Pais com Deficiência
Poderíamos definir a questão da paternidade como uma definição quando é dada ao nascer a primeira criança do casal. Ou seja, poderíamos dizer que paternidade é uma união de singularidades, em que é mostrada o produto daquela união do casal. Ou melhor, para não colocar o filho como um objeto, podemos dizer que com a união de dois sujeitos se dará um outro sujeito. Mas, ser pai, para alguns, vai muito além da paternidade e existem mais que não se enquadram em definições antigas de família “perfeita”.
E os pais com deficiência? Sim, com o aumento de políticas afirmativas para mostrar que pessoas com deficiência, apesar da deficiência, são pessoas, houve um aumento significativo de paternidade nesse meio. Não que não houvesse, mas, existem muitos mais evidências desse tipo de coisa e paradigmas vem mudando. Embora haja muito preconceito (capacitismo) dentro desse e de outros temas que não são comuns – pelo menos, nos critérios que são dessa sociedade – em que ainda somos taxados de “exemplo de superação”, sendo que isso não é novidade para ninguém.
Poderíamos definir a deficiência como uma qualidade do que é deficiente. Um termo pode estar deficiente de significado, por exemplo, como um objeto pode ser deficiente de uso. Por outro lado, se tratando de pessoa (como indivíduo), tem o significado que essas pessoas estão se veem impedidas ou condicionadas algumas das atividades cotidianas, consideradas “normais”, por conta de alterações das suas funções intelectuais ou físicas. Mesmo assim, não há impedimento de uma adaptação para se fazer essa tarefa.
Conheço vários exemplos de pais com deficiência e que mesmo a deficiência, estão sustentando e cuidando de seus filhos. Como conheci também, vários outros que, por imaturidade, não assumiram seus filhos e desapareceram. Afinal, deficiência não deve ser critério para atos éticos. A questão é fácil: a paternidade é muito mais profunda do que ter um filho e isso não deveria ser extraordinário. Meus amigos, por exemplo, defenderam seus diretos de serem pai e terem uma vida conjugal. Outros, como conquistaram o direito e o espaço profissional, conheceram suas parceiras e se casaram com o fruto um filho.
A paternidade com deficiência tem outros desafios, outras questões a serem superadas. Como os filhos esclarecerem que o pai não está doente e sim, está com uma deficiência e não por isso, é menos pai. Existem, ainda, visualizações de conceitos antigos que veem a deficiência como algo limitante. Mas não é. A deficiência nos mostra que temos que ter paciência de algumas pautas que não são como queremos, como se a vida nos desse um “calma ai”. Mas, tantos outros quebraram paradigmas para nos dar certas liberdades, quem sabe, eles estão abrindo espaço e mostrando que homens com deficiência podem ser pais como eles.
Qual é a cerne do problema? Por muito tempo ficamos com o estigma de crianças ou adultos “defeituosos” – como se fossemos máquinas – e pessoas que não tem nenhuma “serventia”. Éramos trancados – os reacionários são loucos para nos trancar – em instituições e não tínhamos nem vez e nem voz para alcançar nossa liberdade. Provando que temos escolha. Temos consciência de tudo aquilo que temos direito. Então, por que não exercer o direito de ser pai?
Este artigo foi escrito por Amauri Nolasco Sanches Junior e publicado originalmente em Prensa.li.