A Outra
Ela me persegue! Por onde eu passo, eu vejo o seu reflexo, está sempre atrás de mim. Pronta para pular em cima de mim e me pegar, posso sentir o suor escorrendo nas minhas costas. Passando por cada vértebra da minha coluna, me fazendo arrepiar e um cheiro de que aqueles que caçam tanto adoram. Mas eu não posso deixar! É loucura me entregar a ela, deixar que me pegue e fazer coisas inimagináveis comigo. Penso em correr, mas por onde eu for ela está atrás de mim. Eu ainda me lembro como tudo começou, eu estava no espelho, enquanto que penteava meus cabelos. E lá estava ela, atrás de mim me observando, como se me julgasse e com seus grandes lábios sorriu parecendo que ia me engolir. Mas quando eu me virei, ela não estava mais lá. Foi como se tivesse sumido no ar, parecia que tudo aquilo era coisa da minha cabeça. Mas continuou acontecendo, eu vejo ela em todos os lugares! Posso sentir meus pelos se arrepiarem, só em pensar naqueles olhos sem vida ou em como seus dentes eram amarelos que pareciam ser tão parecidos com os meus. Eu não consigo mais dormir, porque que meus sonhos são povoados pela “Outra”, eu não sei quem ela é ou porque me persegue. Só sei que está atrás de mim, e por mais que eu tente não consigo escapar dela.
A “Outra” está sempre lá, do outro lado da Rua ou atrás de mim. Mas às vezes, ela está em minha frente, e me olha com um olhar de morte. Seus cílios decrépitos piscam para mim, seu nariz fino e reto parece se enrugar enquanto sente o meu cheiro. Isso faz eu pensar num leopardo, que sente o cheiro da sua presa a quilômetros de distância e que quando a encontra só quer brincar. Mas eu não sou um brinquedo! Eu não vou ser um Brinquedo! Preciso fazer alguma coisa, mas ninguém me escuta! Todos acham que eu enlouqueci, será que enlouqueci? Estou vendo coisas, minha mente se quebrou até o ponto de imaginar uma perseguidora sobrenatural? Não, não! Eu não posso ficar enlouquecendo! Eu não cheguei a esse ponto, ou será que cheguei!? Balanço a cabeça, e respiro fundo.
Mas então quando puxo o ar, sinto aquele cheiro decrépito e podre que parece me perseguir. Corro para dentro de casa, tranco as mais de 10 trancas que têm na minha porta. Me permito escorregar pela porta, fecho os olhos, enquanto escondo o meu rosto em meus joelhos. Isso tem que ser real, eu não posso estar enlouquecendo! Eu sou mais forte que isso, eu tenho que ser mais forte. É quando sinto alguém acariciar minha cabeça, congelo, porque o cheiro voltou. Olho para cima, vejo aquele rosto sorridente e decrépito me observando, abro minha boca e sinto uma ânsia passar pela minha garganta. E falo.
Quem é você!? O que quer comigo!? - É primeira vez, que tento falar com a “Outra”, ela que é tão parecida comigo, mas ao mesmo tempo tão diferente. Com suas unhas longas, que parecem querer me arranhar. Ela pega com as unhas um fio do meu cabelo e diz.
Eu sou você, sua bobinha! Um dia eu fui sua Sanidade, mas agora sou somente a loucura que sobrou na sua mente. E não somos tão diferentes - Ela me puxa para cima e me força a olhar no espelho, me segura pelo queixo e arregalei os olhos quando vejo como somos idênticas.
NÃO! - E então sou engolida, a última coisa que vejo é meu reflexo é eu e minha loucura.
Imagem de capa - Estefania Pereira
Este artigo foi escrito por Estefania Pereira e publicado originalmente em Prensa.li.