Pobres de nós
Sempre que morre alguém amigo, conhecido ou famoso, alguém que de alguma forma se interagiu comigo, minha cabeça dá um nó, pois acabo sendo abalado por uma avalanche de emoções e pensamentos, simplesmente porque não consigo compreender as razões de tudo isso: nascimento, vida e morte.
Foi assim com o saudoso Ayrton Senna, por exemplo. Como o sujeito morre tragicamente no auge da carreira, podendo trazer ainda tantas alegrias para um povo tão sofrido como o brasileiro?
Que viagem rápida e estranha é o viver... Da noite para o dia nós perdemos pessoas que amamos, que vivenciaram momentos inesquecíveis conosco, que nos tocaram fundo na alma.
E os anos não passam, os anos simplesmente voam. É como a areia fina, que escorre entre nossos dedos, torna-se poeira e o vento leva.
E então entramos no infinito oceano da inexistência. E deixamos para trás pessoas que nos amam a chorar. Fica um eterno vazio, um nada. E o que resta são apenas fotografias e lembranças...
Pobres de nós, que vivenciamos todas essas incertezas, todas essas dores, todas essas dúvidas.
Pobres de nós, que nascemos, ganhamos muito e depois perdemos tudo.
Pobres de nós, que não somos nada, apenas estamos algo.
Pobres de nós, que temos muito medo, apesar da religião, da fé.
Pobres de nós, que frequentamos templos repletos de pessoas e vazios de bons sentimentos.
Pobres de nós, que vivemos em um mundo com incontáveis religiões, cada uma pregando a sua verdade.
Pobres de nós, que não sabemos com exatidão qual é a certa.
Pobres de nós, que durante a vida sofremos dores físicas e na alma, que às vezes nos sentimos abandonados, perdidos e que, mesmo assim, apesar de tudo isso, agradecemos por existir.
Sim, pobres de nós, que nascemos sem pedir e morremos sem querer...
Este artigo foi escrito por Sandro Mendes e publicado originalmente em Prensa.li.