O tema Open Finance está, cada vez mais, em evidência nacional e recebendo reconhecimento internacional, por conta das abundantes inovações trazidas ao mercado financeiro. Atualmente, no Brasil, um dos pioneiros na aplicação do projeto, iniciado em 01/02/2021, consumidores já podem controlar seus dados e permitir que suas informações sejam compartilhadas entre instituições regularizadas pelo Banco Central - sejam elas bancos tradicionais, digitais ou outras instituições financeiras. Esta liberdade é justamente o foco primário do projeto, que visa beneficiar cidadãos e, obviamente, as instituições.
Assim como qualquer outra novidade, a implementação do projeto fez com que surgissem dúvidas e receios e, até agosto deste ano, apenas 2% de clientes de bancos aderiram ao Open Finance. A porcentagem pode até ser baixa, mas foram mais de 4 milhões de clientes que autorizaram a consulta aos históricos financeiros em suas contas por diversas instituições - e este número tende a crescer cada vez mais.
Open Banking x Open Finance
O projeto Open Banking, no Brasil, foi inicialmente inspirado no modelo Europeu, particularmente no do Reino Unido, porém teve seu planejamento e detalhamento inteiramente alinhados com as necessidades, limitações e a maturidade do mercado nacional. Com o tempo, o Open Banking adquiriu uma orientação mais ampla e complexa, e evoluiu para Open Finance, passando a abranger, além das instituições bancárias, corretoras, serviços de previdência, seguros, câmbio, etc.
Dado a sua abrangência, velocidade e complexidade, o projeto brasileiro não tem paralelo com outros países (ainda que tenha algumas semelhanças com o adotado na Austrália), pois veio após anos de observação e aprendizado dos resultados daqueles que já estavam implementando o Open Banking anteriormente. O Open Finance brasileiro, além de empoderar o cliente com o melhor uso de seus dados para obtenção de soluções e ofertas mais convenientes, estimula o crescimento da competitividade nos mercados e procura ser um projeto inclusivo, que abrange o máximo de instituições possível.
Diferentemente de outros países, após acompanhar a inserção do projeto em outras localidades, o Brasil se posicionou entre os pioneiros mundiais, pois pôde perceber a possibilidade de expansão dos mercados envolvidos e, também, estabelecer regras relacionadas à padronização das APIs e simplificar da experiência de consentimento do cliente - diferenciais importantes.
Os Estados Unidos, por exemplo, optaram por manter sua tradição liberal também no Open Banking, e deixaram as próprias grandes instituições conduzirem o projeto, o que resultou em um cenário não abrangente nem inclusivo, visto que a não adesão por parte de empresas menores mina o objetivo de estabelecer uma simetria informacional que melhore a jornada do cliente.
A arquitetura da estrutura do ecossistema do Open Finance, focada na viabilização da interoperabilidade e auto-gestão do projeto pelo próprio mercado, desenvolvida sob supervisão do Banco Central Brasileiro, é outro grande diferencial, visto que torna mais fácil a integração entre diferentes indústrias e plataformas, beneficiando de forma acelerada os cidadãos e empresas envolvidas.
A expansão dos setores participantes acontece em decorrência do sucesso da fase primária do projeto. A expansão para o conceito de Open Finance significa que as indústrias satélites à indústria bancária podem alavancar as movimentações por parte dos clientes e aumentar sua eficiência de consumo com uma experiência sem atritos e que pode gerar novas soluções que sejam convenientes.
A ampliação do escopo do projeto nada mais é, portanto, a consequência da percepção do potencial transformador do conceito Open, estimulando uma expansão dos benefícios trazidos pela estrutura do Open Banking.
Os benefícios
A evolução explicada acima é resultado da percepção do valor que a integração de dados pode trazer aos mercados. O aumento do escopo de utilização da estrutura Open nos diversos setores significa maior liberdade e engajamento no processo de manipulação de dados tanto para quem fornece quanto para quem compra. Te explico:
A integração de dados entre diferentes setores proporciona um salto de competitividade para o mercado, sendo uma grande oportunidade para empresas e clientes, por possibilitar melhores comparações entre produtos e serviços oferecidos. Assim, o consumidor ganha mais alternativas em suas decisões, pois tem à sua disposição uma variedade de ofertas em concordância com seu histórico pessoal. Já as empresas podem explorar os dados compartilhados para ampliar seu repertório de serviços e personalizar as estratégias e experiências de acordo com as necessidades específicas de cada cliente.
