Paulo Freire: Patrono da Educação no Brasil completaria 100 anos
Paulo Freire, Patrono da educação no Brasil. No dia 19 de setembro de 2021, o educador, pedagogo e filósofo completaria 100 anos. Originário de Recife, Pernambuco, Paulo Freire é um símbolo na luta pela educação, sendo reconhecido internacionalmente como um dos maiores educadores do século XX.
São 29 títulos de Doutor Honoris Causa dados por universidades da Europa e da América, e também prêmios como Educação pela Paz, da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciências e Cultura (Unesco).
Na década de 1960, Freire participava de movimentos de educação e, no governo de João Goulart, coordenou o Plano Nacional de Alfabetização, cujo objetivo era alfabetizar 5 milhões de pessoas. Seu método era conhecido como “pedagogia da libertação”, uma proposta de educação crítica e à serviço da transformação social.
Na visão de Freire deveria haver uma troca horizontal entre educador e educando. O filósofo tinha críticas em relação ao modelo de educação bancário, ou seja, uma transferência vertical de conhecimento, no qual o ensino já vinha com conteúdos prontos para seus alunos.
Para Freire, que acreditava na educação conscientizadora e na formação de estudantes críticos, aquilo representava uma forma de autoritarismo que desestimulava a curiosidade dos educandos.
Alfabetização de adultos
Um dos maiores marcos de Paulo Freire foi seu método de alfabetização de adultos, que tinha como base o uso de palavras que dialogavam com o cotidiano do estudante. Freire chamava tais palavras de “geradoras”.
O método foi aplicado pela primeira vez em 1963, na cidade de Angicos, sertão do Rio Grande do Norte. Era uma experiência inédita: alfabetizar 300 adultos em 40 horas de aula, mas sem cartilha alguma. Outra intenção de Freire era despertar a consciência política.
Moradores de Angicos participando do curso de alfabetização de adultos - Crédito: Repórter Brasil
Para realização do experimento, Freire estabeleceu um contato prévio com os participantes, entendendo suas realidades, estudando suas histórias e o contexto em que estavam inseridos. Isso era essencial, já que o Patrono da Educação Brasileira se baseava nas experiências de vida das pessoas e não nas tradicionais cartilhas de alfabetização.
O método Paulo Freire de alfabetização é dividido em três etapas:
Investigação
Professor e aluno examinam as palavras e temas que compõem o universo do estudante e a partir daí são definidas as palavras geradoras.
Tematização
Dentro dos temas encontrados busca-se o seu significado social, para em seguida associar as palavras ao cotidiano do aluno.
Problematização
Professor e aluno buscam a visão crítica do mundo, partindo para a transformação do contexto vivido.
A experiência de Paulo Freire deu tão certo que inspirou o Plano Nacional de Alfabetização, que infelizmente nunca saiu do papel por causa do golpe militar de 1964.
Na época, Freire foi acusado de subversão e preso durante 72 dias. O educador deixou o Brasil no mesmo ano e se exilou no Chile, onde escreveu sua maior obra: “Pedagogia do Oprimido” (1968). Freire ainda passou pelos Estados Unidos e Suíça.
Pedagogia do Oprimido
De acordo com levantamento de Elliot Greeni, especialista em estudos sobre desenvolvimento e aprendizagem da London School of Economics, em 2016, o livro “Pedagogia do Oprimido” foi o terceiro livro mais citado em trabalhos pelo mundo.
Até o ano do estudo, a obra já havia sido mencionada 72.359 vezes, deixando o educador acima no ranking de pensadores como Michel Foucault, Pierre Bourdieu e Karl Marx. Em primeiro e segundo lugar estavam Thomas Kuhn e Everett Rogers, respectivamente.
Aliás, a obra de Freire também está na lista dos 100 livros mais pedidos em universidades de língua inglesa, sendo o filósofo o único brasileiro integrante dessa lista, de acordo com o projeto Open Syllabus.
Em seu livro mais famoso, Paulo Freire defende uma nova forma de educação, focada na conscientização e diálogo entre professores e alunos. Ele acreditava que a educação tradicional apoiava e mantinha o status da sociedade, já que não proporcionava mudanças nem incentivava pessoas a desenvolverem senso crítico.
São abordados temas como a luta pela desalienação, pelo trabalho livre, pela afirmação dos seres humanos como pessoas, e não coisas. A educação para Freire é um ato político que liberta os por meio da “consciência crítica, transformadora e diferencial, que emerge da educação como uma prática de liberdade”.
O que diria Freire
Passamos pelo Centenário de Paulo Freire, e é difícil não imaginar o que o educador diria se visse o que foi feito de nossa educação nos últimos dois anos.
Se antes o Brasil já enfrentava problemas no seu ensino, agora com a pandemia, ele conseguiu regredir 20 anos na educação, segundo pesquisa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Sem mencionar que o país foi um dos que menos investiu na educação neste período: US$ 3.250 por aluno ao ano contra mais de US$ 10 mil na média dos 38 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Este artigo foi escrito por Luana Brigo e publicado originalmente em Prensa.li.