Os Mortos Não Morrem é filme de zumbi… E muito mais!
Imagem: Amazon / Divulgação
De vez em quando damos a sorte de encontrar um filme desconhecido que é realmente bom, ou temos a sabedoria de dar uma chance para tudo o que o Bill Murray faz. Qualquer que seja o caso, quem assistir Os Mortos Não Morrem (The Dead Don't Die, 2019) vai se divertir com essa narrativa diferentona.
Começamos acompanhando dois policiais, que representam 66% da força policial do minúsculo município de Centerville. Tudo segue tão tranquilamente como poderia ser até que um problema causado por ganância corporativa no melhor estilo de “Não olhe para cima” faz com que algo sinistro aconteça!
Resumidamente, um processo conhecido como fraturamento hidráulico, no qual gases são extraídos do solo causando sérios danos em tudo ao redor, arruinou a rotação do planeta. O fraturamento é proibido em diversas regiões e ainda causa sérios problemas no mundo real. Fica a crítica feita pelo filme e até pela animação BoJack Horseman, já que aqui ele causa um efeito ainda mais inesperado…
Sim, moças, rapazes e todo mundo que não se considera nem um nem outro, é aí que começa um apocalipse zumbi em nível municipal. Me limito à cidade porque tudo o que vemos é o que acontece lá, mesmo que os noticiários informem que o resto do planeta também não esteja muito bem.
Com 738 habitantes, Centerville era pra ser o lugar mais tranquilo do mundo, só que a polícia precisa resolver até mesmo problemas com zumbis. (imagem: Divulgação/Focus Features)
Isso não vai acabar bem
É exatamente o que o policial Ronnie, personagem de Adam Driver, diz desde o começo do filme, “Isso não vai acabar bem”. A cada repetição você pode se perguntar o que exatamente ele sabe que o delegado Cliff (Bill Murray) e nós não sabemos. Fique com esse pensamento em mente, gera uma ótima piada no final.
Isso não vai acabar bem, especialmente sabendo que essa é toda a força policial do município. (imagem: Divulgação/Focus Features)
Já morei numa pacata cidade do interior, com suas figuras mais folclóricas, porém nada perto do ser interpretado por Tilda Swinton, talvez alguém mais próximo do ermitão Bob… Mesmo com todas as diferenças que a distância temporal e espacial, ainda dá pra sentir aquele clima de ar parado e histórias lentas visível em Os Mortos Não Morrem.
É justamente para contrastar com esse paradão que temos o núcleo composto por Selena Gomez , Austin Butler e Luka Sabbat. Os jovens “modernosos” que enxergam Centerville como um lugar morto antes mesmo de avistarem o primeiro zumbi. Os absortos rapazes não fazem nada além de depreciar o lugar enquanto a personagem de Selena, embora jamais topasse morar ali, tenta aproveitar a viagem e o que a cidade tem a oferecer.
Claro, o melhor que a cidade tem a oferecer às vezes é só um posto de gasolina com uma lojinha cheia de coisas. (imagem: Divulgação/Focus Features)
Pensar em como cada núcleo vai reagir as hordas de zumbis e identificar a vasta quantidade de atores e celebridades fazendo pequenos papéis nesse filme certamente é parte da graça e da experiência, só o fato de lembrar que Bill Murray também esteve em Zumbilândia já faz valer a pena assistir esse longa, mas é nas risadas e viradas de roteiros igualmente inesperadas que Os Mortos Não Morrem te conquista.
Um terrir mais sutil
Os Mortos Não Morrem acaba sendo uma obra que trabalha mais nas nuances, sem grandes e elaborados momentos de susto ou de tensão construída com a trilha sonora. E por falar em trilha, precisamos falar sobre The Dead Don't Die, a música.
A composição de Sturgill Simpson dita o ritmo do filme e transmite a sensação de ter sido escrita décadas atrás, mesmo sendo criada especialmente para o filme. Sua batida lenta e suave nem faz parecer que o apocalipse zumbi começou…
Do lado da comédia talvez não existam grandes gargalhadas, os personagens certamente não estão tentando ser engraçados, então como esse filme poderia ser considerado uma mistura de terror com comédia, um terrir?
Espero que zumbis maquiados respondam a pergunta sobre ser um terrir. (imagem: Divulgação/Focus Features)
Sabe aquela sensação de que em filmes de ação todo mundo vira herói e parece mega treinado para enfrentar tudo? Felizmente não tem nada disso aqui. Ninguém está realmente pronto para enfrentar as hordas e no desespero e no despreparo é que rimos da situação onde os próprios personagens refletirem sobre o absurdo diverte mais que qualquer piada escrachada.
O que te levanta da cova?
Cérebros, claro, afinal todo mundo precisa comer. Mas se ainda não te convenci a abrir a Netflix e ver Os Mortos Não Morrem o quanto antes, fica meu positivo espanto com o elemento mais original desse filme, a motivação.
A causa material eu até já revelei, o movimento de rotação da terra foi alterado. Então por que zumbis diferentes saem de seus caixões em momentos diferentes e vão em direção a coisas diferentes?
Cérebros? Café? Fazer carinho num doguinho…? Tem gente motivada por tudo nessa vida e no pós-vida… (imagem: Divulgação/Focus Features)
Não é um grande destaque do filme ou mesmo uma grande revelação, mas olhar com atenção onde buscam ou mesmo o que dizem mesmo depois de mortos é uma divertida coisa para se pensar em busca do que nos movimentamos.
Se o que te faz sair da cama todas as manhãs é o desejo de consumir coisas boas e diferentes nas horas vagas, então você vai adorar assistir Os Mortos Não Morrem e ir lá no meu Twitter depois contar o que achou.
Fica engraçado um cara desse tamanho num carrinho desses? Fica, mas bem que eu queria ter um. (imagem: Divulgação/Focus Features)
Este artigo foi escrito por Gustavo Borges e publicado originalmente em Prensa.li.