O Open Finance começa com o compartilhamento de dados, mas não termina nele. O futuro das finanças já chegou e o que estamos presenciando nas fases iniciais de implementação do Open Banking é apenas uma reprodução do passado. Atualmente, a raiz do problema encontra-se na forma de aquisição e rentabilização do cliente por instituições financeiras.
A rede bancária tradicional, possuí uma cadeia de investimento clara e definida. Trazer um cliente é caro e complexo, então para que todo o tempo e investimento seja compensando, é preciso fazer com que o usuário seja rentável.
Como forma de resposta às suas aplicações, o banco passa a rentabilizar esse cliente através da oferta e venda de produtos. Consequentemente, acabam surgindo os chamados supermercados financeiros, onde bancos e instituições oferecem produtos de marca própria.
No entanto, essa prática dos supermercados financeiros significa que as empresas do setor financeiro estão assumindo não são só o papel de comerciantes, como também fabricantes e produtores. O resultado é uma alta concentração no mercado, gerando uma barreira de troca, especialmente quando se trata de análise de crédito.
Para que esse diagnóstico seja feito instituição, é realizada uma avaliação do usuário, onde este será classificado como bom ou mal pagador. Porém, essa prática acaba se tornando falha, pois os dados adquiridos são apenas do relacionamento entre a própria instituição e o cliente. Com isso, a avaliação acaba sendo unilateral, sem levar o ecossistema bancário como um todo.
Open Finance no Brasil
Ricardo Taveira, Fundador e CEO da Quanto, acredita que o compartilhamento de dados, primeira premissa do Open Finance, irá solucionar problemas ocasionados pelos supermercados financeiros, como:
Assimetria de informação: Informações transacionais levam a análise de crédito mais precisas, produtos mais relevantes e preços mais competitivos;
Atravessando barreiras: Compartilhamento de dados de forma estruturada vai permitir uma experiência para os consumidores semelhante ao “login com facebook”.
A avaliação unilateral feita pelos bancos acaba gerando uma assimetria de informações. A análise de crédito precisa ser feita com base não só nos dados que a empresa tem sobre o cliente, o que resulta em um aumento indireto do custo de aquisição daquele usuário.
Afinal, para ter aquele cliente, também é preciso adquirir a análise de informações pessoais e vários outros dados, o que ajuda na formação de uma barreira e aumento do custo do usuário.
“No Brasil, ao fazer o compartilhamento de dados de cadastro, temos a oportunidade de resolver esse desafio, algo incomum nos outros países que estão instituindo o Open Banking”, conta Ricardo. O compartilhamento de cadastro dentro do ecossistema bancário, resultará no aumento da competitividade, mudando a estrutura de aquisição de produtos através do supermercado financeiro.
Assim, as propostas deixam de ser genéricas e passam a ser fabricadas de acordo com a necessidade e momento de vida de cada cliente. O HSBC, por exemplo, permite desde 2017 que usuários do Reino Unido movimentem contas bancárias de diferentes provedores a partir de seu internet banking.
Desagregar para reagregar
Este movimento realizado pelo HSBC, não é algo inédito. A Amazon, megastore na área de varejo e e-commerce nos EUA, entendeu que era complicado manter um acompanhamento dos melhores produtos a serem estocados considerando todos os seus clientes. Assim sendo, a rede varejeira realizou parcerias com outros players, permitindo expandir o seu marketplace.
“Eles entenderam que era muito melhor manter o cliente na plataforma e distribuir produto de terceiro, ainda que perdessem margem, do que eu perder o cliente por completo”, explica Ricardo Taveira. A partir dessa estratégia, a Amazon continuou tendo um fluxo muito forte e significante de tráfico orgânico.
A lógica para as instituições bancárias é a mesma: desagregar e atacar o supermercado financeiro e depois recompô-lo, mas de uma maneira diferente, onde os produtos expostos são de diferentes marcas.
A segunda etapa do Open Finance ocorre com a distribuição de produtos financeiros através de uma conexão direta entre bancos, Fintechs e canais de relacionamento com o consumidor. Assim sendo, não é possível minimizar a cama transacional. “Não é só descobrir o produto, mas receber uma cotação e de fato operar, contratar e utilizar esse serviço financeiro”, expõe Taveira.
A reagregação só irá ocorrer, quando o usuário tiver escolha sobre seu internet banking, a contratação de produtos financeiro de outros provedores e escolha sobre o canal de acesso ao serviço. Na opinião do empresário, o sistema que vemos ser implementado no Reino Unido, acontece apesar do Open Finance e não por conta dele. Sendo essa uma oportunidade que também teremos no Brasil.
Este artigo foi escrito por Ricardo Taveira e publicado originalmente em Prensa.li.