O TAO da inclusão
Lendo um periódico do jornal publicitário, Meio & Mensagem, ali estava mostrando como estão buscando cada vez mais as várias formas de inclusão que o mundo de hoje tanto requer. Mas, em um outro momento, vi um vídeo sobre um escrito de Mooji – um professor espiritual – chamado “Quem sou eu?”, que mostra a pergunta essencial para nos encontrar. Nada de diferente daquilo que conhecemos na tradição da filosofia como a frase délfica: “conheça-te a ti mesmo” que Sócrates sempre usou. Mooji pergunta qual sua essência da vida.
Quando eu era mais novo – garoto lá nas classes especiais – a minha deficiência não tinha muita importância porque eu convivia com iguais. Mas, com minha adolescência toda entre adultos – como um mundo a parte – vi que a deficiência tinha diferença dentro da sociedade. Mesmo nas minhas paixões na pré-adolescência – lá no colégio – eu entendi que a deficiência é uma questão do perfeito e o imperfeito. O capaz e o incapaz. Porque o capaz/perfeito não existe, pois, dentro da evolução, toda criatura que se adapta melhor com seu meio é a que sobrevive e não a mais forte.
Ou seja, uma questão de ignorância e conhecimento. Se, antigamente, outras questões te faziam pessoa com poder – como terras e títulos – hoje é o conhecimento e a informação.
Particularmente, não gosto do termo inclusão, porque ao longo da minha trajetória dentro da filosofia e das outras áreas que sou formado, a inclusão tem a ver com incluir. Há um problema: só podemos incluir aquilo que não é incluído dentro de uma sociedade, mas, nós, que temos deficiência, estamos incluídos por nascermos dentro da sociedade. Então, ao invés de incluir uma coisa que já é incluída, temos que cobrar respeito.
Pegando o sentido da pergunta do professor espiritual Mooji – “quem sou eu?” – temos que ter dentro de nós a capacidade de ver (enxergar) a finalidade de onde queremos chegar e o porquê queremos chegar. A deficiência é só uma limitação de alguns afazeres, mas não pode ser o empecilho para sermos felizes.
Como diz Darwin, não é o mais forte que sobrevive, porque o mais forte pode ser caçado e morto por outro animal. Mas o adaptado pode ter uma vantagem dentro de uma floresta cheia de predadores.
Qual a adaptação humana? A capacidade de imaginar e adaptar diante da diversidade do mundo, porque um animal com deficiência morre em uma floresta sozinho. O ser humano imaginou milhares de tecnologias para que sobrevivamos ao mundo, indo além das diversidades.
Portanto, a questão não é inclusão e sim, ter uma melhor adaptação do meio para melhor vivermos. E temos que saber quem somos e a adaptação que temos que ter, dentro de padrões e um melhor manejo na tecnologia, para nos ajudar. No mais, a deficiência não nos faz ser outra espécie, somos seres humanos como todo mundo. A questão não é incluir corpos e sim, adaptar meios.
No Taoismo – filosofia chinesa de 5 mil anos – existe uma questão do TODO, daquilo que o ambiente não é separado de nós e há semelhanças dentro do estoicismo, tão na moda. O estoicismo – seus filósofos – tinham a intenção de chamar a atenção do nosso lugar dentro do cosmos (realidade).
A deficiência é uma condição e não o que você é, então, “quem sou eu?”. Para responder, temos que entender esse “quem” como forma daquilo que “sou eu”. O “quem” é o pronome (vem em vez do nome) que se refere a indivíduos e que, dependendo do contexto, pode ser igual a “o qual”, “a que”, “o que” etc. Ora, esse pronome, que pode ou não ser relativo, indefinido ou interrogativo não muda em função do gênero (o masculino ou feminino), embora altere pelo número (singular ou plural).
Ou seja, quando dissemos que “quem” estamos dizendo que há um individuo que pode existir ou não existir. Será que existimos? Se existimos quem será que sou? Descobrindo isso o “sou” fica mais fácil, porque o “sou” tem a ver com o que é. Mas, o que somos? Eu sou a deficiência ou a deficiência sou eu? Se eu não sou a deficiência eu posso fazer as coisas adaptadas? É sobre isso que temos que refletir.
Este artigo foi escrito por Amauri Nolasco Sanches Junior e publicado originalmente em Prensa.li.