Onde estão os Ludditas?
Seriam mais fracos, não mais fortes, pois, embora possamos ter posto máquinas maravilhosas em suas mãos, predeterminamos como ele as devem usar. (…) Se eu pagar para você me carregar, já não serei uma pessoa forte - Abolição do Homem, C.S Lewis
O que são os Ludditas?
Para quem está perdido, uma breve explicação:
O luddismo foi um movimento de trabalhadores na Inglaterra, do ramo da tecelagem, lá na Revolução Industrial, século 19, que destruía as máquinas como forma de protesto, já que essas pessoas criam que as máquinas enganavam a população e não traziam a realidade a todos, além de, claro, o medo de perder seus empregos.
No decorrer da história, foi perpassada a crença de que o luddismo era um movimento CONTRA o progresso tecnológico, no entanto, o conceito não está totalmente correto.
Existem ludditas hoje?
O trecho acima do livro do C.S Lewis pode ser interpretado como um advento luddista, já que ele disserta sobre como o cientificismo está retirando a capacidade imaginativa do ser humano e o impedindo de ter maiores progressos.
Northrop Frye (professor da Universidade de Quebec de Filosofia e Literatura), em seu livro “A Imaginação Educada”, tenta explicar o que está acontecendo com a sociedade atual e o motivo de estarmos nos tornando cada vez mais utilitaristas, maquinários:
Para quê serve o estudo da literatura? Que diferença faz o estudo da literatura em nosso comportamento social, político ou religioso? (...) Nas escolas e universidades dos países anglófonos há uma disciplina chamada língua inglesa, que significa a língua materna. Como tal, é a mais prática das disciplinas; não se pode entender nada nem tomar parte da sociedade sem ela. Onde quer que o analfabetismo seja um problema, é um problema tão grave como a falta de alimento ou a falta de abrigo. (...) um sujeito que nada sabe de literatura pode ser um ignorante, mas muita gente não se importa de ser ignorante. Qualquer criança percebe que a literatura a conduz numa direção diferente da do útil imediato.
Em resumo, a literatura, portanto, projeta novas ideias e possibilidades na cabeça do ser humano, trazendo inovações e enaltecendo o senso criativo do homem. Entretanto, ela está em extinção.
Tezza, ainda em 2010, falava sobre como não existe literatura brasileira fora do país. A média de 2,4 livros lidos por ano do brasileiro é tremendamente baixa, e obviamente, nos impede de evoluir na parte da criatividade. A sociedade brasileira não tem contato com a literatura, principal forma de estimular a informação, e tampouco com brincadeiras de rua, bonecos, e lutas de espada; eram essas as coisas que geravam um aumento cerebral criativo no humano e estão sendo trocadas por vídeos no Youtube.
O problema, então, é que os luddistas no século 19 ainda não sabiam como se expressar. O resultado é: o homem se tornou tão utilitarista que não há mais resquícios de criatividade nele, tampouco compreensão, ou empatia.
Não obstante, as taxas e índices de depressão e ansiedade do Brasil crescem alarmantemente:
Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), em 2021, confirmou a afirmação que já vinha sendo feita por médicos psiquiatras, psicólogos e terapeutas sobre o aumento de casos de doenças mentais.
De acordo com a pesquisa, em uma lista de onze países, o Brasil lidera com mais casos de ansiedade (63%) e depressão (59%), seguido, respectivamente, da Irlanda e dos Estados Unidos.
E qual o motivo disso tudo?
Bem, Byung Chul Han, em A Sociedade do Cansaço e Topologia da Violência já disserta sobre como a auto cobrança, o non stop e o trabalho exacerbado fez com que as pessoas se cobrassem em níveis absurdos de produtividade, gerando uma auto violência cerebral, ao ponto de termos transtornos mentais.
Mas o que isso tem a ver com a literatura e os ludditas? Se um luddita vivesse nesse mundo pós-moderno atual, com certeza diria “está vendo? Eu não disse que as máquinas iriam acabar com a realidade? Que iriam fazer mal ao humano?” Não é um mal como o de Isaac Asimov, onde o robô mata a pessoa, ou ganha o mundo. É um mal silencioso, muito pior, em que todos pensam estar tudo “ok” e simplesmente desabam, do “nada”.
Para não achar que é teoria da conspiração, os movimentos como a grande recessão e o quiet quitting já foram abordados por mim aqui na Prensa, e são demonstrações mais que exatas do que está acontecendo: ninguém consegue ser tão produtivo como uma máquina, é impossível, mas o humano quer isso.
A fusão homem-máquina está tornando realidade o que Lewis chama de “O Homem sem Peito”, ou seja, um indivíduo super racional, muito intelectual que, todavia, não possui um “coração grande e um peito forte” para aguentar os trancos e barrancos da vida. Entre outras palavras, “para que ser tão racional e utilitarista, até mesmo ultra produtivo quando você não estará feliz? Quando isso te leva a um burnout?”
Atualmente, pouquíssimos conseguem desfrutar de um momento de calmaria, todos estão tão no “hush” e na agitação que, quando possuem um momento de lazer, ficam se cobrando por não estarem trabalhando ou fazendo algo “útil”, contudo, se esquecem que o ócio também é produtivo, ele faz com que você recarregue as energias para começar tudo de novo.
Evadir-se das Redes Sociais, Minimalismo, e Dopamina
Que os níveis de dopamina crescem com o uso das redes sociais, existem diversos estudos confirmando. Aquele lindo feed do TikTok ou Instagram é programado para elevar teus hormônios e te viciar, queira você ou não.
Só que diversas pessoas estão nadando contra a corrente e fazendo diversos detox digitais, inclusive eu. O Youtuber “Pinho”, que se auto intitula minimalista, possui um vídeo na plataforma vermelha com mais de quarenta e três mil visualizações intitulado “detox digital; como fazer". Os comentários, na maioria, são positivos, afirmando que precisam realizar tal ação, se afastar das mídias sociais e viver uma vida “mais leve”.
Ou seja, as pessoas estão notando que algo está errado nisso tudo.
Talvez, daqui a alguns anos, esses detox digitais sejam intitulados luddismo 2.0. Até lá, cuidem da sua saúde mental, dos níveis de dopamina, e o mais importante de tudo: leiam, para serem criativos e mais fortes emocionalmente.
Siga-me aqui na Prensa e entra no meu canal no Telegram, aqui a gente eleva seu nível de dopamina numa quantidade razoável por dia (e aceita pela comunidade médica ) rsrs
Este artigo foi escrito por Maria Renata Gois e publicado originalmente em Prensa.li.