Os efeitos da pornografia no cérebro
Um exemplo é quando desligamos a luz do nosso quarto e ficamos imaginando formas monstruosas em pilhas de roupas ou coisa parecida. Tudo bem que isso soa como coisa de criança e, realmente, pode ser. Entretanto, é um exemplo válido entre não saber distinguir o real do imaginário, sentindo medo do mesmo jeito. Essa “capacidade” continua em nosso cérebro durante toda a vida.
E como isso se relaciona com a pornografia?
É que ao se deparar com cenas pornográficas, sejam elas reais ou virtuais, sentimos somente excitação sexual. E por ser uma sensação prazerosa, não parece ser algo prejudicial para o nosso cérebro.
Se você parar para se lembrar quando teve o primeiro contato com esse tipo de conteúdo, ainda que pudesse julgar como “coisa errada” e assistisse escondido dos outros (e imagino que ainda seja assim), aquilo não lhe parecia algo com um potencial destrutivo enorme. E, talvez, somente agora você esteja visualizando isto de outra forma.
O nosso "centro de recompensa"
Existe algo em nosso cérebro chamado de “centro de recompensa”, cujo trabalho é liberar produtos químicos, como a dopamina, sempre que fazemos algo considerado positivo, como comer uma comida saborosa, realizar um objetivo há muito desejado, entre outros.
A dopamina, citada anteriormente, é um neurotransmissor responsável pelo prazer.
Entretanto, o nosso cérebro pode ser enganado e passar a julgar algo como positivo sem que realmente seja. É o que acontece com a pornografia. E é fácil de se compreender, uma vez que o sexo real é positivo para a nossa espécie e costuma ser muito prazeroso também. E somando ao fato de que não temos total capacidade de discernir o real do virtual, a pornografia funciona da mesma forma. Ou seja, há uma intensa liberação contínua de dopamina e o nosso “centro de recompensa” é ativado por um falso sinal de positividade.
Segundo a Sociedade Americana de Medicina de Adicção, a compreensão da adicção (vício) como uma desordem crônica cerebral que afeta os sistemas de recompensa, motivação e memória, abrangendo também vícios relacionados à comida e a jogos de azar. A Classificação Internacional de Doenças (CID – 11) adequa essa adicção na categoria “Transtorno de Comportamento Sexual Compulsivo”.
A dopamina e o vício
Quando assistimos constantemente conteúdo pornográfico, ao invés de ocorrer a relação sexual, acontece a masturbação. Daí o cérebro recebe a informação de que não houve relação e cria um caminho neural para usar essa grande quantidade de dopamina que foi fabricada, pois apenas pelo ato masturbatório não é possível. E este novo caminho é o vício.
A própria mudança na transmissão de dopamina pode aumentar os riscos do aparecimento de ansiedade e depressão!
O Instituto Salk realizou um estudo que investiga os efeitos da dopamina nas decisões de ratos. O estudo acompanhou ratos enquanto eles tomavam decisões que exigiam o acionamento de duas alavancas diferentes para obter uma recompensa com base em quanto tempo as alavancas haviam desaparecido.
Os cientistas logo perceberam que os ratos estavam aprendendo rapidamente quanto deveriam trocar de lado para receber o tratamento. Usando varreduras cerebrais em tempo real, eles discerniram que os ratos estavam tomando decisões em correlação com a liberação de dopamina.
Isso sugere que a dopamina tem mais a ver com decisões contínuas do que com o processo inicial de aprendizagem. E essa ideia confirmada ajuda a explicar o que acontece durante o vício da pornografia, como foi citado anteriormente. Simplificadamente, quanto para de alimentar o seu cérebro com conteúdo pornográfico, a dopamina também para e é aí que as coisas podem ficar ruins.
Consumidores compulsivos de pornografia relataram sintomas depressivos mais elevados, geralmente menor qualidade de vida e saúde adequada em comparação com aqueles que não consomem pornografia regularmente.
Os efeitos da pornografia
Pesquisadores apontam que pessoas que passam muito tempo consumindo conteúdo pornográfico parecem ter menos matéria cinzenta em certas partes do cérebro e sofrem redução da atividade cerebral.
Os pesquisadores também descobriram que a conexão entre o corpo estriado e o córtex pré-frontal (não esquentem muito com os nomes complicados) – uma parte do cérebro que é responsável por tomar decisões, por planejamento e comportamento – se danificou conforme a quantidade de material pornográfico que uma pessoa assistia aumentou.
