Pantanal: “no meu tempo era melhor”
Apesar do Twitter ser uma rede social povoada por muitos adultos, muitos no glorioso caminho da terceira idade (vide quem redige estas linhas), pude reparar que boa parte dos comentários são formulados por jovens. Que sequer sonhavam estar vivos na época da primeira versão.
Reclamar é preciso, viver não é preciso
Pelo que percebi, muitos ali estão reclamando pelo puro prazer de reclamar. Uma coisa posso garantir: apesar de algumas atualizações, contextos e falas, muitas das cenas e situações criticadas nesta versão são rigorosamente idênticas à versão da TV Manchete.
Também pudera: a versão 2022 é extremamente respeitosa em vários níveis, e nem poderia ser diferente: em primeiro lugar, a costura da trama é feita por Bruno Luperi, neto de Benedito Ruy Barbosa, autor do original; em segundo lugar, é um texto por demais representativo na História da TV brasileira, e por muito tempo um tabu dentro da TV Globo. Qualquer deslize numa nova versão poderia custar caro, ainda mais neste tempo de hates e dislikes.
É certo que a tribuna da internet possibilitou voz a muita gente que encara a reclamação como um esporte. Mas decididamente, reclamar de regravações, remakes, reboots e companhia não é de forma alguma algo novo.
Desde os primórdios até hoje em dia
Na televisão brasileira, isso ficou evidente desde que foram produzidas novas versões de O Direito de Nascer, uma das histórias mais readaptadas da teledramaturgia nacional, para não dizer latino ameriocana.
E o que dizer do dramalhão paulista Éramos Seis? Com versões produzidas pela Record, Tupi (duas vezes), SBT e Globo, todas com grande audiência: nunca faltaram críticas e comparações com as versões anteriores. Por melhores que fossem as versões seguintes. E sempre com aquele bordão: “ah, mas no meu tempo era melhor”.
Que “meu tempo” é esse? Se esse aquilo (ou da versão referenciada) também não fosse seu tempo, a pessoa que critica não estaria assistindo. E certamente não teria do que reclamar.
O Pantanal de 1990, que muitos sequer assistiram, e sabem da história por reprises em outras emissoras, ou pela memória afetiva de parentes com mais idade, tem suas virtudes e seus defeitos, assim como esta versão de 2022.
A revoada dos tuiuiús da mudança
Não há “versão definitiva”. A produção perfeita. São obras abertas, ou seja, sujeitas a modificações conforme a aprovação ou rejeição do público. Isso é válido para qualquer novela ou remake.
Vamos combinar: seria ingenuidade (ou até um tiquinho de má fé) esperar que uma obra originalmente escrita no final dos anos 1980, início dos anos 1990, não sofreria nenhuma modificação ou atualização três décadas depois.
A sociedade, a televisão, o público, o mundo como um todo, mudou. Muda, continuamente. Se em 2050 alguma emissora resolver refazer Pantanal, ou qualquer outra novela de agora, certamente haverá outras nuances. No caso específico desta história, tudo muda. Até a Muda muda.
Não dá pra ter medo ou desconfiança do novo. A mudança pode ser assustadora sim, mas é saudável. E assim como proclama a música tema (num arranjo bem diferente, sem deixar de ser forte e respeitoso), “os filhos dos filhos dos filhos dos nossos filhos verão”! E possivelmente, reclamarão.
Eu volto.
Este artigo foi escrito por Clarissa Blümen Dias e publicado originalmente em Prensa.li.