Olimpíadas 2020: a edição da superação
Marcada como a edição da superação, do isolamento social, da união alimentada pelo esporte e das arquibancadas vazias, os Jogos Olímpicos de 2020 realizados no Japão chega ao fim daqui 4 dias.
Nestas duas semanas pudemos torcer, vibrar e se emocionar com cada uma das conquistas dos melhores atletas do mundo – de preferência, atletas brasileiros.
Apesar de as circunstâncias serem outras, essa Olímpiada também foi marcada por diversos assuntos que reverberaram nas redes sociais, muitos deles de grande importância, e outros que somente o “twitteiro” brasileiro poderia criar.
Como a presença do Comitê Olímpico Russo competindo após o escândalo de doping, a movimentação após Gabriel Medina ser eliminado nas semifinais, a vitória de Rebeca Andrade na ginástica, a falta de incentivo aos atletas brasileiros, entre outros.
Com tantos assuntos por aí, fica difícil acompanhar todos eles. E foi por isso que reunimos as principais discussões neste artigo.
Embaixada Chinesa reclama de escolha de fotos de atletas
A embaixada chinesa no Sri Lanka publicou a montagem acima para expressar o seu descontentamento com a escolha da imagem da atleta Hou Zhihui, no levantamento de peso, pela agência Reuters. Entretanto, a escolha de palavras não foi a melhor.
“De todas as fotos dos jogos, a Reuters tinha que escolher essa, que mostram como são feios”, tuitou a embaixada.
Depois esclareceu que o “feios” se referia à agência, não aos atletas, que “são lindos, independentes”.
A escolha da imagem foi para mostrar que a agência escolhia “imagens feias” de competidoras chinesas, mas que atletas ocidentais sempre estavam “bonitos na foto”,
“Mesmo dia, mesma Olimpíada, mesma Reuters, rostos diferentes. Talvez porque tudo que é bom na vida seja mais fácil para ocidentais brancos?”
A discussão até que faz sentido se pensarmos na imagem que alguns veículos de comunicação perpetuam sobre a China, como foi o caso da manchete da CNN Internacional sobre o primeiro dia da competição: “Ouro para a China e mais casos de Covid”.
A questão da escolha da imagem foi uma discussão sem muito fundamento. Principalmente porque basta ver como os fotógrafos de esporte procuram captar as caretas dos levantadores de peso de qualquer nacionalidade justamente para retratar o nível de esforço envolvido.
Simone Biles e a coragem de expor sua fragilidade
Quando a maior ginasta do mundo decidiu abandonar as provas nas modalidades equipe e individual geral na Olimpíada, após uma nota abaixo da média, ninguém soube entender o motivo. Muitos até disseram que a atleta não sabia perder, mas não foi nada disso.
Simone Biles admitiu que a enorme cobrança por resultados era como carregar o peso do mundo nos ombros. Ela não aguentou. Sua saúde mental a alertou e a atleta respondeu.
“É a sensação mais louca de todas. Não ter um centímetro de controle sobre seu corpo. O que é ainda mais assustador é que, como não tenho ideia de onde estou no ar, também não tenho ideia de como vou pousar ou onde vou pousar. Cabeça/mãos/pés/costas", publicou a ginasta.
Essa situação ao qual Biles fala é chamada de Twisties, que nada mais é do que uma desconexão entre o cérebro e o corpo que causa uma espécie de vertigem que tira seu equilíbrio e a faz perder noção de espaço e movimento durante suas piruetas.
O esgotamento emocional de Biles refletiu no seu corpo, o que a deixou ainda mais insegura, "Eu não confio mais tanto em mim mesma. Talvez seja o fato de estar ficando mais velha. Eu não queria ir lá, fazer algo estúpido e me machucar.”
Biles deu início a grande discussão da saúde mental dos atletas, muitas vezes abdicada na intenção de obter os melhores resultados. A ginasta criou uma base para atletas e pessoas do mundo todo se sentirem melhor quando algo não parece estar certo. Ela teve a bravura e a coragem de desistir.
O exemplo de Biles reforça a ideia de que determinação e disciplina são ingredientes fundamentais para o sucesso, mas às vezes é preciso se conhecer e, caso seja necessário, dar um passo para trás pelo bem da saúde do corpo e da mente.
O que está acontecendo em Belarus?
Os treinadores de Krystina Timanovskaya chegaram ao quarto da atleta e pediram que ela fizesse as malas. Kristina, que estava muito surpresa, não desobedeceu. Quando se deu conta e foi informada que deveria voltar para casa, Belarus, a atleta se deu conta que deveria fugir.
Tudo começou quando Timanovskaya havia sido inscrita em uma corrida de revezamento 4x400m por seus treinadores, embora ela devesse competir no evento feminino de 200m. Kristina foi às redes sociais reclamar da situação.
O vídeo gerou críticas na imprensa estatal, com um canal de televisão oficial dizendo que ela não tinha "espírito de equipe". O Comitê Olímpico de Belarus afirmou que Timanovskaya era "emocionalmente instável".
Kristina disse que sua crítica não era ao governo de Belarus, e sim ao Comitê Olímpico do país, entretanto, seu descontentamento não foi visto dessa forma. Timanovskaya temia enfrentar perseguição no seu país de origem.
Infelizmente, o temor da atleta tem fundamento. Belarus, é um país autoritário, muitas vezes apelidado de "última ditadura da Europa", seu presidente, Alexander Lukashenko, está no poder há 27 anos.
Ano passado, Svetlana Tikhanovskaya concorreu contra o presidente. Lukashenko conquistou a vitória com mais de 80% dos votos.
Entretanto, grupos opositores realizaram sua própria contagem e afirmaram que o presidente obteve apenas 30% dos votos, e Tikhanovskaya, 57%. Após a eleição, o país enfrentou os maiores protestos desde sua independência.
O receio da atleta é terminar como muitos que se opuseram ao governo: presa, exilada ou desaparecida.
"Nunca falei sobre política. E mesmo aqui [nas Olimpíadas] não era sobre política, era sobre os erros que nossos treinadores cometeram, então nunca esperei que isso se tornasse um escândalo político."
Enquanto uns expressam fragilidade, outros expressam mau comportamento
Sabemos que as Olimpíadas não são fáceis. Normalmente, esperamos que grandes atletas saibam lidar com a pressão e, principalmente, com a derrota. Infelizmente, Novak Djokovic não teve inteligência emocional para lidar com isso.
O número um do mundo no tênis já conquistou o Australian Open, Roland Garros, Wimbledon e o US Open. Além disso, Djokovic poderia ser o primeiro homem a vencer o Golden Slam, que inclui os títulos nos maiores torneios do tênis e a medalha de ouro das Olimpíadas.
Entretanto, o atleta perdeu contra o alemão Alexander Zverev e o espanhol Pablo Carreno Busta, respectivamente medalha de ouro e bronze.
Se o atleta tivesse apenas expressado seu descontentamento, estava tudo bem. Mas Djokovi, no jogo contra o espanhol, arremessou a raquete para a arquibancada, depois deu “chilique” e quebrou a raquete ainda em quadra em um “dia de fúria”.
O pior foi que o atleta desistiu de participar de sua próxima partida, dessa vez a de duplas mistas onde jogaria com a tenista Nina Stojanovic. Aparentemente, alguém esqueceu de levar o espírito olímpico na mala.
Mas que bom que outros fizeram isso, a exemplo de Mutaz Essa Barshim e Gianmarco Tamberi que decidiram dividir a medalha de ouro na disputa do salto em altura.