A peste
Cada momento é raro, precioso e, o simples ato de respirar é surpreendente e majestoso. Como cada elemento a partir da célula consegue se articular com o meio e de um número incrível de mecanismos e proteínas consegue realizar todas as atividades para nos tornarmos individuais e autônomos.
Nesses tempos incertos quando milhares caem todos os dias e que olhamos registros de poucos meses antes em vídeos, filmes e outros meios, nos surpreendemos e nos perguntamos onde estão aquelas pessoas. Que mundo era aquele tão longínquo e estranho, tão recente.
Tivemos não apenas que parar, mas olhar para a portinhola que dá dentro da gente. Ver-se por inteiro, sem a desculpa da correria – ter que ir trabalhar, buscar as crianças na escola, cursinho, faculdade, encontrar amigos e familiares – e adentrar-se pode não ser agradável.
Podemos encontrar nossos monstros e talvez lembrar de quando nasceram e porque eles foram criados. Começamos na gênese como era e porque estou e esse deus arrogante construído em certezas, em planilhas, planejamento, especulação e gestão soçobra em pequena tempestade e agarra-se ao confinamento e isolamento social.
Voltamos à caverna e as luzes projetadas na parede são as dos holofotes que insistimos em deixar acessos e quando se apagarem perderemos a luz guia.
O mundo convulsiona porque foi alimentado com ganância e agora regurgita a violência.
Este artigo foi escrito por Sergio Severo e publicado originalmente em Prensa.li.