Pela Tolerância e Diálogo com Eleitor de Bolsonaro
Legenda: Gabriel Moreira/UOL
Às vésperas das eleições de 2022, teremos que focar nas desgraças que acometem a população mais pobre do Brasil, vítima da omissão do governo federal durante o pós-pandemia.
É impossível ignorarmos a manifestação política bolsonarista em defesa da barbárie e da pauta de costumes. No entanto, não podemos permitir que os bolsonaristas pautem o debate público, pois nessa seara dos costumes - visto o conservadorismo de grande parte do povo brasileiro - reside o capital político de Bolsonaro.
Nenhum político, entretanto, tem 26% de intenção de votos - resultado da última pesquisa do instituto Datafolha - se amparando apenas num discurso comportamental. O presidente tem um apoio significativo dos mais pobres.
E isso não se deve à falta de consciência política do “pobre de direita” - termo grotesco utilizado por parte da esquerda -, às fake news bolsonaristas, ou por identificação do povo à postura de Bolsonaro.
O fato é que uma parcela da população mais pobre teve ganho material nos últimos meses da gestão Bolsonaro, graças ao Auxílio Brasil. Esse programa atende hoje mais de 18 milhões de famílias.
Lembrando que o conceito de família pode se referir a uma pessoa que vive sozinha, ou a uma família com várias pessoas. Ou seja, o número de pessoas beneficiadas é muito mais do que apenas 18 milhões de indivíduos.
Em entrevista, um dos beneficiados pelo Auxílio Brasil, disse que recebia apenas 160 reais de Bolsa Família, e hoje é contemplado com 400 reais pelo Auxílio Brasil. Esse cidadão pobre já confirmou voto em Bolsonaro devido à melhora material em sua vida pelo programa federal. Ele teme que um outro governo eleito cancele ou diminua o benefício.
O discurso que diz, “só mau-caráter ainda vota em Bolsonaro”, “quem vota em Bolsonaro é igual a ele”, não contribui para combater esse governo junto aos mais pobres.
Devemos ter em mente que as pessoas em situação de pobreza ou extrema pobreza lutam pela sobrevivência diariamente. Elas estão preocupadas com soluções imediatas para suas vidas.
O cidadão em situação de vulnerabilidade pode até saber que Bolsonaro prometeu o pagamento de 400 reais de Auxílio Brasil só até o fim do ano eleitoral. No entanto, o que interessa para ele é que ao menos por agora ele tem esse benefício.
Mesmo o Auxílio Brasil cancelado após a reeleição, o beneficiado é grato a Bolsonaro pelos meses em que recebeu 400 reais. Mais do que o dobro dos 160 reais que ele costumava receber de Bolsa Família. Quem tem fome tem pressa, nosso povo vive nesse imediatismo, característico de quem luta para sobreviver.
Vocês, realmente, acreditam que os miseráveis estão preocupados com condutas autoritárias, racistas, homofóbicas, machistas e xenofóbicas de Bolsonaro? Precisamos priorizar as principais demandas da população!
As Mazelas do Governo Bolsonaro
Embora os beneficiários do Auxílio Brasil exaltem o valor do benefício, ainda mais se comparado ao pagamento do antigo Bolsa Família. Devemos alertar que o Banco Central elevou a estimativa de 4,7% do indicador de inflação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), para 7,1% no fechamento do ano de 2022.
A taxa do Sistema Especial de Liquidação de Custódia, mais conhecido como taxa Selic, que estipula os juros básicos da economia brasileira, passou de 11,75% ao ano para 12,75% a/a em maio de 2022.
Devemos chamar a atenção para a decisão do Banco Central de aumentar a taxa Selic com intuito de conter a inflação. No entanto, nossa inflação não se dá por conta do aquecimento da economia decorrente do pleno emprego e, consequentemente, aumento da inflação.
Aliás, muito pelo contrário, temos uma economia quase estagnada e alto índice de desemprego, no último trimestre esse índice foi de 11,2%. Portanto, parte da nossa inflação é causada pela escassez de alimentos. Um resultado da política pública de desmantelamento dos programas de segurança alimentar executada pelo governo Temer e mantido pelo governo Bolsonaro.
As previsões de aumento do PIB para 2022 são desanimadoras. Segundo o FMI, o Brasil irá crescer apenas 0,8%. De forma que o aumento da inflação em vários setores da economia será muito maior do que esse tímido aumento.
