O Zuckverso vem aí
Mark Zuckerberg anunciou recentemente a mudança de nome de sua empresa para Meta. Esse nome representa o futuro das empresas e a partir de agora todas as aquisições do antigo Facebook serão comandadas pela Meta. O termo meta vem do grego e significa “além”, ou seja, além do físico.
Zuckerberg explica que o nome foi escolhido porque seu objetivo é ir muito mais além do que a sua ideia inicial de uma rede social. Hoje sua empresa tem investimentos em muitas áreas de tecnologia, portanto era necessário um novo nome para representar os próximos anos de desenvolvimento.
A partir dessa nova identidade nasceu o metaverso, que basicamente planeja aproximar as pessoas via internet. O metaverso combina conceitos existentes de tecnologia com tudo que já foi desenvolvido com a maior empresa de redes sociais. A ideia é a criação de diversos espaços 3D, onde será possível visitar, interagir e até comprar nesses espaços, e para acessá-los as pessoas deverão utilizar de algum dispositivo, como um óculos especial.
Os desenvolvedores afirmam que esses lugares se parecerão muito com os videogames. Para ficar claro, o próprio Zuckerberg deu um exemplo: a possibilidade de você criar um espaço pessoal, que poderia também funcionar como uma loja virtual, por exemplo. A proposta não é tão complicada de entender, comparando com o que fazemos em nossos perfis nas redes sociais, no metaverso seria a mesma coisa porém em 3D.
O Facebook, ou Meta, pretendem realizar os conceitos de realidade aumentada e virtual. A realidade aumentada acrescenta elementos digitais ao mundo real, e a realidade virtual nos leva para um espaço simulado. A junção de ambos resulta no conceito conhecido como mixed reality (realidade mista), que deverá ser muito utilizada nessa nova etapa das redes sociais.
Lembrando que de início não será nada novo, apenas estará presente muito do que vemos em videogames por enquanto.
Quando de fato o metaverso chegará?
Estamos sendo apresentados ao metaverso como algo que está sendo construído com o tempo, e isso atiça nossa curiosidade em saber quando realmente ele vai acontecer. No entanto, ninguém sabe disso, nem mesmo os trabalhadores do metaverso, pois dependerá de alguns fatores: avanço de tecnologia, óculos leves de alto desempenho e acessíveis, desenvolvimento de um bom software, um espaço intuitivo e fácil de usar. Mas o ponto mais difícil é depender da adesão em massa das pessoas. Para isso, elas devem se sentir à vontade e verem sentido nessa ideia para utilizá-la. Afinal, é uma rede social e redes sociais só existem quando nós a adotamos.
As tecnologias trabalhadas para tornar a ideia possível
Se tratando de VR, existem alguns problemas e um deles está relacionado com o frame rate (taxas de quadro por segundo). Se a taxa for instável há grandes chances do usuário sentir tonturas, e queda de fps (quadro por segundo) não é algo que vivenciamos no cotidiano. A realidade digital dentro da VR não pode rodar com baixo desempenho em nenhum momento, pois não funcionará.
Há também os sensores, responsáveis por reproduzir o nossos movimentos naquele mundo. Os sensores precisam ser extremamente precisos pois são muito importantes para a junção dessas duas realidades. A tela do dispositivo também precisa ser de alta qualidade, evitando assim desconfortos. Além de que o dispositivo precisa ser muito leve para podermos nos movimentar e utilizá-lo por um longo período. E obviamente, esse dispositivo deve ser acessível.
Tudo isso é importante porque as redes sociais só bombam quando um número grande de pessoas têm acesso ao dispositivo ou à rede social em si. Portanto há muito a se fazer, e essas são apenas as barreiras mais óbvias de se pensar sobre o assunto.
No entanto, a promessa é de que novos sensores e tecnologias estão sendo desenvolvidos e serão entregues a fim de garantir maior precisão de sensores e causar mais naturalidade nesta fusão de mundos. Algumas propriedades foram mencionadas no evento, em que enfatizam a necessidade de aprimoração como: telas, áudio, tracking das mãos e dos olhos, aperfeiçoamento de sensores e inteligência artificial.
