Por que ROC e não Rússia?
Se você notou atletas da ROC competindo nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020 e não tem certeza de qual país isso representa, você não está sozinho.
A sigla significa “Comitê Olímpico Russo”. O uso dessa abreviação é uma brecha que permite aos atletas russos competirem nas Olimpíadas enquanto seu país está banido dos Jogos por causa de seu escândalo de doping.
Existem algumas regras específicas que o ROC deve seguir para deixar claro que não representa o país da Rússia.
Mas, primeiro, vamos relembrar como a Rússia chegou nessa situação.
O início de tudo
Em 2014, a corredora de 800 m Yulia Stepanova e seu marido Vitaly, um ex-funcionário da Agência Antidopagem Russa (RUSADA) apareceram em um documentário alemão e falaram sobre o que mais tarde foi descrito como um dos mais "sofisticados programas de doping" na história do esporte.
Dois anos depois, Grigory Rodchenkov, ex-chefe da RUSADA disse ao The New York Times que a Rússia administrava um esquema de doping cuidadosamente planejado e patrocinado pelo Estado.
Em 2019, a Agência Mundial Antidoping (WADA) baniu a Rússia de todas as competições esportivas internacionais por quatro anos após um escândalo de doping.
A WADA disse que havia provas conclusivas de que a Rússia havia adulterado dados de testes de drogas que mostraram doping patrocinado pelo estado para mais de 1.000 atletas durante anos.
Tudo foi baseado em um relatório de 2016 que descobriu uma rede de doping esportiva patrocinada pelo estado de forma ampla e sofisticada.
Mais de 100 atletas russos foram proibidos de participar das Olimpíadas do Rio de 2016, que ocorreram logo após a reportagem sobre o doping patrocinado pelo Estado.
O período abrangeu dois Jogos Olímpicos - Londres e Sochi - e incluiu uma variedade de ações antiéticas, como atletas trocando sistematicamente amostras de urina contaminada, às vezes usando "um buraco na parede nas Olimpíadas de Sochi".
Como resultado, a Rússia foi sujeita a uma variedade de punições. Além de ter perdido várias medalhas anteriores e ter seus atletas banidos dos Jogos de Inverno de 2018 pelo Comitê Olímpico Internacional.
A WADA determinou que a Rússia não poderia usar sua bandeira, nome, hino ou oficiais em competições por quatro anos. A decisão foi a pena mais severa até agora.
Essa punição estava relacionada a inconsistências nos dados recuperados pela WADA em janeiro de 2019, do laboratório de Moscou.
O comitê de revisão de conformidade da WADA sugeriu sanções porque a Agência Antidopagem Russa falhou em cooperar totalmente durante as investigações no país.
No ano passado, o Tribunal de Arbitragem do Esporte cortou a proibição da Rússia pela metade, para dois anos, após uma apelação.
A proibição termina em 16 de dezembro de 2022. Até então, os atletas russos não podem competir com o nome, bandeira e hino nacional de seu país nas Olimpíadas de Tóquio em 2020.
A proibição atual também significa que a Rússia não pode ser representada como um país na Copa do Mundo de 2022 ou nas Olimpíadas de Inverno de 2022. Isso quer dizer que bandeira e o hino da Rússia não estarão nas Olimpíadas até os jogos de 2024 em Paris.
De acordo com um relatório do The Independent, a Rússia será reintegrada após o término do prazo de proibição, se respeitar e observar todas as sanções impostas, pagar suas multas e contribuições e começar a aderir aos regulamentos da WADA.
A brecha para competir
Sob a proibição, os atletas russos tiveram que adotar uma postura como atletas neutros - o que significa que eles não representam tecnicamente um país específico - se puderem provar que não têm ligação com o escândalo de doping.
É por isso que 335 atletas foram para as Olimpíadas sob o nome ROC.
A equipe ainda usa as cores do país, branco, azul e vermelho, e conta com atletas que representaram a Rússia nas Olimpíadas anteriores.
Mas, em vez da bandeira da Rússia, a bandeira do time exibe suas cores em uma chama olímpica colocada acima dos cinco anéis olímpicos.
Se um atleta ganhar o ouro, a sinfonia Nº1 de Tchaikovsky será tocado em vez do hino nacional russo.
“Todas as exibições públicas do nome do participante da organização devem usar a sigla 'ROC', não o nome completo 'Comitê Olímpico Russo'”, afirmam as regras do COI.
Essa não é a primeira vez que atletas russos jogam sob outro nome. Apesar de as circunstâncias serem outras, os atletas já representaram o Império Russo, a União Soviética e a Equipe Unificada, de acordo com a página da equipe no site das Olimpíadas.
A situação ao qual os atletas russos estão abriu portas para discutir questões acerca do que é, ou não justo.
Ao mesmo tempo que essa nova leva de atletas tenta se superar a cada conquista e medalha na intenção de restaurar o orgulho, como confiar que nada disso irá acontecer novamente?