Ouça o rugido da Cruella, que não é cruel!
Cruella Cruel, é mais traiçoeira que uma cascavel! Ou talvez não.
“Desde cedo eu percebi que via o mundo de um jeito diferente de todos os outros. Isso não agradou a algumas pessoas. Mas a ideia não era agradar a todos. Acho que eles sempre tiveram medo que eu fosse uma psicopata. Mas um novo dia traz novas oportunidades. E eu estava pronta para fazer uma declaração. Como é mesmo que dizem? Eu sou mulher, ouçam meu rugido.”
Cruella de Vil deixou seu recado. Ouçam o rugido da maior vilã da Disney.
Mas antes, alguns pontos precisam ser levados em consideração:
1 - Não! Cruella de Vil não odeia dálmatas;
2 - Você vai apreciar a vilania - na dose certa -;
3 - Esse texto contém spoilers;
Cruella de Vil é a vilã da clássica animação “101 Dálmatas” da Disney, lançada em 1961, que também foi adaptada nos anos 90, com Glenn Close no papel da antagonista.
Na nova adaptação, não temos dálmatas fofinhos como protagonistas, e muito menos ameaçados.
“Cruella”, live-action dirigido por Craig Gillespie, estrelado por Emma Stone e lançado no cinema e na plataforma do Disney+ no dia 28 de maio, conta a origem da vilã, Estella, e todos os seus passos para a revelação do seu alter ego, Cruella de Vil.
Inteligente, criativa e determinada, Estella quer fazer um nome para si através de seus designs de moda e acaba chamando a atenção da Baronesa Von Hellman, interpretada por Emma Thompson.
O relacionamento entre as duas desencadeia uma série de eventos e revelações que fazem Estella abraçar seu lado rebelde e se tornar Cruella, uma pessoa má, elegante e voltada para a vingança.
“Cruella” se destaca como uma das melhores adaptações dos estúdios Disney. Diferente dos outros live-actions de sucesso, como a franquia Malévola, a intenção do filme não é justificar as ações da vilã a partir de episódios traumáticos, e sim nos permitir conhecer as dimensões a qual ela foi atingida.
Uma roupa diz mais que mil palavras
Créditos: Divulgação/Disney (Montagem feita pela TodaTeen)
A reinvenção de Cruella não foi somente na abolição do maus-tratos a cachorrinhos. Ao invés da velha Cruella fumando cigarro e seu estilo clássico das adaptações anteriores, Emma Stone deu vida à personagem como um ícone do punk rock londrino dos anos 70.
Essa reinvenção faz total sentido quando colocamos a antagonista Baronesa em cena com Cruella. As personagens são opostas. Isso parece ser bastante óbvio, mas quando nos atentamos aos detalhes de figurino, as diferenças se tornam ainda mais incríveis.
Cruella desafia o mundo através do seu estilo exótico. Quando criança, ainda como Estella, a menina super criativa sofria na escola por ser diferente. Ao se tornar adulta, tenta se adequar aos padrões. Porém, quando mostra sua originalidade (depois de uma bebedeira), começa a ser reconhecida.
Suas criações se mostram inovadoras frente à moda tradicional, o que cria um paralelo com a cena punk da época, que falava sobre autoexpressão e contra as tradições. Novo e provocativo, o movimento buscava inspirar as pessoas a quebrar regras e ultrapassar limites, assim como a jovem estilista.
A Baronesa representa o oposto. Ela é o retrato de grandes marcas da alta costura presentes na época, e suas coleções estão presas a antigos conceitos, tanto de criação quanto na apresentação de suas coleções.
Com seus vestidos elegantes e atitude elitista, a Baronesa incorpora o alto escalão da sociedade britânica. Isso significa que ela faz parte de um grupo exclusivo. E não importa o quanto Cruella/Estella trabalhe, ela jamais viverá tal padrão de vida.
Todo esse sucesso na construção das personagens vem, além das atuações, do trabalho da figurinista Jenny Beavan (vencedora do Oscar na categoria por Mad Max Estrada da Fúria e O Discurso do Rei) e da construção estética desenvolvida pela designer de produção Fiona Crombie (indicada ao Oscar na categoria por A Favorita).
Ser cruel ou não ser, eis a questão.
Créditos: Divulgação/Disney
“Eu não sou a doce Estella. Por mais que eu tentasse, eu nunca fui. Eu sou Cruella. Eu nasci brilhante, má e meio maluquinha”.
“Cruella” nos leva a refletir sobre o conceito moral da maldade.
É algo que vem de berço? Ou apenas uma personalidade forte? No caso de Cruella parece ser uma mistura de ambas, que são tratadas como duas personalidades em conflito: a tímida e sonhadora Estella “versus” a determinada e ambiciosa Cruella.
Ao longo do filme, a jovem designer começa a se perder na sede de poder e deixa cada vez mais de lado o jeito sensível e emotivo, mostrando-se mais perversa e aproximando-se da versão de Cruella que conhecemos.
A adaptação não esconde que sua personagem principal sempre teve uma inclinação para a psicopatia. Mesmo que use eventos traumáticos para construí-la, o longa não tenta usar essas experiências como justificativa para os atos de Cruella.
Desde a infância, a protagonista - que nesse período é vivida pela incrível Tipper Seifert-Cleveland - é geniosa, agressiva e avessa às regras e padrões. Entre problemas na escola e em casa, a garota também mostra sinais de genialidade e criatividade.
A intenção da adaptação não é validar eventuais ações pertencentes à vilã, mas sim deixar claro que ela é, assumidamente, Cruella, seja isso bom ou mal, certo ou errado.
É óbvio que a vilã possui sérios distúrbios, e nada garante que ela não irá assassinar cachorrinhos –nos filmes, não, mas na sua imaginação, talvez. Entretanto, as atitudes vistas no longa são mais do que justificáveis. Afinal, se ela não matou ninguém, o que à torna tão má e cruel?
Cruella é “cruel” porque rugiu mais alto que a personagem Baronesa. Contestou seu lugar no mundo da moda e aproveitou de sua “maluquice” para incluir mais uma etapa no seu processo de luto, a si mesma e à mãe adotiva, sua vingança.
Mais uma vez a Disney faz o seu papel em mostrar novas facetas. Ou melhor, mostrar que nem tudo que é preto e branco é cruel.