A efervescente cidade do Rio de Janeiro continua sendo um dos principais polos de transformação cultural, digital e social desde que o Brasil é Brasil.
Palco para a segunda edição do Web Summit Rio, a capital fluminense também receberá, no próximo dia 4 de maio, o encerramento da Celebration Tour — em comemoração aos 40 anos de carreira de um símbolo de inovação e disrupção globalmente conhecido: Madonna.
A pergunta que paira sobre o ar é a mesma para os dois grandes eventos internacionais: por que o Brasil?
O país tem sido protagonista em demonstrar como a riqueza das manifestações culturais pode ser utilizada, por meio da inovação, como uma ferramenta de soft power para impulsionar a imagem do Brasil em todo o mundo.
O que é soft power?
Discutido globalmente desde Carmen Miranda até o K-pop, soft power é um conceito trabalhado pelo cientista político Joseph Nye para se referir a países, marcas e organizações que conquistam territórios muito além dos seus por meio da cultura, do esporte, da língua, da religião e de outros segmentos expressivos.
Entretanto, mais do que uma ferramenta para exportar ideologias e maneiras de ver o mundo, o soft power é um mecanismo político lucrativo — e as narrativas brasileiras têm capacidade de se conectar com um público em constante crescimento: o chamado Sul Global.
“O poder é entendido, classicamente, pelo poder militar, então é o hard power, o poder de você obrigar os outros a fazer o que você quer. O soft power, por sua vez, vai se afirmar em oposição a esse conceito de hard power e vai tentar abarcar outros recursos para convencer sem a necessidade de recorrer à violência. Para mim, o Brasil é o estudo de caso dessa questão, ele não possui capacidade orçamentária nem tecnológica para se impor através do poder militar como outras superpotências. Se fosse apenas pelo poderio militar, o Brasil não conseguiria explicar a posição de destaque que tem. Entretanto, o Brasil possui outros recursos de poder que justificam o seu destaque e que são de soft power, ele possui uma boa imagem com os outros países pela cultura e o povo brasileiro”, define o professor da USP Caio Gracco.
O poder sutil da cultura vai além daquilo que gostamos de ouvir, ler e assistir. As influências da economia criativa atravessam a maneira como enxergamos os fatos, despertam os interesses que ditam nossos comportamentos de consumo e conduzem o prisma político das relações, das inovações e dos negócios.
O melhor lugar do mundo é aqui
No Web Summit Rio, o painel “Technology and culture: Shaping Brazil’s global image” reuniu Marcelo Freixo, Didi Wagner e Gilberto Gil para discutir representações autênticas da nossa cultura mundo afora.
"Agradeço a vida por me trazer para essa época que eu vivo. Que a benignidade das inovações prevaleçam à guerra, ao desencontro e à violência." — Gilberto Gil
As ferramentas tecnológicas servem como novos meios de conexão, e o que há de mais sofisticado na tecnologia é o encontro. Para Gil, estamos compulsoriamente ligados ao planeta e, do ponto de vista global, o Brasil é um país de enorme importância para o desenvolvimento.
Segundo Freixo, o debate ambiental e acerca da responsabilidade climática tem muito a ver com conexão, e as novas ferramentas tecnológicas democratizam ações e tendências. Indicando iniciativas como a Embratur Lab, a Rota Literária e a Rota do Samba, ele também ressaltou a importância de pensar um Brasil com S de sabor e de sensibilidade, como uma nova rota de redescobrimento do país. Um Brasil bom para visitar, trabalhar, morar e viver. Parafraseando Gil — que parafraseou Bob Marley: “O possível dentro do bom e do melhor”.
A mensagem que ficou para a plateia lotada do Center Stage do Riocentro é que a diversidade é a contribuição brasileira para a construção harmônica de novas conexões.
O Rio de Janeiro continua sendo…
O mês de abril de 2024 colocou o Brasil no holofote global, do Web Summit Rio à Madonna em Copacabana. O impacto dos dois eventos internacionais no Rio de Janeiro vai desde as vitrines do Saara — tradicional comércio popular da cidade — até à indústria hoteleira. São inúmeros souvenirs feitos para a comunidade internacional levar uma lembrança carioca para casa entre broches, pochetes e camisetas estampadas com o rosto da Rainha do Pop.
Há 12 anos sem pisar em solo brasileiro, Madonna escolheu as areias da praia de Copacabana para comemorar seus 40 anos de carreira com um show gratuito para aproximadamente 1 milhão de pessoas. Com patrocínio do Itaú Unibanco, a empresa também aproveita a ocasião para celebrar seus 100 anos de existência. Ao lado de Jorge Ben Jor, Ronaldo, Fernanda Montenegro, Ingrid Silva e Marta, Madonna é a estrela da ação “Feito de Futuro”.
O soft power brasileiro é cosmopolita e se conecta com uma diversidade extraordinária — o país tem uma capacidade ilimitada de exportar narrativas inspiradoras. Em tempos de segregação, de desencontro e de violência, o Brasil representa a conexão. É um país que faz com que religiões se encontrem e resultem em festa e música, e não guerra. Uma lição para o mundo.