Optimus: eu, robô?
Você se lembra da Rosie, a simpática robô-doméstica dos Jetsons? Ou talvez o C3PO, dróide de protocolo da saga Star Wars?
Talvez estes dois ícones da ficção tenham gerado (ou construído) um filho, e ele já tem data para nascer. No mundo real.
O Optimus, criação da Tesla, deve ser apresentado ao mercado num evento em 30 de setembro. Juntam-se a outras invenções vindas dos sonhos de Elon Musk, como seus carros elétricos-autônomos, a belíssima Starship, o titânico Falcon Heavy, a constelação satelital Starlink, e mesmo o transporte subterrâneo futurista Hyperloop.
Os sonhos ficam mais turvos em ocasiões como a misteriosa visita ao governo brasiuleiro, ou a ilógica insistência em que funcionários do grupo voltem ao sistema presencial, na contramão de boa parte do mercado, ainda mais com a Covid-19 em pleno recrudescimento. Mas, voltemos ao assunto.
Pau (ou metal) pra toda obra
O Optimus, que lembra os personagens do filme Eu, Robô, terão um 1,50 de altura e algo em torno de 57 quilos. Foram desenvolvidos para se mover a 8 quilômetros por hora, carregando até vinte quilos.
A ideia, segundo Musk, é suprir problemas imediatos de mão de obra em fábricas, colocando unidades Optimus para fazer “atividades chatas” que os humanos não gostam de fazer.
Por um lado, uma ideia absurdamente inteligente e muito bem vinda. Afinal, o conceito de “robô” é exatamente esse.
A palavra foi cunhada para a peça teatral R.U.R. - Robôs Universais de Rossum, em 1921. Seu autor foi o tcheco Karel Čapek. A origem é uma expressão de seu idioma natal: “robota”. Em português, “trabalho forçado”. A peça fez sucesso com adaptações em vários países europeus, e logo a palavra “robô” correu o mundo.
Os robôs originais de Karel Čapek, numa adaptação televisiva em 1938 | Imagem: BBC
A ideia de Elon Musk com seu Optimus parece um tanto altruísta. Mas aqui entra o preocupante outro lado da história. Conhecendo um tiquinho de psicologia humana, e outro punhado da cabeça de uma boa parte dos empresários mundo afora, os elegantes Optimus podem desencadear (e não será sua culpa) uma crise empregatícia inédita.
Prejuízo humano à vista?
O custo de implantação de uma força de trabalho com várias unidades robóticas numa fábrica deverá ser alto (apesar de ainda não haver previsão de valores). Com o tempo, sairão muito mais em conta que a força de trabalho humana. Robôs não tiram férias, não pedem aumento, não precisam de planos de saúde, FGTS, direitos básicos, não fazem greve, e por aí vai.
Não que eu não apoie o uso de máquinas para a realização de trabalhos enfadonhos, repetitivos ou perigosos. O mundo e a tecnologia evoluem, e isto não é errado. Mas tenho certeza que ao ler essa notícia, muitos patrões brilharam os olhinhos só de pensar na economia que farão.
Os Optimus (cujo nome deve ser muito popular lá pelos lados de Robópolis, visto o famoso Optimus Prime) deverão interagir entre seus pares – como borgs ou cybermen – com capacidades avançadas de inteligência artificial, incluindo a rápida adaptação a situações adversas.
Uma equipe Optimus em pleno aquecimento | Imagem: Tesla/TurboSquid
Teremos mais informações a seu respeito no Tesla IA Day, o evento que deverá apresentá-los oficialmente ao mundo no final de setembro de 2022. Segundo seu criador, deverá ser algo completamente inédito e inesperado para a história da Humanidade.
Quem avisa, amigo é!
Entretanto, um aviso para os empresários que sentiram comichões ao pensar na substituição humana. Recomendo pesquisar com carinho a obra de Čapek. O desfecho não é lá muito agradável. Eu, Robô, obra máxima de Isaac Asimov, também não. Robocop, Blade Runner, ou por que não lembrar dos adoráveis andróides da Skynet? Ultron, talvez?
A ficção nos dá bons exemplos de onde ganância desmedida pode nos atirar. Que venham os robôs. Mas vamos com calma.
Este artigo foi escrito por Arthur Ankerkrone e publicado originalmente em Prensa.li.