Apesar de ainda estarmos muitos anos longe do metaverso, a empresa compartilhou algumas aplicações desenvolvidas que já funcionam de forma promissora. Uma delas é a tecnologia de criação de avatar, a intenção é que seja possível para as pessoas criarem uma versão 3D de si mesmas dentro do metaverso de modo realista. Poderíamos, por exemplo, criar um avatar a nossa semelhança a partir da nossa verdadeira imagem, altamente personalizável.
Além disso, os desenvolvedores estão trabalhando também em tecnologias que tornem os ambientes virtuais mais imersivos, até mesmo a criação de tecidos está sendo projetada e inserida no metaverso.
As questões básicas de privacidade
Não faz muito tempo em que houve um escândalo envolvendo dados de privacidade e o Facebook, um caso que ficou conhecido no mundo todo como Cambridge Analytica. A empresa foi acusada de ter cedido dados de 87 milhões de usuários da rede social em 2014 por influenciar a opinião de eleitores em inúmeros países. Um acontecimento crítico para o Facebook e seus usuários. A partir de então o Facebook deve se comportar com mais transparência em relação aos dados, e sem dúvida essa nova fase será acompanhada de perto pelo mundo todo.
Não foi dito muita coisa sobre dados de privacidade durante o evento de revelação da Meta. Mark Zuckerberg apenas disse que tudo envolvendo a privacidade dos usuários está sendo pensado desde a concepção do metaverso, e que tudo será feito da forma mais clara e transparente possível.
Porém, Zuckerberg não negou o uso de dados de outras pessoas. Ele declarou a importância de sabermos quando alguma de nossas informações serão utilizadas e para qual propósito. Ou seja, o modelo de negócios será talvez semelhante ao de agora, eles são especialistas em traçar padrões e perfis dos usuários.
Existem pessoas que não se importam de ter suas informações expostas na internet, porém há um grande risco de uma exposição nas redes sociais. Talvez você não se importe consigo, mas e sua família? Sua exposição não expõe apenas você, mas as pessoas que convivem com você.
Aliás, precisamos compreender que os seus dados não são somente utilizados para te conhecer, você sozinho não diz muita coisa, mas na análise deles você é colocado dentro de um grande grupo de pessoas, e isso permite entender a população com mais exatidão, até mesmo mais do que os próprios governos. Não é muito poder centralizado na posse de uma empresa? Você pode realmente não se sentir ameaçado com isso, mas pense sobre até onde vai o seu conforto com esse compartilhamento.
Barreira para outras pessoas
Um outro ponto assustador, é que está cada vez mais fácil deixar pessoas de fora das redes sociais e dispositivos tecnológicos. Para explicar isso, podemos dividir em três níveis de invenção. A primeira seria a internet, não conseguimos mais viver sem a internet hoje em dia, e algumas pessoas não têm acesso à ela, como moradores de ruas e aqueles que vivem em extrema pobreza. Antes da popularização da internet, as pessoas antigamente estavam próximas umas das outras e agora parece que há uma barreira que as impede de se conectar a esse mundo.
A segunda invenção que ajudou a ampliar esse muro foi o smartphone, as pessoas vivem mais distantes do que antes, já que fazemos tudo pelo celular. O metaverso pode ser a terceira invenção que separará ainda mais o que acessamos em diversas camadas. Em algum momento um óculos de realidade aumentada pode piorar muito a situação. Um mundo será criado para algumas pessoas e irá dificultar o acesso para outras.
E pior, se esse tipo de tecnologia chegar a falhar depois de você estar acostumado com ela, você se sentirá completamente deslocado com a vida real, podendo até parecer sem graça.
Todo tipo de tecnologia, quando for introduzida na sociedade, deve ser pensada de um jeito que beneficie a todos e que não os prejudique. Sobre isso, Mark Zuckerberg garantiu que o metaverso será um espaço mais inclusivo e que abrace todas as comunidades.
Este artigo foi escrito por Bruna da Cruz Souza e publicado originalmente em Prensa.li.