Parem de ter filhos!

Sim, eu sei: se meus pais tivessem seguido estes meus conselhos tortos e não solicitados eu sequer estaria aqui, hoje, oferecendo-os.

Sim, eu sei: seres humanos pequenos são tão fofinhos, comoventes e afetuosos.

Sim, eu sei: mães choram vendo fotos dos filhos pequenos e sempre lamentam que tenham crescido... E isto, talvez Freud explique porque eu nem de muito, muito longe...

Eu sou somente uma cronista ranzinza que se pega, às vezes (quase sempre, admito); pensando assim: por que as pessoas continuam tendo filhos?

E também: por que mesmo as pessoas que dizem detestar crianças, em algum momento acham que ‘precisam’ ter filhos?

Ah, você deve estar pensando agora ‘que mulher chata e depressiva é esta tal de Ankara’.

Sou chata sim, é o que dizem, e tento lidar com isso escrevendo chatices como esta crônica.

Entenda: amo crianças...

Mas antes de continuar lendo é importante que você saiba: adoro crianças. Adoro estes seres humanos pequeninos, engraçados, livres e espontâneos correndo por aí! E jogando na nossa cara adulta, quase sempre amarrada, perguntas confrontadoras e tão verdadeiras.

Estes pequenos seres humanos sempre nos oferecem um sopro intenso de liberdade, alegria genuína e graça que tornam nossa vida adulta suportável.

Ora, mas então por que você escreveu lá em cima ‘parem de ter filhos?’

Você deve estar se perguntando de novo.

 Pois é, não pense você que lido bem com isso, afinal, já sou um filhote de gente que atingiu a fase adulta e sou (talvez por isso, ou não) contraditória e limitada. E o que penso hoje, neste domingo calorento de um verão do século XXI, é muito menos que nada... Sequer poeira cósmica que vai se perder na espiral infinita do tempo.

Mas antes de tê-las é bom pensar um pouquinho...

Contudo, no entanto (e etc.), ainda acho que trazer seres humanos ao mundo é, sim, uma ideia ruim quando:

- penso que já somos quase oito bilhões de seres humanos sobre esse planeta, vivendo e deixando nossas sujas pegadas por aí;

_ penso que este planeta já foi devidamente devastado e emporcalhado por nossa máxima culpa! E sim, você também tem culpa, quer queira quer não;

_ penso que o tal desenvolvimento tecnológico tão revolucionário NÃO trouxe uma vida melhor para 780 milhões de pessoas que dividem a terra conosco e continuam vivendo na miséria;

_ penso que a maioria das pessoas tem filhos (ou querem ter) por pressão social e familiar e não porque gostam, DE FATO, de seres humanos pequenos por perto;

_ penso que muitos homens e mulheres até hoje, neste século XXI, dizem que querem ter filhos somente para que sejam cuidados na velhice e esta NÃO É uma razão justa;

_ penso nos muitos adultos que têm filhos e nunca param para conversar com suas crianças ou orientá-las e só querem exibi-las por aí como uma espécie de troféu ou bibelô.

Crianças precisam ser amadas

 São muitas as razões, como veem.

 E sim, ao mesmo tempo que penso todas essas inutilidades, sei que um mundo sem crianças seria de uma amargura insana.

Um mundo sem as emoções genuínas que as crianças nos oferecem, gratuitamente, poderia ser até perigoso e insalubre.

Pois é, apesar disso, ainda acho que já passou da hora de pensarmos nas razões que listei aí em cima. Quem se habilita?!

Você tem filhos? Então, ame-os de verdade e não só na hora de postar selfies de festas de aniversário na rede social. Ame-os sujos e chatos também! E mais tarde, na hora estranha da adolescência e por toda a eternidade (rs).

Agora, se você não tem, não quer ter, mas sente as pressões familiares para tal, guarde este recado inútil: não deixe ninguém decidir isto. Tenha filhos para seguir um desejo íntimo e verdadeiro, não para agradar quem quer seja e ponto final.

Este artigo foi escrito por Ankara Faulkner e publicado originalmente em Prensa.li.