Perspective Taking e a Aphantasia
Imaginar a posição em que outra pessoa se encontra sob circunstâncias particulares oferece muitos benefícios. Porém, o que exercícios como perspective taking representam quando a nossa capacidade de visualização mental é limitada ou nula? É o caso de indivíduos afantásicos.
Exercícios de perspective taking apresentam o benefício de maximização do uso de informações já adquiridas sobre determinado indivíduo ou grupo. Infelizmente, confiar totalmente em informações que podem ser enviesadas tende a maximizar preconceitos ou estereótipos prévios.
Experimentos
Em uma série de experimentos conduzidos por Nicholas Epley e colaboradores, foram utilizados testes de ‘‘leitura da mente’’ comumente usados. Tentava-se detectar que emoção alguém estava sentindo a partir de uma foto de seu rosto, ou dizer o que alguém estava pensando olhando apenas para seus olhos. Não foram encontradas quaisquer evidências de que esses exercícios - colocar-se no lugar de outra pessoa e imaginar o mundo através dos olhos dela - aumentou a precisão desses julgamentos.
Na verdade, em ambos os casos, o perspective taking diminuiu consistentemente a precisão de acertos. Pensar demais nas expressões faciais ou em intenções internas quando há poucas informações disponíveis pode induzir mais ao erro do que a insights.
Esses exercícios também possuem uma desvantagem inerente: para sua realização, é necessária a habilidade de imaginar. Senão imaginar, minimamente visualizar mentalmente a posição subjetiva em que outro indivíduo se encontra. Isso pode ser extremamente difícil para indivíduos afantásicos.
A Experiência Afantásica
Apesar de sermos completamente capazes de sentirmos e expressamos empatia, a visualização mental dessa posição subjetiva não se dá em termos de imagens ou uma complexa sequência de acontecimentos imagéticos. O que geralmente acontece, como afantásica, é o estabelecimento de relações entre diferentes palavras.
Por exemplo, sou capaz de reconhecer a tristeza de alguém que acaba de perder um ente querido doente, mas isso acontece através da consciência dos fatos, e da relação que estabeleço entre as palavras ‘‘triste’’ e ‘‘perda.’’ A fonte não vem de uma capacidade profunda de visualizar mentalmente o adoecimento desse ente querido e a sua subsequente morte, que causam tristeza.
Caso não haja um reconhecimento dos fatos, ou a nossa perspectiva sobre eles se apoie em preconceitos, considerar cuidadosamente a perspectiva de um terceiro só aumentará as consequências do preconceito. Isso é particularmente provável em conflitos, onde membros de lados divergentes tendem a ter opiniões imprecisas uns sobre os outros. Ironicamente, o conflito também é o momento em que perspective taking é mais frequentemente endossado como uma solução.
A Real Solução
Dessa forma, tanto para pessoas fantásicas quanto para pessoas afantásicas, reconhecer os limites do nosso ‘‘sexto sentido’’ sugere uma abordagem diferente para compreender a perspectiva dos outros: tentar entender arduamente a perspectiva em vez de assumi-la como certa. Assim, o ponto de partida para a obtenção da perspectiva não envolve nossas próprias opiniões e vieses sobre o outro; o ponto de partida é o outro.
Comunicamos o conteúdo de nossas mentes, seja esse conteúdo imagético ou escrito, principalmente por meio da linguagem. Como Daniel Gilbert escreve em Stumbling on Happiness: "se você escrevesse tudo o que sabe e, em seguida, voltasse na lista e fizesse uma marcação ao lado das coisas que você sabe apenas porque alguém lhe disse, você desenvolveria um comportamento repetitivo - transtorno de movimento, porque quase tudo que você sabe vem de segunda mão.”
É por isso que William Ickes, um especialista em precisão empática, acha que ‘‘o melhor preditor (até agora) da precisão empática parece ser a inteligência verbal.” Conhecer a mente dos outros requer perguntar e ouvir, não apenas inferir e adivinhar.
A subjetividade do outro nunca será um livro aberto, e nem deveria ser. Entretanto, o segredo para compreendermos melhor uns aos outros parece não vir de uma capacidade maior de ler a linguagem corporal ou de uma melhor forma de aplicação do perspective taking, mas sim da possibilidade de colocar outros em uma posição em que possam dizer o que pensam de forma aberta e honesta.
Imagem de capa - Peças de lego coloridas espalhadas. Fonte: Xavi Cabrera
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Este artigo foi escrito por Amity Dystyler e publicado originalmente em Prensa.li.