Por que amamos tanto a era medieval?
Desde os anos 80 a cultura pop está cada vez mais presente na sociedade. Este fenômeno cultural, que não pode mais ser ignorado, possui diversas estéticas. Em maior destaque já tivemos adolescentes no high school se metendo em confusão, guerreiros com sabre de luz pelo espaço, escola de magia, vampiros adolescentes e reinos em conflito. A mudança é constante e a ambientação medieval sempre se mantém presente. Por que este apreço por esta era?
O poder imaginado de uma espada
Ao se pensar na era medieval construída através dos livros, filmes, games e RPGs a figura do homem com uma espada na mão logo torna-se nítida. Pensar que qualquer um com uma espada e bravura pode alcançar glórias e realizar sonhos é muito sedutor. Um viver tão diferente do nosso mundo. Atualmente não existe nenhuma ferramenta capaz de abrir caminho à força para um objetivo ser alcançado. Existe apenas o conhecimento que deve ser lapidado dia a dia.
Hoje os conflitos são resolvidos com conversa e, em último caso, recorrem a processos para resolver uma divergência. Por muitas vezes a mente juvenil ou até mesmo a adulta enxerga injustiça neste processo. Alegam que as instituições são corruptas e que o dinheiro compra os melhores advogados.
Em meio a esta insatisfação o duelo entre espadas parece ser uma opção mais viável, sendo que, o coração mais corajoso costuma ter razão. É um pensamento não só simplório como também infantil, mas cheio de idealização ao ser retratado na ficção.
Luta justa
A respeito do batalhar vou me restringir ao ficcional. Acertar um belo tiro no video game proporciona uma bela satisfação. Sem falar na sensação de poder gerada ao possuir várias armas de fogo e destruir exércitos com o apertar de botões. Que me perdoem os snipers, mas não existe nada como um combate um a um.
Duelo de espadas em frente a um castelo, ocasionados devido a uma guerra, gera uma atmosfera épica. O olho no olho em vez de tiros em longa distância é mais dramático. Este conceito bastante usado em obras que retratam a era medieval, originado desde os primórdios da humanidade, é usado em diversos gêneros da cultura pop: luta com sabres de luz, embate entre samurais e duelos no faroeste.
Rei justo
Se eu começar a falar da insatisfação com os líderes atuais este texto vai tornar-se infinito. Então vou simplesmente afirmar que todos os reis eram justos e preocupados com a plebe? Basta estudar um pouco da história mundial para abandonar esta imagem romantizada. Porém, estou aqui para falar do medieval criado na cultura pop.
Ver um rei no campo de batalha à frente dos soldados é o símbolo perfeito de coragem, sacrifício e liderança. É tão diferente de candidatos a cargos públicos que só aparecem para pedir voto ou para nutrir a adoração dos "fiéis". Acredito que muitos são enganados de quatro em quatro anos por acreditarem na vinda de um rei justo.
Filmes, livros e games também retratam péssimos líderes coroados. Nestas obras a revolução ou o conflito de pequenos reinos contra um império marcam presença. Muitas destas histórias possuem como base uma lógica simples: basta o rei perder o reinado para tudo ser resolvido. Esta simplicidade seduz e já foi muito usada no Brasil. Qual foi o resultado? Os muros que barram a esperança estão cada vez mais grossos enquanto permanecemos enclausurado em um constante cultivo da pobreza.
Magos geram fascínio
Longe de mim querer entristecer o seu dia com as minhas palavras. O que tenho para oferecer com as minhas frases é o desnudar da realidade. Sobre ela eu digo: boa parte da vida é resolver problemas e esperar por mudanças. Nesta verdade o mago, uma figura tão marcadamente medieval e bastante usada em outros cenários, desperta fascínio.
Quem tem conhecimento sobre a magia pode distorcer a realidade. Acima das leis dos homens e da natureza o mago é capaz de gerar fogo para quem tem frio, curar feridas em corpos doentes e infligir maldições piores que a morte em quem é hediondo. Um poder mais forte que qualquer espada e capaz de amedrontar qualquer rei. Quem nunca desejou ter este poder?
A vida simples
O medieval desperta o interesse em alguém pouco interessado em guerreiros, magos ou reis? Muitos desses se apaixonam pela vida simples do campo da era medieval romantizada. Existe o exemplo perfeito para retratar isto: o Condado de Tolkien.
Viver em uma singela casa cercado pela natureza e só se preocupar com o desjejum e o trabalhar na terra é atrativo. Falo isso tendo em vista as horas que são necessárias para ir até um trabalho em transportes lotados para conviver com um serviço e pessoas não tão agradáveis. Um viver estressante sem nenhuma garantia de segurança, sendo que, crises econômicas, funções com a relevância cada vez menor e uma substituição constante por mão de obra mais barata são comuns.
Na obra de Tolkien há o ataque dos orcs. Estes momentos de grande perigo parecem tornam-se pequenos devido a violência atual. A simplicidade da natureza, o exercer uma função que sempre se manterá e o viver em um local onde você conhece todo mundo parece mais tentador. Ninguém consegue mudar para o Condado, mas a procura por casas longe dos centros urbanos não aumentou à toa.
Pensar naquilo que se gosta
É claro que acabar com o fantasiar uma época é uma tolice. Só existe uma necessidade de ter consciência das diferenças entre a visão romantizada e a real. Também é essencial perguntar porquê gostamos de algo. Sempre faço este exercício e surgiu este texto. Qual outro elemento medieval usado nas histórias que você gosta? Existe outro período histórico mais interessante narrativamente? Pense, reflita e se aprofunde.
Este artigo foi escrito por Wesley Nunes e publicado originalmente em Prensa.li.