessoal, e até mesmo alguns distúrbios psicológicos.
A princípio, a obra dirigida e roteirizada por David Benioff e Daniel Brett Weiss, mostra os pontos positivos do Metal, que habitualmente acolhe jovens que não se encaixam em outros grupos ou sofrem algum tipo de preconceito, mas também expõe como a devoção exagerada ao gênero pode ser prejudicial.
Inicialmente, somos apresentados a Hunter Sylvester, interpretado por Adrian Greensmith, que basicamente encarna o papel de um metaleiro true (termo utilizado no meio do heavy metal para identificar um rockeiro “de verdade”), que sonha com a possibilidade de um dia se tornar uma estrela do rock, a qualquer custo.
E ao mesmo tempo conhecemos seu braço direito, Kevin Schlieb, interpretado por Jaeden Martell, que assume a persona de um jovem nerd e recluso, que para te apoiar os planos do amigo, aceita ser baterista da banda, mesmo sem saber tocar.
Também contamos com a participação de Isis Hainsworth, que interpreta Emily Spector, uma jovem exclusa e acanhada, com problemas psicológicos, que trata a base de remédios controlados.
Logo, temos duas personalidades minimamente parecidas, frente a uma terceira completamente antagônica.
A princípio, Hunter parece ser somente um amante do som pesado, que vislumbra fazer sucesso através da música.
Porém aos poucos isso vai mudando e o jovem de cabelos longos, jaquetas e bota, mostra que é um adolescente problemático e egocêntrico.
O jovem metaleiro insiste em colocar a música frente a qualquer prioridade ou interesse, excluindo assim a possibilidade de um bom convívio social, e até mesmo familiar.
Em contrapartida, Kevin se debruça sobre os estudos referentes às músicas, e enxerga ali uma possibilidade de se destacar e ser notado em algo, o que até então não acontecia.
Neste intermédio, o aspirante a baterista conhece Emily, que além de ter um talento musical além do comum, também desperta interesse afetivo ao rapaz.
Questões sexistas e machistas também estão presentes no roteiro. Ao perceber o talento da jovem violoncelista, Kevin tenta convencer o amigo metaleiro de que a jovem poderia preencher a lacuna existente na banda SkullFucker, e o guitarrista insiste em dizer que ela não tem a “cara da banda”.
Ainda por cima, o filme mostra como o alcoolismo e o consumo de drogas também são preocupantes para jovens em geral. Principalmente, quando o longa deixa claro que o jovem baterista sente-se muito mais “à vontade” em festas após consumir bebidas alcoólicas, e como outro colega músico sofre com os reflexos do uso da maconha.
E por fim, o roteiro também enfatiza a importância do acompanhamento psicológico, e apoio de pessoas próximas.
Participações cinco estrelas
De maneira geral, apesar de apresentar diversas referências do cenário do Heavy Metal, o filme também aproveita para dar uma série de lições de moral aos espectadores.
Além de um roteiro recheado de piadas e alfinetadas a outros gêneros musicais, Metal Lords também trabalha a desconstrução dessa imagem antiquada dos metaleiros dos dias atuais.
Em determinado momento do filme, contamos com a ilustre participação de estrelas do Rock, que buscam elucidar um dos personagens a respeito do seu comportamento e postura. E para delírio dos espectadores, coube a Scott Ian, Kirk Hammett, Rob Halford e Tom Morello essa missão.
E para o espanto de muitos, os astros mostram como comportamentos e atitudes machistas e sexistas, antes presentes no meio do Rock’n Roll já caíram em desuso, e não combinam mais com a realidade atual dos amantes do gênero.
De modo geral, o filme não apresenta tons de superioridade e egocentrismo, muito pelo contrário.
A banda renomeada como SkullFlower destaca a importância da presença de novos gêneros musicais, e como ainda assim o bom e velho Heavy Metal segue vivo, e mais forte do que nunca.
Este artigo foi escrito por Filipe Mello e publicado originalmente em Prensa.li.