O grande benefício trazido para o mercado é o aumento na eficiência do sistema financeiro de modo geral, através da eliminação da assimetria de informação entre instituições, viabilizando o acesso aos dados e histórico dos clientes e a oferta de produtos e serviços mais alinhados com as necessidades pessoais do consumidor.
A democratização de acesso aos dados dos clientes mediante o seu consentimento, possibilitada pelo Open Finance no Brasil, diz respeito justamente à possibilidade de forçar as instituições a sair do lugar confortável de detentoras exclusivas das análises e informações de seus clientes e fazer com que elas tenham que se preparar para melhor atender a eles, dado que a agora estes clientes poderão receber novas propostas competitivas mesmo de instituições que não tinham, antes, seu histórico de relacionamentos.
Além dos benefícios relacionados ao compartilhamento de dados em si, a aplicação das facilidades Open pode significar, também, uma diminuição nos custos de processos operacionais internos de empresas, visto que, ao padronizar as APIs, não se faz mais necessária a conversão de arquivos e dados. Assim, os dados e processos podem ser integrados de ponta a ponta, com muito mais agilidade e menos etapas de customização e integração.
A inserção do Open Finance nas estratégias de negócios não se trata apenas de continuar no mercado, mas também de acompanhar tendências e explorar com mais profundidade as diferentes oportunidades trazidas pelo projeto e sua amplificação. Assim, novas ações podem ser traçadas de modo a conectar novas parcerias de forma bastante ágil e eficiente, como forma de contornar as limitações de cada instituição.
Uma revisão estratégica, aliada a essas integrações e parcerias, pode significar mais atividade na oferta de serviços, inserção em novos mercados e ampliação de produtos oferecidos. A longo prazo, isso tende a resultar em aumento de receita, ampliação da clientela e da rentabilidade.
A hora é agora!
É evidente que, na fase inicial do projeto, é necessária a construção de uma estrutura sólida e confiável que possibilite a jornada até os frutos futuros. Esse esforço inicial, por vezes, é um desestímulo para algumas empresas, como fintechs menores e com menos tempo de mercado, visto que o retorno em benefícios a curto prazo é menor que o investimento necessário - especialmente nesta fase do projeto. Os custos iniciais acabam por ofuscar os potenciais benefícios gerados pela adesão à jornada Open, que são muitos.
Entretanto, a longo prazo, o impacto da escolha de aderir (ou não) à estrutura Open provavelmente afeta a fidelização de clientes. Com a popularização da variedade de ofertas personalizadas, os clientes se tornarão cada vez mais exigentes e informados a respeito de suas opções. Assim, empresas que ficarem de fora do compartilhamento de dados tendem a se tornar obsoletas, por não poderem personalizar efetivamente a jornada de seus clientes, ficando vulneráveis quanto ao potencial de inovação dos concorrentes inseridos no Open Finance.
Imagine ir a uma loja e ser impedido pelo vendedor de sair dela para comparar preços. Isso, com certeza, te causaria desconfiança, certo? O mesmo vai acabar acontecendo com relação às empresas que não possibilitarem para seus clientes o compartilhamento de informações: a credibilidade tende a diminuir.
Por isso a importância de não só aderir às novas tecnologias e possibilidades de inovação, mas também de participar de eventos focados em estudar e ampliar as oportunidades trazidas para a indústria financeira de modo geral, como o Open Finance Conference, que une empresas de setores variados para compartilhar informações e construir soluções mais simplificadas e atualizadas.
Conhecer e entender o potencial do Open Finance, para além dos quesitos técnicos e regulatórios, é essencial para acompanhar cases, assimilar experiências práticas e, também, poder compartilhar problemas, dificuldades e limitações. Assim, a integração acontece de ponta a ponta e é possível se preparar para os próximos passos.
Eventos como a Open Finance Conference são oportunidades de aprender com quem já está na frente.
Saiba mais sobre o evento:
Este artigo foi escrito por Carlos de Oliveira e publicado originalmente em Prensa.li.