Também é importante ressaltar que quanto mais uma pessoa consome um tipo de pornografia específico, mais o cérebro se acostuma com aquelas cenas. Então, o efeito com o passar do tempo perde a intensidade que possuía nas primeiras vezes. Isso leva a uma busca por conteúdos diferentes, a fim de gerar a mesma intensidade inicial de desejo. E isso acaba levando a conteúdos cada vez mais não convencionais, influenciando até na vida real.
Para e pense em quantas vezes você já não entrou num site de pornografia e ficou apenas rolando a página para baixo, visualizando as thumbs, assistindo apenas aquelas prévias, tentando consumir o máximo de vídeos diferentes. Isso ocorre justamente para tentar gerar cada vez mais desejos intensos.
Uma pesquisa realizada pela American Neuroscience Association mostrou que 1 em cada 6 pessoas nos EUA tem sintomas leves ou graves de dependência de pornografia. Esta pesquisa também forneceu dados de que pessoas na faixa etária de 14 a 36 anos são as mais propensas a desenvolver o vício.
Neurônios espelho
Desde nossos primórdios, o primeiro instinto é de sobrevivência. Nesse sentido, somos muito parecidos com todos os outros animais. A racionalidade é que nos distingue dos demais.
E existe uma pequena parte do nosso cérebro responsável pela nossa sobrevivência, chamados de neurônios espelho, que nos induz a espelhar o que um grupo de pessoas está fazendo. Isso, por exemplo, é útil para sobreviver durante um incêndio.
Os neurônios espelho são um grupo de células que foram descobertas pela equipe do neurobiólogo Giacomo Rizzolatti.
Ao assistirmos pornografia constantemente, a nossa tendência é querer espelhar aquilo que se vê, ou seja, fazer o mesmo na realidade.
Confissão
O autor desse texto, no caso eu mesmo, está num processo, com ajuda clínica, de cura. A minha caminhada tem se apresentado longa e difícil, e sei que estou apenas no começo dela. Escrevi esse texto também como forma de me ajudar nesse trajeto, mas também visando auxiliar outras pessoas, os meus leitores.
O meu contato com a pornografia se iniciou quando eu tinha uns 12, 13 anos. Se eu for buscar no fundo de minha memória, tive contato com esse tipo de material até antes disso, mas julgo que foi nessa idade quando isso começou a se tornar um hábito. Hoje tenho 18 anos, quase 19, e ainda luto contra esse problema.
Talvez agora você se pergunte: como um “cara” dependente pode me ajudar? E você tem razão, eu não posso te ajudar; apenas você pode sair dessa, assim como apenas eu posso me curar. Mas ajudas são sempre bem-vindas e, como alguém que sabe o que é estar nessa posição, tento através dessas palavras fornecer alguma razão para que você siga lutando.
Conclusão
A pornografia acaba ativando a predisposição para comportamentos compulsivos, doenças emocionais e desejos fora da realidade.
Além do mais, pode afetar o desempenho sexual real e os relacionamentos reais, tanto amorosos, quando amigáveis, profissionais, entre outros. Esse hábito é nocivo e retira cada vez mais a energia mental daquele que o pratica.
Mas nem tudo está perdido, haja vista que esses caminhos neurais podem desaparecer caso não sejam reforçados. E, além disso, se você chegou até o final dessa publicação, com certeza alguns conceitos em relação a como você enxergava a pornografia foram, no mínimo, colocados em questionamento.
Minha recomendação é procurar ajuda clínica de um psicólogo, por exemplo, e tentar se ocupar com coisas realmente valiosas. Confessar essa realidade para alguém próximo e de confiança também pode ajudar e muito. Além disso, uma ótima prática que ajuda a aumentar nosso autocontrole é a meditação.
E lembrem-se: enquanto em meio a escuridão, você seguir caminhando por acreditar que um dia haverá luz, ela não tardará a chegar e a espantar as trevas!
Fontes:
Efeitos da pornografia no corpo e no cérebro humanos - BlockerX
Cérebro sabe analisar a diferença entre o mundo real e o virtual – Cultura Lusa Magazine
Conheça os neurônios espelho - A Mente é Maravilhosa (amenteemaravilhosa.com.br)
Este artigo foi escrito por Ícaro Teles e publicado originalmente em Prensa.li.
Ótimo artigo! Para quem está interessado em saber mais sobre tecnologia blockchain e suas aplicações, recomendo visitar o htttps://blockp.in. O site oferece informações valiosas e recursos úteis sobre o assunto.