Pesquisa divulga dados alarmantes sobre fome no país
Quarta-feira, 8 de maio de 2022. Nesse dia, o levantamento do instituto Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) foi bastante noticiado por todos os jornais do país. Não foi pra menos, já que a pesquisa revelou que atualmente 33 milhões de pessoas sofrem com a fome no Brasil. A situação já se assemelha aos anos 1990, quando o país amargava um quadro que o colocava no rol de países presentes no chamado Mapa da Fome.
Os dados foram coletados entre novembro de 2021 e abril de 2022, com entrevistas em 12.745 residências em áreas urbanas e rurais, em 577 municípios de todo o país. Segundo o levantamento, somente 4 entre 10 lares estão em condição de segurança alimentar. Os outros 6 variam em uma escala entre os que permanecem preocupados com a possibilidade de não conseguirem alimentos no futuro e os que já estão passando fome.
Por que o Brasil figura novamente no mapa da fome?
Uma série de fatores fez com que o Brasil voltasse a figurar na lamentável lista dos países que estão no Mapa da Fome. A pandemia de covid-19 que assolou o mundo desde o ano de 2020 sem dúvida é um dos motivos que fizeram com que milhões de brasileiros tenham perdido a sua renda e seus postos de trabalho, o que aumentou a desigualdade social.
Mas se engana quem pensa que esse é o único culpado. Um dos outros fatores externos é a Guerra da Ucrânia que tem atingido o mundo em cheio com a redução de exportações de itens como o trigo, o que inflacionou o valor de um item básico, o pãozinho. Além disso, o conflito entre Ucrânia e Rússia dificultou a compra de defensivos agrícolas pelo agronegócio brasileiro, o que pode gerar dificuldades na safra deste ano e já fez com que alguns itens tenham ficado mais caros.
Contudo, os percursos que levaram o Brasil a esse quadro são perpassados também por motivos internos. A alta da inflação gera uma redução do poder de compra das famílias. Você provavelmente já notou isso ao fazer compras no supermercado e verificar o aumento acelerado dos preços de vários produtos.
O arroz, o óleo de soja, o pãozinho, o feijão, a carne. Alimentos básicos do dia a dia do brasileiro que tiveram grandes aumentos no valor repassados ao consumidor nos últimos meses e têm feito com que a população tenha dificuldades em manter seus hábitos alimentares e, muitas vezes, dependa de doações.
A ausência de uma política pública mais efetiva agrava o problema, já que o atual valor do Auxílio Brasil de R$ 400,00 muitas vezes é insuficiente frente aos crescentes aumentos nos valores de itens básicos no cotidiano das pessoas.
Vale apontar que a fome afeta sobretudo pessoas negras, menos escolarizadas e mulheres, pois muitas perderam os empregos no período em que a pandemia estava mais grave. Nos domicílios em que a mulher é a pessoa de referência, por exemplo, 19,3% sofrem com a insegurança alimentar e o pior é que muitas dessas mulheres são as responsáveis por famílias com crianças, as quais podem ter suas habilidades comprometidas com o déficit alimentar.
Outro retrato lamentável da fome é a desigualdade regional, já que a pesquisa indica que a fome é maior nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. Respectivamente, 71,6% e 68% dos lares nestas regiões lidam com algum grau de insegurança alimentar – índices maiores do que a média nacional, de 58,7%.
Possíveis soluções
Como eu não gosto de apontar apenas problemas de ordem política e econômica, reservei essa parte final do texto para indicar possíveis soluções para a questão da fome no país. Antes de tudo, menciono que nós, como indivíduos, também podemos ajudar a atenuar essa situação ao fazer doações para ONG’s locais em nossas comunidades.
Por essa razão, indico fortemente que você, colega leitor, busque informações sobre Organizações Não Governamentais que realizem um trabalho sério no seu município e faça doações para eles. Muitas dessas instituições aceitam doações não só na forma de dinheiro, mas também na forma de trabalho voluntário, doação de roupas usadas e outros objetos como livros ou de alimentos não-perecíveis.
Embora a caridade não substitua o papel das políticas públicas, ela pode minimizar os problemas da sua comunidade, logo atitudes individuais importam e ajudam a reduzir a fome.
Colabore também com informação ao seu redor e sempre incentive os jovens a estudar em cursos técnicos ou superiores gratuitos e a consumir conteúdo de qualidade na internet, já que isso pode impactar positivamente a vida dessas pessoas e fazer com que elas obtenham renda. Lembre: informação é poder.
Com relação ao campo governamental, para superar esse quadro, o país precisaria de um programa que fosse mais efetivo no lugar do Auxílio Brasil ou que o complementasse. Os municípios, por exemplo, poderiam promover a criação de hortas comunitárias cujas produções fossem doadas para pessoas que tenham dificuldade de comprar alimentos.
O governo federal, por sua vez, poderia criar um programa de geração de emprego e renda para os jovens a fim de reduzir os índices de desemprego no país, que ainda atingem cerca de 12 milhões de pessoas. Fica o desejo de que novas iniciativas sejam implementadas e que o país saia desse cenário e viva dias melhores novamente.
Este artigo foi escrito por Caroline Brito e publicado originalmente em Prensa.li.