Conforme a Oxford Economics, a gasolina brasileira é a terceira mais cara do mundo. Em vez do governo Bolsonaro intervir na política de preço de paridade internacional, responsável pelo aumento abusivo de preço, ele cogita criar subsídio para ser pago por quem sequer possui carro particular.
O gás natural, utilizado como combustível na indústria e nos táxis, teve aumento de 19% neste mês de maio. Inevitavelmente, os industriais repassarão esse aumento para os consumidores, onerando ainda mais o preço de mercadorias básicas.
O gás de botijão (GLP), utilizado sobretudo em residências, estava custando R$113,50 em abril deste ano. O que levou os mais pobres a utilizarem formas alternativas para cozinhar, resultando em acidentes gravíssimos com queimaduras.
Somado a tudo isso, a inflação de alimentos, a que mais castiga os mais pobres, subiu 3,09% somente no último mês de março. Segundo o IBGE, a inflação geral no mesmo mês foi a maior desde o início do Plano Real.
E o que é pior, não temos perspectiva de melhora dessa situação ainda este ano. Pelo contrário, a tendência é piorar a já catastrófica elevação de preços de itens básicos da alimentação diária da população.
O aumento do preço do óleo diesel, combustível dos ônibus e caminhões responsáveis pelo transporte de mercadorias, foi de 13,65% no último mês de março. Ou seja, a passagem do ônibus urbano e as mercadorias transportadas por caminhões ficarão mais caras ao consumidor.
Com esse cenário, a inflação irá corroer o poder de compra dos 400 reais de Auxílio Brasil dos mais pobres, pois esse aumento significativo sobre os 160 reais do antigo Bolsa Família, acabará não surtindo efeito na ampliação do consumo, apenas compensará as perdas com a inflação.
Segundo o ex-diretor da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, José Graziano, nunca tivemos tantas pessoas passando fome na história do Brasil como agora.
Conforme Graziano, as instituições de combate à fome estão negligenciadas pelo governo federal, nossa atual situação é de calamidade pública. E a tendência é que, até o fim de 2022, o número de famintos esteja muito maior. É desesperador!
Em outubro de 2021, segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, 116 milhões de brasileiros viviam em insegurança alimentar e 19 milhões de brasileiros estavam passando fome.
Segundo a TR Soluções, a conta de luz do brasileiro ficará pelo menos 12% mais cara em 2022. Em alguns estados o aumento já foi de 24% apenas até maio deste ano. O povo terá que escolher entre comer ou ter energia elétrica em casa.
Isto é, como se não bastasse a inflação causada pela falta de política pública do governo federal em segurança alimentar. Também teremos inflação de mercadorias industriais, pois os empresários repassarão ao consumidor final o aumento do consumo de energia na indústria e no comércio.
Desgraçadamente, às vésperas das eleições, nosso país estará num caos social ainda maior do que assistimos hoje. Devemos nos atentar ao que leva Bolsonaro ainda ter cerca de 30% de aprovação do eleitorado, sem cairmos em moralismos e preconceitos.
Referências Bibliográficas:
Sem água, sem esgoto e sem Auxílio Brasil (uol.com.br)
Eleições 2022: Bolsonaro avança entre eleitores pobres do Norte e Nordeste | VEJA (abril.com.br)
Graziano: fome no Brasil pode chegar a "situação explosiva" - 01/03/2022 - UOL Notícias
Copom eleva taxa Selic para 12,75% ao ano, maior patamar desde 2017 | Economia | G1 (globo.com)
Conta de luz vai subir pelo menos 12%; aumento agita o mercado | Monitor do Mercado
Eleições 2022: Bolsonaro avança entre eleitores pobres do Norte e Nordeste | VEJA (abril.com.br)
BC diz que 2022 deve fechar com inflação de 7,1% | Agência Brasil (ebc.com.br)
Quando a eficiência do mercado gera fome - 17/09/2020 - UOL Economia
Brasil tem 3ª gasolina mais cara do mundo, diz consultoria (uol.com.br)
Reajuste de 19% no gás natural impacta residências, indústria e taxistas | Exame
Cicatrizes da fome: acidentes com álcool crescem na crise do gás (metropoles.com)
Inflação: alívio para preços de alimentos virá apenas em 2023 (uol.com.br)
Inflação em março foi de 1,62%, maior variação para o mês em 28 anos (uol.com.br)
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Este artigo foi escrito por Célio Roberto e publicado originalmente em Prensa.li.