A Philosola da Cultura
Olá CulturariEs
No vigésimo ano do século vinte e um da era comum, a humanidade, detentora de potentes saberes e capacidades, se vê surpreendida por algo que entendia, com saber de menos, já ter superado: como um procrastinador, o corpo social de todo o globo desleixou se dos seus aprendizados anteriores e colaborou não só para a redução de condições que impediriam um desastre, mas também, de forma ativa, acelerou algo que eliminaria uma substancial quantidade de membros da social-globalizada irmandade: A Pandemia.
Não há por que pormenorizar os atravancados, dados, linha histórica, crônicas e relatos do feito. Não sou o melhor para isso, mas posso desnudar de forma simples o peso deste assunto dentro das Culturas Artísticas de um modo geral. SIM, nesta Philisola, quanto maior o peso - medida baseada na gravidade (inclusive dos fatos) - mais o impacto. E aqui, se quebra, não se regenera, se reconstrói, mas, sob quais valores?
Faz bem para as manifestações das artes e das culturas o reinvento quando proporcionado por pressões e reinterpretações do Real, mas a negativa em proporcionar condições dignas pela guerra entre a vida e a falência das instituições garantidoras da qualidade de existência, faz suas vítimas. Nas artes e culturas, o espetáculo é assistido pelo vazio e os CulturairEs assumem o arquétipo do Comum, esmorecendo sua luz a cada sufocar.
O que vale para o consumidor de arte? Que vale para o espectador? Um sentir-se bem ou a condição humana do CulturárriE que assumiu o bastidor, o lápis e seu cinzel?
O grande valor agregado às artes e culturas artísticas é claro, a condição de socialmente promover o encontro, o debate saudável de ideias, a percepção do pluralismo que nos cerca, o crescimento de nosso repertório, a sensação de pertencer a si mesmo e seus saberes técnicos e expressivos, mas a quais custas? É possível monetizar este valor? A resposta categórica é Não!
Não, porque é um processo íntimo, individual e gratuito, que acrescenta em troca aquele que contribui para sua execução. Reflito sobre isso com a certeza de não conseguir expressar de forma inteligível um sentimento, de forma indescritível uma emoção, sou e somos, enquanto seres, incapazes de medir o quanto vale este conjunto fruitivo de saberes e capacidades técnicas que desencadeiam uma condição única: a insolubilidade da experiência viva no processo humanizante.
Ora pois, este valor possui peso, gravidade e custos infinitamente superiores (algo como X+1, sendo X qualquer valor imaginável, seguindo ao infinito +1, e +1 e...), tornando na balança a queda inevitável, mesmo diante à Pandemia última. Parafraseando Mário Quintana: “Ela pandemiou, nós Passaremos”, pois ela se fixa, nós fluímos.
A balança pende sempre à invenção, ao novo, ao irreversível quadro de realizações criativas, às adaptações, enfim, ao que sabe fazer um CulturariE. Se serve de consolo, as culturas artísticas, por fim, imortalizam seus feitores enquanto houver difusores, mas até a imortalidade meus companheirEs, até lá, sou um peso vivo no lado da arte e seus sabedores bastiões.
Fotografia: Dovalho - 2017
Este artigo foi escrito por Leo Dovalho e publicado originalmente em Prensa.li.