Personalidade do Ano da revista Time: que história é essa?
Não se tem falado em outra coisa nos últimos dias na eleição onde um certo presidente de um certo país da América do Sul teria levado o importante prêmio da “Personalidade do Ano” da não menos importante revista norte-americana Time.
Como era de se esperar, descobriu-se que não era bem assim. O prêmio (que não é exatamente um prêmio) tem duas vertentes: uma, a Votação Popular. Que é importante, mas digamos, nem tão importante assim. A outra, é a Escolha dos Editores. E essa aqui é que pega.
Diferenças básicas
Pela votação popular, sabe-se que certo presidente de certo país da América do Sul é capaz de ganhar qualquer coisa, por métodos que utiliza como ninguém e que não nos cabe no momento tergiversar.
E como a distinta figura é reconhecidamente eficiente em propagar notícias, como posso dizer, nem sempre fidedignas, logo a história correu aquele país da América do Sul. Com direito a divulgação por parte de certos veículos de imprensa.
Só que o peso desta categoria, de votos populares “on-line”, não é o mesmo da categoria principal; para resumir, já ganharam nesse “troféu internet” personalidades tão distintas quanto o líder norte-coreano Kim Jong-Un, o primeiro-ministro turco Erdogan, e a banda de K-Pop BTS.
Mas quem levou, então?
Na Escolha dos Editores, quem levou mesmo foi outro sujeito, um tal empresário e bilionário chamado Elon Musk. Que tem jeito de vilão de história em quadrinhos ou filme da Marvel. E sim, é só um pouquinho menos poderoso que Thanos. Mas prefiro mesmo uma comparação direta com Tony Stark.
No tocante à premiação, perguntam milhões de brasileiros: o que faz esse tal Musk?
Elon Reeve Musk é um “empreendedor, lobista e filantropo sul-africano-canadense naturalizado americano”. O que por si só já é um currículo. De quebra, é presidente da Tesla, SpaceX, Starlink, OpenAI, Neuralink e Solar City.
Ok, não sei se também combate o crime nas horas vagas junto com outros super-heróis, mas uma coisa garanto: o sujeito está desenvolvendo as naves espaciais mais estilosas que se tem notícia (as Starship), e tem a determinação (e a verba) para realmente colocar humanos em Marte num futuro bem próximo.
Nem tanto ao Céu, nem tanto à Terra
E cá entre nós, o que é esse prêmio da Personalidade do Ano?
Muito bem: instituído pela revista Time como “Homem do Ano” em 1927, tendo depois sendo agraciado à “Mulher do Ano” (e foi alternando assim até 1999, quando puseram fim na bagunça usando “Personalidade”), o prêmio é concedido à uma pessoa, grupo ou até mesmo objeto, "for better or for worse... has done the most to influence the events of the year", ou seja, que influenciaram o mundo no ano, para melhor ou pior… coisa que certamente não é bem o que esperavam os eleitores de certo presidente de certo país da América do Sul.
Para conhecimento, o primeiro homenageado foi o aviador Charles Lindbergh, que na época fez “só” a travessia do Atlântico num aviãozinho… Feito muito parecido com o que Musk pretende fazer com suas naves reluzentes. Lindbergh é considerado um herói nacional, mas com algumas tintas controversas.
Quem mais ganhou?
Nelson Mandela, Greta Thunberg, Papa Francisco, Angela Merkel, Mikhail Gorbachev, Charles de Gaulle, Winston Churchill, e até mesmo “O Computador” (vencedor em 1982) foram agraciados. Para se ter uma leve ideia do peso dessa escolha.
Mas, “para o bem ou para o mal”, também foram agraciados Hitler, Stalin e Khomeini, que não são exatamente exemplos virtuosos. Em seu site, a própria Time destaca que o tal presidente de tal país da América do Sul é bem conhecido por seu discurso negacionista, atrasos no combate à Covid-19, incitação de confrontos, bloqueio da liberdade de imprensa, e também que acumula sucessivos pedidos de impeachment. Entre outras coisas que infelizmente conhecemos bem.
Essa revista Time deve ser coisa de comunista, taoquei?!
Eu volto! Acho…
Este artigo foi escrito por Clarissa Blümen Dias e publicado originalmente em Prensa.li.