Por que você não deve investir em pessoas ou comunidades racistas?
A respeito das determinações do fórum de Davos em 2020, isto é, na esteira do capitalismo stakeholder – aquilo de que não se deve cooperar com empresas, grupos ou pessoas que adotam práticas descriminatórias (e, portanto, racistas) – configura um modo novo de ser e estar no mercado.
Ora, a medida ressoa como algo realmente interessante a todo indivíduo engajado de alguma forma com as lutas antirracistas. Todavia, por que não se deve investir em pessoas ou comunidades racistas?
Pergunta: buscar as razões para algo tão obvio não se assemelha a uma afronta?
Resposta: seria uma afronta se o racismo não fosse algo tão enraizado no Brasil e como parte da cultura deste lugar.
Desde que, por exemplo, o samba fora gestado em terreiros de candomblé e em rodas de bambas como uma espécie de resistência cultural e histórica e contando com a ilustre presença de figuras como Hilária Batista de Almeida que a discussão sobre a importância do negro na cultura brasileira parece realmente algo sem lugar.
Em outras palavras: aqueles negros vindos de África no século XVI e que inicialmente tinham um lugar específico na cultura brasileira – e este lugar era o do trabalho escravo – quando se viram parcialmente livres construíram aquilo que se consolidou como a mais autentica expressão da cultura brasileira: isto é, o samba.
A palavra “samba”, por sua vez, é um verbo conguês da 2ª conjugação e significa adorar, invocar, implorar, queixar-se, rezar. E esta queixa e adoração, por continuidade, que surgiu nos terreiros de candomblé e certamente nos quintais de Hilária Batista* configura o mais consistente argumento histórico, cultural e econômico para que não se invista em pessoas ou comunidades racistas.
O racismo atrofia o desenvolvimento cultural, social e humano. O capital cultural não se beneficia de práticas racistas assim como o direito humano, quando praticado com honestidade, é radicalmente afrontado por indivíduos ou estruturas que insistem em propagar e sustentar práticas descriminatórias.
A violência, por continuidade e em outra perspectiva, que aflige muitos, por exemplo, é fruto de um modo de ser que patrocina a exclusão de negros, negando ora educação e trabalho de um lado e os criminalizando ou os empurrando para a criminalidade de outro.
Esta violência também tem uma origem racial se você, prezado leitor, for razoavelmente atento aos caminhos e as opções distintas que são diariamente oferecidos a negros e brancos.
Em outras palavras, o racismo adestra pessoas para o crime e em nada contribui para o desenvolvimento humano e econômico nacional.
Portanto, prezado leitor, se de algum modo você puder boicotar pessoas, estados e alguma estrutura racista, pelo bem do desenvolvimento humano, social e econômico: faça-o.
*Hilária Batista, por sua vez, precisou sair do estado da Bahia, território profundamente rico em práticas descriminatórias (isto é, racistas) para que o samba historicamente brotasse em outro lugar.
Referência
SIQUEIRA, magno Bissoli. Samba e identidade nacional: das origens à Era Vargas. São Paulo: Editora Unesp, 2012.
Este artigo foi escrito por Gilson Santos e publicado originalmente em Prensa.li.