Você conhece activeX? A activeX é uma framework que possibilita páginas dinâmicas entre cliente e servidor do provedor de serviço. Apesar de ser uma framework segura, ela deixa a desejar no quesito “User Friendly” e requer instalação de Plug-in e roda apenas no Internet Explorer (uhu!).
Os bancos coreanos, por muito tempo (até este ano) requeriam o activeX para o usuário fazer as transações e se o usuário tentasse usar outro tipo de browser, o webbanking simplesmente não funcionava. Vendo isso, como que o Open Banking foi acelerado na Coreia, se os bancos eram tão resistentes com a inovação? Aí vem a palavra mágica, Toss.
A disrupção do sistema financeiro coreano: Toss
Aplicativo Toss — hoje ela é o maior aplicativo de finança pessoal e já tem a funcionalidade de pagamento, além da conta digital e o cartão de crédito
A Toss é uma fintech que começou em 2015, fundada por Seung-geun Lee, um dentista empreendedor que ficou insatisfeito com os inúmeros plug-ins de segurança que o banco solicitava, além dos OTP (One True Pairing — um verificador de multifator). Usando uma técnica paralela — com base em firm banking — a Toss lançou o seu aplicativo para oferecer um serviço de transferência de conta bancária (trazendo um questionamento sobre a troca de segurança versus conveniência)
Em 2016, a Toss lançou funções de agregação de contas e em 2017, o serviço de score de crédito, atingindo 10 milhões de downloads e no ano seguinte, 20 milhões (lembrando que a população sul-coreana é de apenas 52 milhões de habitantes).
Assim, surge o Open Banking
O governo coreano, através do FSC (Comitê de Serviços Financeiro), um órgão governamental para serviços financeiros já estava de olho na ascensão da Toss e nos cases da Europa, Inglaterra, Austrália e Cingapura.
Portanto, em 2019, o FSC lançou o milestone para Open Banking em parceria com a KFTC (Instituto privado responsável pela infraestrutura financeira). Após um período de testes de 2 meses, a partir de dezembro do ano passado, o Open Banking seria implementado de vez em todo território nacional. 10 bancos participaram no período de testes e hoje, já são 18 bancos e 31 fintechs participantes.
1. Instituto privado como líder da plataforma com forte apoio do Governo
Foi criado o Centro de Open Banking dentro do Korea Financial Telecommunications and Clearings Institute (KFTC), um instituto privado responsável pela padronização da infraestrutura financeira da Coreia.
O centro é o responsável para escutar, organizar e liderar as atividades do Open Banking na Coreia.
2. KFTC um instituto privado responsável pela adesão dos interessados
Diferente do Brasil, a KFTC é o responsável pela autorização de participação. A partir do momento em que uma companhia é autorizada, ela pode consumir o API oferecido pela KFTC na qual está plugada com todos os participantes. Além disso, a parte regulatória fica com o FSI (Instituto de Segurança Financeira), um órgão governamental coreano para seguranças financeiras.
Verde: Ideia de negócio — aplicação;
Azul claro: APIs de Bancos e Corretoras para testar;
Azul escuro: Testbed — viabilidade de produto financeiro;
Lilás: Lançamento do produto.
3. Padronização de API
É oferecido dois tipos de APIs.
API de serviço;
API de validação e controle.
Dentro do API de serviço, o participante pode solicitar para seguintes tarefas:
Consulta de saldo;
Consulta de transação;
Consulta de titular da conta;
Execução de depósito;
Execução de saque;
Consulta de remetente de transferência;
Consulta de destinatário de transferência.
Para API de validação e controle, são seguintes:
Validação do usuário: Utiliza o método OAuth (Open Authentication) para que o usuário autorize a utilização do serviço requerido via API;
API de controle: Através deste API, o participante pode solicitar o status de API especifico para o banco ou corretora participante.
4. Precificação
A precificação não pode ser considerada como uma referência, pois antes do Open Banking, a Toss já oferecia gratuitamente o serviço de consulta de contas e fatura e permitia transferências gratuitas.
Foi acordado que os bancos grandes cobrariam 10% do preço atual praticado (1ª coluna com preços em Won coreano) e aos bancos médios, 5%. Note a proporção da economia do custo das tarefas (consulta e transferência).
5. Resultado
Além de diversos bancos terem lançados a possibilidade de você transferir seu dinheiro do Banco B para A, utilizando o app do Banco C, hoje várias instituições de pagamento, ecommerce, cartão de transporte público e empréstimos estão utilizando os APIs.
Falando em números, 40 milhões de usuários cadastraram na plataforma de Open Banking (51,64 milhões é o último censo da Coreia — 2018) e mais de 66 milhões de contas bancárias foram cadastradas. A consulta de API também passou de 1 bilhão de consultas (Junho. 2020 — KFTC).
Sobre os APIs:
Bancos: 84,5% usaram para consultar o saldo;
Fintechs: 82,5% usaram para realizar uma transferência de um banco para outro;
Total: 59,2% para consulta de saldo e 29,9% para transferência.
Conclusão: isso tudo acontecerá quando no Brasil?
Todos sabemos que o Bacen publicou um cronograma bem elaborado com os grandes bancos.
Serviço de validação de identidade: prevista fase II (Maio/2021)
Serviço de consulta das transações, assim como saldo: prevista fase III (Agosto/2021)
Serviço de transferências: prevista fase IV (Outubro/2021)
Esperamos que tudo isso aconteça até outubro de 2021. Se pensarmos no Open Finance que segundo a FCA (Financial Conduct Authority) tem o potencial de transformar os consumidores e as companhias usarem o serviço financeiro que requer um grande trabalho de análise de dados e esse cenário nos distancia de um Brasil com spread bancários mais baixos.
Efetivamente, para os spreads baixarem, é importante entender como o indivíduo gasta o seu dinheiro e como controla o seu balanço mensal. Essas informações facilitam a vida das empresas que emitem os créditos e outros que queiram oferecer serviços exclusivos conforme os dados transacionais.
A CrediGO já analisou mais de 15 milhões de transações que foram identificadas em 40 categorias primárias e mais de 150 categorias secundárias. Além de entender as terminologia de cada banco e a inteligência de identificar a transação conforme a razão social cadastradas nos seus CNPJ conforme o CNAE.
Como será o Open Banking no Brasil? Já podemos imaginar com os cases que estão acontecendo lá fora, mas nós já estamos preparados para ajudar você, empreendedor a ir além da sua imaginação em oferecer serviços únicos e a experiência diferenciadas para seu usuário.
Este artigo foi escrito por Jae Lee e publicado originalmente em Prensa.li.