Por que gestores são demitidos
Alguns sinais chamam a atenção no processo de desligamentos de gestores, gente do nível de gerentes, diretores e até presidentes.
E quais seriam estes sinais?
Para a empresa, o alerta da necessidade de mudar é dado pela perda de mercado, redução da margem de lucro, redução do caixa ou clima organizacional. Para os profissionais, este alerta chega em forma de carta de demissão.
Mas existem indicadores que podem ajudar na percepção da necessidade de mudança. Através deles você pode saber se está se tornando descartável. Esses indicadores devem ser buscados em sua área de atuação, e não na empresa como um todo.
Seguem aqui dois exemplos de situações onde os sinais são claros.
O técnico que virou chefe
Este estilo de liderança, inspirado na concepção mecanicista de Taylor e Fayol, costuma ser assumido quando técnicos são promovidos a posições de gestão nas áreas em que atuavam. Eles não são gestores, apenas se tornaram chefes.
Em geral, sabem mais do que a equipe e por isso se sentem donos da solução para todo e qualquer problema. O Técnico-chefe traz para ele toda a responsabilidade do trabalho e, claro, está sempre ocupadíssimo! Impacienta-se às vezes, é intolerante diante do despreparo da equipe, está sempre de cara emburrada. Normalmente, é o primeiro a chegar na empresa e o último a sair.
Quanto mais incêndios e problemas tiver em sua área, mais valorizado ele se sentirá.
A empresa percebe este desvio e aconselha o treinamentos de gestão de pessoas, treinamentos de liderança, porém, nada ajuda ou acrescenta.
Este estilo de gestão apresenta sérias desvantagens à equipe desse técnico:
• desvio do foco em resultados para foco em obediência ao chefe;
• uso exclusivo das técnicas mais conhecidas por ele;
• atrofia dos subordinados;
• centralização do poder.
No ambiente de trabalho de um técnico-chefe, as reuniões são apenas de cunho informativo, a supervisão dos subordinados é limitada e todos o aplaudem quando ele resolve todas as situações difíceis que surgem.
A equipe por sua vez segue o bonde, afinal, ninguém quer ficar mal com o chefe e, para certificar-se disso, o chefe-técnico controla toda a equipe.
Trata-se, portanto, de um estilo de falsa gerência, pois ele não tem um time de alta performance, mas sim, um time de tocadores de serviços.
O gestor solucionador de problemas
Este é o gestor centralizador. Tudo passa por ele e somente ele autoriza. Sem o seu visto ou assinatura, nada tem o seu devido valor. São aqueles gerentes heróis pois, sem ele, a empresa não funciona.
Gestão para este tipo de líder é fazer acontecer a rotina e as metas. É resolver os problemas decorrentes delas!
Uma justificativa comum é que as metas da empresa estão baseadas na rotina, portanto, somente é preciso executá-la. Quando surgem problemas, a equipe aciona seu chefe líder e acredite, ele estará lá para resolver todos os problemas.
Vamos a um exemplo prático.
São 16h45 e a equipe já está limpando a mesa, desligando os computadores e, principalmente, se livrando dos problemas que não conseguiram resolver durante o dia. Para não parecerem incompetentes e não se atrasar para a saída (afinal, querem começar o dia seguinte tranquilos), já sabem o que fazer: buscar o gestor solucionador de problemas!
Essa é a linguagem deles, pois já perceberam o seu estilo de gestão, seu modus operandi.
Se o problema é pequeno, o gestor pode até desqualificar. Então, como a equipe é esperta, tratam de aumentar muito o problema e falam para o gestor algo semelhante a:
— Chefe, temos um enorme problema aqui e é bom você dar uma olhada, senão amanhã os pagamentos na ocorrem! Não iremos pagar ninguém!
Já são 17h00. O gestor ainda tem uma reunião com seu superior, mas como gestor solucionador, ele responde "Deixe aqui que eu vou cuidar disso."
Às 21h00 ele ainda está no escritório, afinal, ele acha que este é o melhor horário para se trabalhar: não toca telefone, ninguém incomoda e o trabalho rende mais.
Às 21h30, sua esposa telefona, ele recolhe todo o trabalho e vai para casa, para o seu devido descanso.
Durante o jantar, não consegue se concentrar no que a família está conversando, pois está envolvido com os problemas que pedem por solução.
E, para não parecer incompetente, fica até a meia noite resolvendo os problemas.
No dia seguinte, o subordinado procura o gestor para saber da solução dos problemas. Dá para perceber o corpo malhado pela academia o ar descansado por uma noite bem dormida. Ele pergunta:
— Deu para você ver aquele negócio de ontem que falamos?
Quem é o chefe de quem?
Existem mais indicadores que poderão ser tratado em outro momento.
Mas o alerta da necessidade de mudar é explícito. Está no cotidiano da maioria das empresas. Presentes em quase todos os ramos do mundo corporativo. Como os gestores acima que deveriam estar focados em resultados, redução de trabalhos manuais, apresentando ideias, analisando novas formas de fazer o mesmo, trazendo novas tecnologias.
Mas estão focados nas tarefas e no cotidiano.
Este artigo foi escrito por Fernando de Paula e publicado originalmente em Prensa.li.