Opinião: Perigos do Nacionalismo Brasileiro
O nacionalismo é uma corrente ideológica idealizada pós revolução francesa, e caracterizado pela exposição dos sentimentos e crenças de um povo para com a sua própria nação. No Brasil as primeiras expressões nacionalistas vieram na primeira geração romântica, logo após a independência do Brasil, nas obras desse período os autores retratavam as belezas naturais, étnicas e culturais da recém proclamada nação.
Os dois tipos mais predominantes do nacionalismo na cultura brasileira foram o ufanista e o crítico, expostos principalmente em momentos de grande mudança social e cultural, como a proclamação da república e o movimento modernista.
O ufanismo caracteriza-se como um nacionalismo mais exagerado, aproximado geralmente ao patriotismo, que ignora suas mazelas focando na exaltação das suas belezas. O crítico é uma vertente mais realista do nacionalismo, com a exposição de ideologias e os problemas sociais, político e econômico do país.
Carnaval, Samba e Futebol, é assim que muitos estrangeiros conhecem o Brasil, para o país essa imagem é um reflexo da recente expansão da cultura brasileira no cenário mundial, iniciada nos anos 50 com a cantora e atriz, Carmem Miranda que levou toda a alegria e o “remelexo” do povo brasileiro para Hollywood, e consequentemente o mundo.
Então, para o país é necessário que se mantenha uma imagem externa boa, de uma pátria acolhedora e onde “tudo que se planta colhe”, mesmo que isso signifique mentir sobre a sua própria realidade, ocultando seus problemas e adversidades. No ano de 2019, o Presidente Jair Bolsonaro, criticou o INPE (Instituto nacional de pesquisas espaciais) pela divulgação dos dados sobre o desmatamento na Amazônia - que demonstrou um aumento exponencial no último ano - o que culminou na demissão do presidente do instituto algumas semanas depois, Bolsonaro alegou que “ A divulgação dos dados poderia afetar as negociações comerciais”, em referência ao recém fechado acordo do Mercosul com a União Europeia (UE).
Depois disso houve uma série de troca de farpas entre Bolsonaro e a primeira ministra alemã Angela Merkel, que questionou quais medidas o governo brasileiro estava tomando para conter o desmatamento, até no encontro do G7 com as sete maiores economias do mundo o assunto ganhou pauta, e gerou um grande mal estar do país com o presidente francês Emmanuel Macron. Logo, percebe-se o quão importante é, manter a imagem do brasil limpa e longe dos problemas.
Por outro lado, negar os problemas faz com que ficamos ignorantes sobre a nossa própria realidade e percamos nossa criticidade, porém é necessário dizer que só no primeiro semestre de 2019 os casos de feminicídio aumentaram em 44%, que o Brasil é o país que mais mata transsexuais no mundo e que a taxa de suicídios no país aumentou cerca de 7% em seis anos.
Segundo uma pesquisa da IPSOS MORI, o Brasil é o segundo país mais ignorante sobre sua própria realidade no mundo, isso demonstra que o brasileiro tem uma visão distorcida sobre várias questões, como achar que 83% dos brasileiros têm um smartphone, quando na realidade é somente 38%, além disso a pesquisa mostrou que os brasileiros tem um certo preconceito com os estrangeiros, já que indicaram que cerca de 20% dos presos no brasil são de outra nacionalidade, quando o dado real é 0,4%.
Logo, negar a realidade brasileira é muito importante para o status de nação amiga de tudo e de todos, porém essa falta de criticidade cega o povo brasileiro e nos faz acreditar no que é exposto sem questionamento, abrindo leque para uma sociedade influenciada sem poder de tomar parte das suas próprias opiniões.
Este artigo foi escrito por Johnny Gabriel e publicado originalmente em Prensa.li.